Jamil Chade

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Reportagem

Foto do G20 é declaração de poder, alianças, desafetos e geopolítica

Nada na diplomacia é por acaso. Nesta segunda-feira (18), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi o anfitrião da cúpula do G20, grupo que reúne as maiores economias do planeta e onde, na prática, o destino da humanidade é negociado.

Parte da mensagem, porém, não vem em uma declaração trabalhada ao longo de meses. Mas na escolha do posicionamento de cada um dos líderes na foto de família dos líderes do G20.

Como é praxe em qualquer evento, o anfitrião está ao centro, e foi esse espaço que Lula ocupou.

Mas a escolha de quem está ao seu lado chamou a atenção. Na primeira fila, o brasileiro colocou os líderes da Colômbia, Turquia, Índia, África do Sul e China. Todos países emergentes e que, na disputa interna do G20, lutam por mais espaço nas decisões mundiais.

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Imagem: Ricardo Stuckert/Divulgação

Os maiores líderes europeus —Emmanuel Macron e Olaf Scholz— aparecem apenas na segunda fila, ainda que no centro. Ambos são considerados aliados de Lula em muitos dos temas internacionais.

Mas é a posição ligeiramente deslocada de Javier Milei que deixa claro que ele não faz parte dos líderes mais aliados de Lula. O argentino está apenas na segunda fila, preterido pela Colômbia, que aparece num lugar de mais destaque.

Milei tentou sabotar a negociação e fez questão de criticar o processo conduzido por Lula.

A praxe diplomática estipula que a parte marginal da foto seja destinada para as organizações internacionais. Assim, nos cantos extremos do palco montado estão os chefes de algumas das maiores agências do mundo. Mas, mesmo ali, a geopolítica mostra seu peso.

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Os organizadores brasileiros colocaram a presidente do Banco do Brics, Dilma Rousseff, na primeira fila, numa espécie de declaração de que a nova instituição financeira tem um papel destaque.

Ela aparece numa posição de mais relevância que Kristalina Georgieva, a diretora-gerente do poderoso FMI (Fundo Monetário Internacional).

Perto dela estava ainda o diretor-geral da OMS (Organização Mundial da Saúde), Tedros Gebreyesus, alvo de duros ataques por parte do bolsonarismo e da extrema direita mundial.

Também na primeira fila, mas do lado oposto, a foto traz o secretário-geral da ONU, António Guterres. Abalado por golpes contra a instituição que comanda, o português tenta manter a credibilidade das Nações Unidas e promover sua reforma. Não por acaso, ele aparece também em primeiro plano, numa mensagem de que a ONU não deve desaparecer.

O grande ausente da foto foi Joe Biden, presidente norte-americano. Ele, assim como os líderes do Canadá e da Itália, não chegaram a tempo para a foto.

Já a Rússia apenas aparece na última fileira, por não ser representada por chefe de Estado. Vladimir Putin não viajou.

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Na foto, quase todos estão sorrindo. Mas num mundo em profunda crise e num multilateralismo em estado de alerta, cada um ali sabe que seu posicionamento representa muito mais que uma escolha aleatória de um fotógrafo diante do quadro do Pão de Açúcar.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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