No dia dos namorados, autora escreve cartas para quem não pode

Escrever uma carta de amor é ainda um sonho para milhões de brasileiros. Na verdade, escrever é uma realidade distante para 9,6 milhões de brasileiros. E, como forma de atender a essa população analfabeta, a jornalista e escritora Ivy Farias estará num dos terminais de transporte público mais movimentados do estado de São Paulo nesta segunda-feira (12) para ajudar quem quiser mandar uma carta no dia dos namorados.

A partir das 10h, no Terminal Metropolitano Santo André, ela atenderá quem passar pelo local e considera que o ato é uma oportunidade de ajudar as pessoas a traduzir seus próprios sentimentos. "Tem um quê de Fernanda Montenegro no filme Central do Brasil", brinca, numa referência ao filme que foi indicado ao Oscar.

A iniciativa é uma cooperação da EMTU com o Instituto NEPSAR (Núcleo de Estudo e Pesquisa em Sociopsicodrama). A escritora ainda vai ensinar aos passageiros como escrever cartas de amor, desde a redação até o acabamento com envelope especial.

"O amor não tem preço", diz Ivy Farias, que também é advogada. "Quem recebe uma carta sempre terá no coração este sentimento eternizado, de que foi lembrado ou lembrada em um momento importante do dia", afirma a escritora premiada no Programa de Ação Cultural (PROAC) 2020 e autora de sete livros.

"É fundamental que as empresas se conscientizem sobre a importância das emoções - eventos como esses são a melhor expressão de cidadania", defende.

Para o gerente de marketing da EMTU, Paulo Reis, faz parte da estratégia da empresa humanizar os espaços físicos dos terminais. "Temos um compromisso com nosso público: ainda que seja de passagem, a experiência de espera pode e deve ser agradável e, por que não, inesquecível", diz.

Diariamente, a EMTU é responsável pelo transporte de 1,8 milhão de pessoas em cinco regiões metropolitanas do estado de São Paulo. "Estamos atentos ao que acontece na sociedade", diz Reis.

Cerca de 9,6 milhões de pessoas são analfabetas no país, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). "Deste, 2,9% estão na região Sudeste. É nossa obrigação enquanto uma empresa que presta serviços ao cidadão oferecer o melhor de acordo com a realidade", completa. "E a realidade é esta: estamos indo aonde o povo está, ajudando a escrever e escrevendo cartas para quem sabe e para quem não sabe escrever", diz.