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Investimento saudita anunciado por Bolsonaro nunca ocorreu, diz relatório
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Apesar de ter sido presenteado meses depois com pedras preciosas no valor de R$ 16,5 milhões para sua esposa, Jair Bolsonaro fracassou em conseguir resultados concretos de sua viagem para a Arábia Saudita, ainda no início do governo.
Num documento que examinou a política externa brasileira nos quatro anos de Bolsonaro e produzido pela equipe de transição no Itamaraty, a constatação foi de que os anúncios feitos na época de que os sauditas investiriam no país jamais foram traduzidos em realidade.
O informe admite que houve "aprofundamento das relações com países do Golfo". Mas deixa claro que a situação das viagens aos sauditas não resultou em ganhos para o país.
"No caso dessa aproximação, o investimento político (duas missões presidenciais) não se traduziu na atração de investimentos alardeada pelo governo Bolsonaro. Com a Arábia Saudita, os investimentos não se concretizaram e as exportações brasileiras têm enfrentado restrições, sobretudo no setor de proteína animal", disse.
Naquele momento, Bolsonaro chegou a falar que estava voltando ao Brasil com a promessa de investimentos.
Numa coletiva de imprensa no final de outubro de 2019, os então ministros da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, e das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, anunciaram que a Arábia Saudita decidiu investir 10 bilhões de dólares no Brasil.
Isso aconteceria supostamente por meio do fundo soberano do país, alimentado pela receita do petróleo. Naquele momento, o tom era de mostrar que existia uma suposta confiança internacional em relação a Bolsonaro, algo que jamais se confirmou.
"Ao longo da última década, não teve nada parecido com isso", disse Onyx. Para ele, o fundo era uma "confirmação gigantesca" da retomada da confiança externa no país.
Um dos maiores potenciais de aumento de exportações de carnes brasileiras, o mercado saudita não promoveu a abertura desejada.
Na mesma viagem, Bolsonaro disse que se considerava como "quase irmão" do príncipe saudita, Mohammed bin Salman, acusado de graves violações de direitos humanos e de ter ordenado a morte de um jornalista.
No documento da equipe de transição, a análise aponta que atração de investimentos emiratis e cataris, por outro lado, mostrou-se mais bem-sucedida.
No levantamento, o grupo ainda criticou a forma pela qual o Brasil se alinhou aos interesses de Israel, afetando a capacidade de o país se manter como um interlocutor na região.
"A partir de 2019, as relações do Brasil com Israel estiveram associadas à inflexão nas posições históricas do Brasil acerca da questão do Oriente Médio, refletida em votos favoráveis a posicionamentos israelenses em organismos internacionais, notadamente na Assembleia Geral da ONU e no Conselho de Direitos Humanos, mas com reflexo também na AIEA", afirmou.
"Tal curso de ação, adotado sem contrapartida, contribuiu para minar a credibilidade e o papel do Brasil como ator com influência nos dossiês médio-orientais e não resultou em benefícios na relação com Tel Aviv, que já era intensa antes dessa inflexão", disse.
"Ao contrário, os padrões de votação e a possibilidade de transferência da embaixada em Israel para Jerusalém, anunciada durante a campanha presidencial pelo então candidato Bolsonaro, provocaram atrito junto à Autoridade Palestina e outros países árabes", alertou.
"Motivaram, também, moções condenatórias da Liga dos Estados Árabes (LEA) e o cancelamento, pelo Egito, de visita que o então chanceler Aloysio Nunes faria ao Cairo, logo após as eleições de 2018. A exclusão da Palestina do roteiro das duas viagens presidenciais ao Oriente Médio também gerou mal-estar com os palestinos", completou.
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