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Mundo terá calor recorde até 2027 e choverá menos na Amazônia, prevê ONU
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Num novo levantamento publicado hoje, a Organização Meteorológica Mundial alerta que o planeta atravessará um período de temperaturas altas inéditas nos próximos cinco anos, com um profundo impacto em diversas regiões do mundo.
Na Amazônia, a previsão é de queda do regime de chuvas, com um possível impacto para a agricultura brasileira.
O fenômeno será alimentado pela concentração ainda elevada de gases de efeito estufa que retêm o calor e pelo El Niño, que retorna com força. A entidade já destacou que os últimos oito anos foram os anos mais quentes já registrados. Agora, a agência ligada às Nações Unidas prevê:
- Há 66% de probabilidade de que a média anual da temperatura global próxima à superfície entre 2023 e 2027 seja superior a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais por pelo menos um ano.
- Há uma probabilidade de 98% de que pelo menos um dos próximos cinco anos, e o período de cinco anos como um todo, seja o mais quente já registrado.
"Prevê-se que as temperaturas médias globais continuem aumentando, afastando-nos cada vez mais do clima com o qual estamos acostumados
Leon Hermanson, cientista que liderou o novo estudo.
Em 2022, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas fez um alerta e apontou para os riscos relacionados ao clima para os sistemas naturais e humanos diante de um aquecimento global de 1,5 °C.
Diante da constatação, o secretário-geral da ONU, Antônio Guterres, deixou claro no final do ano passado que "o mundo está em uma encruzilhada - e nosso planeta está na mira". "Estamos nos aproximando do ponto de não retorno, de ultrapassar o limite acordado internacionalmente de 1,5 grau Celsius de aquecimento global", insistiu.
Não por acaso, o Acordo de Paris estabelece metas de longo prazo para orientar todas as nações a reduzir substancialmente as emissões globais de gases de efeito estufa, a fim de limitar o aumento da temperatura global neste século a 2 °C e, ao mesmo tempo, buscar esforços para limitar o aumento ainda mais a 1,5 °C, para reduzir impactos adversos e perdas e danos relacionados.
Queda de chuvas na Amazônia
Outra constatação é que os próximos anos marcarão anomalias nos regimes de chuvas em várias partes do mundo, inclusive no norte do Brasil.
"Os padrões de precipitação previstos para 2023 em relação à média de 1991-2020 sugerem uma maior chance de redução de chuvas em partes da Indonésia, da Amazônia e da América Central", disse o informe.
Para os próximos cinco anos, as previsões de precipitação mostram anomalias de umidade no Sahel, norte da Europa, Alasca e norte da Sibéria, e anomalias de seca para essa estação na Amazônia e oeste da Austrália.
O Sul do Brasil também será afetado. "Entre 2018 e 2022, partes da Ásia, sudeste da América do Norte, nordeste da América do Sul e o Sahel africano foram mais úmidos do que a média, e o sul da África, Austrália, sul da América do Sul, oeste da Europa e partes da América do Norte foram mais secos do que a média", disse.
"A Austrália e o sul da América do Sul foram, em sua maioria, mais secos do que a média durante os cinco anos em ambas as estações", constatou.
O mais novo informe ainda revela que:
- A temperatura média global em 2022 ficou cerca de 1,15°C acima da média de 1850-1900. A influência do resfriamento das condições do La Niña durante a maior parte dos últimos três anos controlou temporariamente a tendência de aquecimento de longo prazo. Mas o La Niña terminou em março de 2023 e a previsão é de que um El Niño se desenvolva nos próximos meses.
- Normalmente, o El Niño aumenta as temperaturas globais no ano seguinte ao seu desenvolvimento - nesse caso, seria 2024.
- Prevê-se que a média anual da temperatura global próxima à superfície para cada ano entre 2023 e 2027 seja entre 1,1°C e 1,8°C mais alta do que a média de 1850-1900.
- Há uma chance de 98% de que pelo menos um dos próximos cinco anos supere o recorde de temperatura estabelecido em 2016, quando houve um El Niño excepcionalmente forte.
- A chance de a média de cinco anos para 2023-2027 ser maior do que a dos últimos cinco anos também é de 98%.
- O aquecimento do Ártico é desproporcionalmente alto. Em comparação com a média de 1991-2020, prevê-se que a anomalia de temperatura seja mais de três vezes maior do que a anomalia média global quando calculada a média dos próximos cinco invernos prolongados no hemisfério norte.
- Os padrões de precipitação previstos para a média de maio a setembro de 2023-2027, em comparação com a média de 1991-2020, sugerem aumento de chuvas no Sahel, no norte da Europa, no Alasca e no norte da Sibéria, e redução de chuvas para essa estação na Amazônia e em partes da Austrália.
"Esse relatório não significa que excederemos permanentemente o nível de 1,5°C especificado no Acordo de Paris, que se refere ao aquecimento de longo prazo durante muitos anos. No entanto, a OMM está soando o alarme de que ultrapassaremos o nível de 1,5°C temporariamente e com frequência cada vez maior", disse o secretário-geral da entidade, Petteri Taalas.
"Espera-se que um El Niño aquecido se desenvolva nos próximos meses e isso se combinará com a mudança climática induzida pelo homem para levar as temperaturas globais a um território desconhecido", disse ele. "Isso terá repercussões de longo alcance para a saúde, a segurança alimentar, a gestão da água e o meio ambiente. Precisamos estar preparados", completou.
Segundo a avaliação, há apenas 32% de chance de que a média de cinco anos ultrapasse o limite de 1,5°C. Em 2015, a chance de os termômetros excederem temporariamente a marca de 1,5°C era próxima de zero. Para os anos entre 2017 e 2021, havia uma chance de 10% de ultrapassagem.
O novo relatório está sendo divulgado antes do Congresso Meteorológico Mundial, que discutirá como fortalecer os serviços meteorológicos e climáticos para apoiar a adaptação às mudanças climáticas.
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