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Jamil Chade

REPORTAGEM

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Depois dos EUA, políticos pressionam para que Itália não receba Bolsonaro

Bolsonaro ao lado de Matteo Salvini - Gabinete de Matteo Salvini/Via AFP
Bolsonaro ao lado de Matteo Salvini Imagem: Gabinete de Matteo Salvini/Via AFP

Jamil Chade e Janaína Cesar

10/01/2023 17h11

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Não é apenas a Casa Branca que está sob pressão por conta da presença em território americano do ex-presidente Jair Bolsonaro. A questão passou a dominar o debate diplomático também na relação entre Brasil e Itália, país de origem da família que esteve no poder no país até o final de 2022.

O temor de uma parcela da classe política é de que, com um governo de extrema direita e aliados em Roma, Bolsonaro possa encontrar um destino para sua família, se tiver de deixar Orlando, onde se encontra hoje, ou se tentar evitar a Justiça no Brasil.

Ao UOL, diplomatas europeus confirmaram que esse cenário de um desembarque do ex-presidente na Itália preocupa, principalmente diante da reação que teriam diversas forças políticas no continente. No Parlamento Europeu, deputados negociam neste momento a possibilidade de incluir a crise institucional no Brasil na agenda de reuniões oficiais do Legislativo.

Para alguns dos parlamentares, um dos caminhos seria o de propor uma moção de censura contra Bolsonaro. O ato teria apenas um valor simbólico. Mas elevaria a pressão sobre qualquer governo que acenasse para receber o ex-presidente.

O deputado do partido Verdi e Esquerda, Angelo Bonelli, está na cola do governo italiano desde dia 25 de novembro passado, cobrando respostas em relação ao pedido de cidadania feito pela família Bolsonaro. Ainda naquela ocasião, o governo informou que o ex-presidente não havia feito o pedido, somente os filhos.

Mas diante da possibilidade de que Bolsonaro seja expulso ou extraditado dos EUA e de que peça a cidadania italiana para se livrar da justiça brasileira, Bonelli voltou ao parlamento para pressionar o governo.

Numa intervenção nesta semana, ele deixou claro a preocupação com a possibilidade de um desembarque dos Bolsonaros em Roma.

Como resposta, o ministro das Relações Exteriores e vice-primeiro-ministro, Antonio Tajani, falou hoje na Rádio Anch'io e disse que Bolsonaro nunca pediu a cidadania italiana. "Existem leis que a autorizam e existem pessoas que têm o direito de se tornarem cidadãos italianos se o pedirem", disse.

Mas segundo Bonelli, mesmo diante da lei que garante o direito ao pedido, "se o governo desse a cidadania italiana aos filhos de Bolsonaro ou mesmo ao ex-presidente, seria um fato de gravidade sem precedentes, que levaria nosso país a ficar completamente isolado, criando um grave problema de relações internacionais".

Para o deputado italiano, o governo deve ser claro e não permitir que a cidadania seja concedida à família Bolsonaro. Para isso, Bonelli ja começou a preparar um abaixo assinado entre aos colegas parlamentares e depois encaminhado ao ministro Tajani solicitando que seja negada cidadania dos filhos.

Segundo uma fonte do Ministério da Justiça italiano, mesmo que a cidadania seja concedida aos filhos e, em futuro, ao ex-presidente, eles poderão ser extraditados porque é previsto no acordo bilateral com o Brasil. "O acordo prevê a extradição porque não é vinculado com a constituição (diferente do Brasil onde o artigo 5 nega a extradição do próprio cidadão)", disse.

"A decisão é a descrição do ministro da Justiça", disse à reportagem de UOL. E existe um precedente não tão distante no tempo que comprova o fato: Henrique Pizzolato. Ele foi preso na Itália e tem cidadania italiana. Mas após uma batalha judicial que durou quase dois anos, ele foi mandado de volta ao Brasil.

Não é só a bancada da oposição que não quer saber de Bolsonaro no país. Tramita na Corte de Cassação o pedido feito pelos cidadãos de Anguillara Veneta para que a cidadania honorária concedida ao ex-presidente pela prefeita do partido de extrema direita Liga Norte, Alessandra Buoso, em outubro do ano passado, seja revogada.

Buoso se baseou nas origens dos antepassados de Bolsonaro para lhe conferir a honraria. O feito da prefeita levantou tanta polêmica que, no dia da entrega da homenagem, a sede da prefeitura amanheceu com esterco nas paredes e na entrada do prédio.

Bolsonaro preferiu ir ao evento na minúscula cidade italiana e evitar, em 2021, a Conferência da ONU sobre o Clima, em Glasgow.