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Jamil Chade

REPORTAGEM

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Lula acerta ligação com Zelensky; Kiev aceita proposta brasileira na ONU

Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky  - Yuriy Dyachyshyn/AFP
Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky Imagem: Yuriy Dyachyshyn/AFP

Colunista do UOL

18/02/2023 10h47

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve telefonar nos próximos dias para o presidente da Ucrânia, Volodymir Zelensky, em mais um sinal do esforço do Brasil de se posicionar como interlocutor para um eventual processo de mediação na guerra que completa um ano na Europa.

Há um pedido do líder ucraniano para uma conversa com o brasileiro desde a posse de Lula. Mas a oferta ganhou forma depois que os chanceleres dos dois países se reuniram, neste sábado, em Munique (Alemanha).

A data da conversa deve ser definida depois do Carnaval no Brasil. Em abril, o chanceler russo, Sergei Lavrov, fará também uma visita ao país.

Em entrevista ao canal CNN, Lula disse que a Rússia cometeu um "erro histórico" de promover a invasão ao território ucraniano e, em notas conjuntas com outros governos, o Brasil passou a aceitar o fato de que o agressor é o governo de Vladimir Putin. Mas Brasília insiste que isso não significa que o país entrará na guerra em apoio aos ucranianos.

O governo de Kiev também sinalizou de forma positiva com a proposta do Brasil de incluir, pela primeira vez, um apelo pelo fim das hostilidades em uma resolução que será colocada para o voto na Assembleia Geral da ONU, na semana que vem.

A resolução marca um ano do conflito e reforça a condenação contra a invasão. Assim como o Brasil fez em 2022, o Itamaraty deve voltar a dar seu apoio ao texto, diante do sinal verde dos ucranianos para aceitar o pedido de um fim das hostilidades.

Em Munique, durante a principal conferência de segurança no mundo, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, manteve mais de uma dezena de reuniões bilaterais, nas quais o tema da guerra foi tratado. Um dos encontros foi justamente com o chanceler ucraniano, Dmytro Kuleba.

Ao contrário do que ocorreu nas primeiras semanas do governo Lula, os interlocutores estrangeiros abandonaram os pedidos ao Brasil por munição para a Ucrânia. Segundo fontes, a comunidade internacional já "precificou" a postura do Itamaraty e sabe que não haverá um envolvimento direto do Brasil na guerra.

Mauro Vieira esteve com o chefe da diplomacia da Europa, do Reino Unido e de diversos outros países nos últimos dois dias. Os encontros ocorrem depois que Lula já conversou com os líderes da França, Alemanha e EUA sobre sua posição e sua insistência de que um grupo deve ser formado para servir como mediadores da guerra. O chanceler brasileiro, em entrevista exclusiva ao UOL, deixou claro que não acredita que nenhum país sozinho terá como atuar como mediador.

Nova ofensiva antes de uma chance de paz

Para governos estrangeiros, a postura do Brasil de manter-se fora do conflito pode ser "útil", quando a situação entrar num momento de busca pela paz. Mas a percepção é de que isso não ocorrerá neste momento.

De ambos os lados, existe uma preparação para uma ofensiva e, portanto, uma chance de paz deveria ocorrer apenas em dois meses.

Nesse momento, portanto, a interlocução do Brasil pode ser relevante.

O governo ucraniano trabalha com seus parceiros europeus para que um plano com dez pontos possa ser o início de um diálogo de paz. Mas o governo brasileiro acredita que não sejam necessários todos os itens para que a mediação possa começar.

Ao longo do governo de Jair Bolsonaro, o Brasil também se manteve distante da guerra. Mas evitou contatos com o governo ucraniano. O ex-presidente chegou a visitar Vladimir Putin, dias antes da guerra eclodir.