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Jamil Chade

REPORTAGEM

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Evento na China abre tiroteio entre oposição e governo sobre Amazônia

Jorge Viana, presidente da Apex, abre conferência em Pequim - Jamil Chade
Jorge Viana, presidente da Apex, abre conferência em Pequim Imagem: Jamil Chade

Colunista do UOL

29/03/2023 07h02

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O presidente da Apex, Jorge Viana, causou um onda de protestos ao afirmar na China, diante das grandes empresas brasileiras do setor agrícola e de importadores, que o Brasil deveria deixar de dizer no exterior que não tem problemas de desmatamento.

Sua fala foi imediatamente usada por bolsonaristas e a oposição para atacar sua atitude e o governo.

No início da semana, numa de suas falas num evento sobre desenvolvimento sustentável em Pequim, o ex-governador do Acre deixou claro que o desmatamento é uma realidade do país e que foi ampliado nos últimos quatro anos.

Nós, brasileiros, deveríamos parar de dizer fora do Brasil que o país não tem problemas ambientais
Jorge Viana

"Nós temos, faz muito tempo", insistiu. Em 50 anos, segundo ele, 84 milhões de hectares foram desmatados na Amazônia.

Mas o que chamou a atenção do setor foi ele ter indicado que 67 milhões foram para a pecuária e 6 milhões para agricultura. Com técnicas sustentáveis, necessidade de terras para o gado seria de apenas 32 milhões. Viana também destacou ainda o compromisso do setor em enfrentar o desmatamento, mesmo durante os anos do governo de Jair Bolsonaro.

Horas depois, a ex-ministra da Agricultura Tereza Cristina usou as redes sociais para criticá-lo. "Que Apex é essa que acusa o agro de desmatar a Amazônia diante de nossos maiores clientes, na China? Querem derrubar de uma vez a imagem do país, o saldo comercial e o PIB? É muita insensatez", escreveu.

O evento contou com empresas chinesas e algumas das maiores exportadoras brasileiras, como a JBS.

Em nota, a Frente Parlamentar da Agropecuária também partiu para o ataque. "É intangível o estrago que um porta-voz brasileiro, responsável pela promoção das exportações, faz ao se permitir macular tida a pesquisa, tecnologia e precisão implantados pelo setor agropecuário, numa premissa ultrapassada desprovida de informações científicas e oficiais", afirmou.

Distorção

Nesta quarta-feira, na China, o ex-senador fez questão de dizer que suas frases chegaram de forma distorcidas no Brasil e que ele reafirma seu compromisso com a defesa das exportações nacionais, como fez amplos elogios ao setor agrícola.

Viana ainda disse que, uma vez de volta ao Brasil, ele iria procurar os representantes do setor para "esclarecer", assim como a ex-ministra da Agricultura.

"Queria fazer um breve e pequeno reparo", afirmou o presidente da Apex, em seu discurso de abertura do evento lotado num hotel de luxo de Pequim. "Sou engenheiro florestal de formação, fiz um histórico da situação nossa, especialmente da Amazônia onde vivo, porque o Brasil teve um aumento do desmatamento nos últimos 4 ou 5 anos" disse.

"Mas o foco meu não era, de jeito nenhum, deixar algum mal-entendido como pode ter ocorrido. Estamos muito longe do Brasil, acho que daqui para lá as coisas não chegaram do jeito que eu falei", afirmou.

Carlos Fávaro, ministro da Agricultura, também saiu em defesa de Viana, em discurso durante a abertura do evento e num sinal claro de que as críticas do setor agropecuário tinham reverberado dentro do governo.

"Talvez, pela distância daqui de Pequim até o Brasil, a conversa chega distorcida. Todos sabem que o seu posicionamento foi favorável à produção sustentável, para o bem da agricultura e chegou distorcida lá. Mas estamos aqui como testemunhas do bom trabalho que você vem fazendo também em prol da agricultura", disse Fávaro.