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Jamil Chade

REPORTAGEM

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Macron acena para Lula com plano de paz na Ucrânia; Brasil recebe Lavrov

Presidentes Lula e Biden fazem reunião na Casa Branca, junto a outros representantes de governo - Divulgação/Ricardo Stuckert/Planalto
Presidentes Lula e Biden fazem reunião na Casa Branca, junto a outros representantes de governo Imagem: Divulgação/Ricardo Stuckert/Planalto

Colunista do UOL, em Washington

11/02/2023 09h23

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Apesar de a proposta do governo brasileiro de criar um grupo para negociar o fim da guerra na Ucrânia não ter empolgado o presidente norte-americano Joe Biden, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ganhou um aliado para a ideia de pelo menos falar sobre a paz: a França.

Nas redes sociais, o presidente francês Emmanuel Macron comentou neste sábado uma postagem do brasileiro, no qual explicava que havia falado da necessidade de estabelecer a paz na Ucrânia. Em resposta, Macron deu sinais positivos, afirmou que existe um plano com dez pontos e que França e Alemanha estariam dispostos a dialogar.

Lula disse que conversou com Biden sobre "o que já tinha dito ao presidente Emmanuel Macron e ao chanceler [alemão] Olaf Scholz sobre a necessidade de criarmos um grupo para trabalhar pela paz e o fim da guerra no mundo". "É preciso parar de atirar, se não, não tem solução".

Como resposta, Macron afirmou que a paz estava "no coração das discussões em Paris durante a visita histórica do presidente Zelensky, com o chanceler Scholz". Segundo ele, a Ucrânia mostrou "coragem ao iniciar uma conversa com seu plano de paz de dez pontos".

"Vamos juntos nessa base, presidente Lula", completou o francês.

Lula leva proposta para China

No caso brasileiro, a proposta é um pouco diferente. Lula acredita que a mediação precisa acontecer por países que não estão envolvidos no conflito. Nas próximas semanas, o brasileiro ainda irá levar a proposta para o governo da China quando se reunir com o presidente Xi Jinping. Já em abril, o Itamaraty vai receber o chanceler russo, Sergey Lavrov.

Lula encampou a ideia que o timorense José Ramos-Horta, prêmio Nobel da Paz, lhe apresentou de criar um bloco com países que não estão envolvidos na guerra para permitir a criação de canais de diálogos.

Nos EUA, a proposta é vista com hesitação e a Casa Branca insiste que qualquer grupo precisa, antes, reconhecer que a Rússia é a agressora e que só existe uma vítima: o povo ucraniano.

Lula, agora, irá levar a mesma proposta aos chineses. O presidente irá para Pequim no final de março e a esperança é de que o tema possa ganhar força. Brasília não considera que Xi esteja envolvido de forma direta no conflito e, portanto, também poderia participar como facilitador de um diálogo. Outros países seriam a Turquia ou Indonésia.

Outra etapa de suas conversas ocorrerá no Japão. Lula será convidado pelo G7 para sua cúpula, depois de anos de ausência do Brasil.

Lavrov no Brasil

Outra etapa da conversa será diretamente com os russos. O chefe da diplomacia do Kremlin pediu para fazer uma visita ao novo governo brasileiro, na esperança de retomar o diálogo.

Moscou sabe da postura de Lula de não se envolver no fornecimento de munições para os ucranianos e busca manter uma relação sobre temas como comércio de fertilizantes e outros pontos de interesse.

Mas, segundo fontes, também ouvirá do governo Lula que o Brasil considera que houve uma violação do direito internacional.

De fato, o governo brasileiro aceitou incluir uma referência direta aos russos na nota conjunta emitida com os EUA depois do encontro entre os presidentes Lula e Biden.

No texto, os presidentes "lamentaram a violação da integridade territorial da Ucrânia pela Rússia e a anexação de partes de seu território como violações flagrantes do direito internacional e conclamaram uma paz justa e duradoura".

"Os líderes expressaram preocupação com os efeitos globais do conflito na segurança energética e alimentar, especialmente nas regiões mais pobres do planeta e externaram apoio ao funcionamento pleno da Iniciativa de Grãos do Mar Negro", afirmam.

Lula, que vinha adotando uma postura também de crítica à OTAN, optou por não tocar no assunto de forma pública. Mas, em suas últimas declarações, passou a designar de maneira clara a Rússia como a potência invasora.