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Com cravo na mão em Lisboa, Chico fecha feridas entre Brasil e Portugal
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Com um cravo na mão e dois povos no coração. Foi assim que Chico Buarque levou ao delírio coletivo o público em seus shows em Lisboa e no Porto nos últimos dias.
Lírico, contundente e até bem-humorado, o brasileiro encerrou por Portugal sua turnê repleta de tonalidades e ao lado de Mônica Salmaso.
Ao longo de onze cidades no Brasil e duas no país europeu, foi sua obra que desfilou pelo palco.
Mas, em Lisboa, foi quando ele e sua parceira ganharam cravos do público ao entoar ao final Tanto Mar que ficou evidenciado também seu papel na reconstrução das pontes entre Brasil e Portugal.
Durante o governo de Jair Bolsonaro, a relação Lisboa e Brasília foi surrada por gestos diplomáticos tão graves quanto infantis, que incluíram a ausência de uma visita oficial do brasileiro para Portugal, o "desconvite" do brasileiro ao líder português para almoçar e mesmo a recusa de assinar o prêmio Camões.
Qualquer nova inserção internacional do Brasil passa por uma nova estratégia de política externa, como vem ocorrendo.
Mas, para o público que ansiosamente aguardava para saber qual era a próxima canção que Chico Buarque traria, cada novo acorde parecia ser a confirmação de que o resgate há como ser feito. Como se as sementes tivessem sido finalmente encontradas no canto do jardim.
Chico resgatava, com sua arte, o canto conjunto de brasileiros e portugueses que abandonavam suas cadeiras para se aproximar ao palco. Como se quisessem formar um coral único, cada qual entoando Tanto Mar com seu sotaque, sua emoção, com suas respectivas histórias e ouvindo aquelas palavras em harmonias e significados diferentes.
E todos, sem talvez ter plena consciência, costuravam com a esperança a silhueta de uma realidade compartilhada entre dois países.
A xenofobia, a discriminação, o avanço da extrema direita e tantos outros temas ainda estão sobre a mesa. Mas as léguas a nos separar voltam a ser reduzidas.
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