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Viagem de Bolsonaro ignorou Itamaraty e dificulta acesso a informações
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A viagem de Jair Bolsonaro aos EUA, usando um avião oficial da Força Aérea Brasileira, ignorou o Itamaraty, órgão de estado que é sempre acionado para qualquer missão de um presidente fora das fronteiras nacionais.
Membros do gabinete do Ministério de Relações Exteriores confirmaram ao UOL que a chancelaria não esteve envolvida em nenhuma das etapas da organização da viagem, nem para preparar a chegada do presidente em solo americano, para coordenar o voo com as autoridades dos EUA e nem para administrar a gestão da permanência do chefe de estado em outro país.
Por qual motivo isso seria relevante? Cabe ao Itamaraty estabelecer as bases e até a segurança de qualquer viagem presidencial ao exterior. Para que isso ocorra, é de praxe que a chancelaria:
- Entre em contato com o governo anfitrião que irá receber o presidente;
- Envie uma delegação avançada, dias antes, para estabelecer a rota da viagem, local de hospedagem e segurança;
- Permita estabelecer qualquer agenda que o presidente queira manter no exterior;
- Tenha um controle sobre todos os brasileiros que fizeram parte da missão;
- Garanta o atendimento, hotel e serviços para os demais tripulantes do voo e da equipe técnica e de assessores que façam a viagem ao lado do presidente.
Para experientes embaixadores brasileiros, que pediram anonimato, uma viagem sem a presença da diplomacia pode significar dificuldades para que informações possam ser eventualmente publicadas, depois de anos de documentos que devem ser mantidos em sigilo.
"Quanto menos gente envolvida, menor a chance de ficar rastros sobre como uma decisão foi tomada, quem esteve presente e como tal viagem ocorreu", relatou um ex-responsável pela assistência a presidentes brasileiros.
Para outros dentro do Itamaraty, a deliberada decisão de não envolver a chancelaria também reforça o "caráter pouco republicano" da viagem. Por se tratar de uma operação dentro de um regime democrático, usando recursos públicos e aviões do estado, vozes dentro do Ministério das Relações Exteriores não deixam de alertar sobre a necessidade de que as informações sobre a operação até Orlando (EUA) sejam esclarecidas.
Delegações estrangeiras que já começaram a chegar em Brasília também comentaram a viagem de Bolsonaro ao exterior, lamentando o simbolismo de um processo democrático que não completa seu ciclo.
Para europeus, a viagem antecipada de Bolsonaro não faz bem para a imagem externa do Brasil. "Ainda que haja confiança na retomada de um processo sério de restabelecimento da ordem democrática com (Luiz Inácio) Lula (da Silva), a foto de um avião presidencial decolando de forma pouco clara da a impressão de uma república bananeira que, muitas vezes de forma injusta, ainda permeia o imaginário popular pelo mundo sobre a América Latina", admitiu um negociador estrangeiro.
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