Topo

Jamil Chade

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Entre caipirinhas, Ucrânia e Rússia se esbarram em casa do Brasil na ONU

Por que a guerra entre Rússia e Ucrânia não acaba? - Reprodução
Por que a guerra entre Rússia e Ucrânia não acaba? Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

22/05/2023 17h32

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Numa cena inusitada na diplomacia internacional, a residência do embaixador do Brasil na ONU, em Genebra, foi palco de um raro encontro entre ucranianos e russos, delegações envolvidas em uma das piores guerras em décadas no continente europeu.

No final da tarde desta segunda-feira, a missão brasileira ofereceu um coquetel de recepção em homenagem à ministra da Saúde, Nísia Trindade Lima, que está participando da Assembleia Mundial da Saúde, em Genebra.

Mas para a surpresa dos diplomatas estrangeiros e até nacionais, o evento organizado pelo embaixador Tovar Nunes contou com a presença tanto da embaixadora da Ucrânia na ONU quanto de uma delegação russa liderada pelo vice-ministro da Saúde do país.

Cancelados e isolados pelas potências ocidentais, os russos não são convidados para os eventos de embaixadores europeus, americanos e de seus aliados. Já os ucranianos dificilmente aparecem em locais que consideram que possam ser um aliado de Moscou.

A missão brasileira, porém, parecia um terreno confortável para ambos.

Horas antes, na tribuna da ONU, as duas delegações tinham trocado farpas e feito acusações mútuas. Na residência brasileira, ainda que não tenham se falado, as duas delegações inimigas percorriam os salões, em meio a bandejas com mandioca frita, pão de queijo e caipirinha.

Momentos antes, quem também estava na festa na missão brasileira foi o secretário de Saúde do governo de Joe Biden, Xavier Becerra. Mais cedo, do púlpito da ONU, ele "condenou a agressão russa contra a Ucrânia, em violação à Carta das Nações Unidas".

"Os ataques da Rússia destruíram várias instalações de saúde, mutilaram e mataram civis e profissionais de saúde", disse o americano. "E o sistema alimentar global está sendo interrompido. Isso corre o risco de aumentar a pobreza e a desnutrição de milhões de pessoas. A comunidade internacional deve, e os Estados Unidos continuarão a fazê-lo, apoiar o povo da Ucrânia", completou.

A própria OMS estima que, desde o início do conflito, 974 ataques contra instalações médicas na Ucrânia foram realizados, com mais de cem médicos e enfermeiras mortos. Para o diretor da OMS para a Europa, Hans Kluge, trata-se do maior ataque contra o sistema de saúde do continente desde a Segunda Guerra Mundial.

Na casa do Brasil, porém, enquanto o sol da primavera que imperava num jardim impecável se punha atrás dos Alpes, brigadeiros concluíam a festa. Para o deleite de russos e ucranianos.