Recuo da Argentina em ação contra fome pega delegações de surpresa
A mudança de atitude da Argentina em relação à iniciativa do presidente Lula de criar uma ação para erradicar a fome surpreendeu as delegações do G20. O presidente Javier Milei decidiu ingressar no programa na última hora, após o lançamento oficial do projeto.
O UOL antecipou que a Argentina havia sido o único país entre os que integram o G20 a não assinar o documento, lançado oficialmente na manhã desta segunda (18). Batizado de Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, resgata um plano de Lula iniciado em 2004.
Até a tarde do domingo (17), véspera do início da cúpula do G20, o governo federal contava com a Argentina na aliança. O tema seguia sendo analisado pelo governo argentino, mas não havia uma sinalização contrária.
No entanto, Milei não ingressou oficialmente, e o documento foi lançado com a assinatura de outros 81 países. Agora, são 82.
A decisão de Milei de assinar o termo na última hora surpreendeu até mesmo integrantes do governo argentino. Uma fonte foi informada pela reportagem sobre a assinatura do acordo.
Na diplomacia, esse tipo de gesto pesa sobre as relações diplomáticas dos países.
Milei e Lula não têm boa relação. O argentino não pediu uma reunião bilateral com o brasileiro durante o G20 —prática comum neste tipo de evento. Segundo o Itamaraty, quase todos os países pediram. Eles ainda não se reuniram desde a posse de Milei, no fim de 2023.
Eles tampouco conversaram na abertura da cúpula. Milei deixou o hotel por volta de 10h15 —o evento começa às 10h, mas outros líderes também atrasaram. Ele cumprimentou Lula e ficou conversando com o ministro das Relações Exteriores da Argentina em uma área reservada para chefes de Estado.
A adesão, porém, não ocorreu sem que Milei emitisse um comunicado próprio do que ele entende ser a Aliança. O argentino ainda aproveitou para fazer críticas ao "socialismo". Segundo negociadores, o documento argentino não tem qualquer validade legal dentro do G20 e apenas representa uma "explicação".
"A República Argentina se compromete a lutar contra a fome e a pobreza por meio de reformas de mercado que, além de sua comprovada eficácia na consecução do duplo objetivo desta Aliança, respeitem a igualdade de direitos de todos os indivíduos. A República Argentina se une a esta Aliança Global recordando que isso não implica a aprovação coletiva de instrumentos ou programas de políticas específicas", afirma o documento paralelo emitido pelos argentinos e obtido pelo UOL a partir de negociadores.
"As políticas socialistas violam os direitos dos indivíduos e, ao sufocar as economias dos Estados nacionais que as implementam, continuam a causar um subdesenvolvimento insustentável que impede qualquer luta viável contra a fome e a pobreza", diz o texto.
Combate à fome era pacificado, mas outros temas são espinhosos
O governo argentino está resistente a outros temas do G20, fora o combate à fome.
Os negociadores das comitivas passaram horas em reuniões para discutir pontos do documento final que será divulgado ao fim da cúpula, na terça (19). As conversas avançaram, mas a Argentina está travando a negociação em três pontos: questões de gênero, taxação de super-ricos e Agenda 2030 da ONU — uma espécie de guia para a comunidade internacional com metas para o desenvolvimento sustentável.
Isso tem levantado questões sobre se o país de fato vai assinar o documento final do G20. O governo de Milei já se recusou a assinar dois documentos durante o fórum, um sobre igualdade de gênero e outro que aborda o desenvolvimento sustentável.
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Quero receberHistoricamente, a Argentina não se opõe a essas questões. No entanto, o governo de Javier Milei tem mudado os rumos da política externa do país. Ele se diz "antiglobalista", termo usado por alguns líderes para criticar organizações multilaterais e a ordem global definida após a Segunda Guerra Mundial.
Para eles, a globalização destrói a característica nacional do país e limita a ação do Estado. O principal expoente deste grupo é o americano Donald Trump, de quem Milei já se declarou fã.
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