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Jamil Chade

REPORTAGEM

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Gastos com armas nucleares sofrem alta histórica e mundo vive ameaça real

30 out. 1971 - Explosão nuclear no Arquipélago de Tuamotu, no Atol de Mururoa, na Polinésia Francesa - Michel Baret/Gamma-Rapho via Getty Images
30 out. 1971 - Explosão nuclear no Arquipélago de Tuamotu, no Atol de Mururoa, na Polinésia Francesa Imagem: Michel Baret/Gamma-Rapho via Getty Images

Colunista do UOL

12/06/2023 07h00

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Os gastos globais com armas nucleares aumentam para US$ 82,9 bilhões e 2022 representou o terceiro ano consecutivo de incremento nos investimentos das potências em ogivas atômicas.

De acordo com um novo relatório da Campanha Internacional para Abolir as Armas Nucleares (Ican), que produz os números mais confiáveis sobre os gastos com armas nucleares, os nove países com bombas nucleares continuam a modernizar e expandir seus arsenais, empresas obtiveram lucros bilionários e bancos ampliaram os empréstimos para o setor

Juntos, EUA, China, Rússia, França, Reino Unido, Israel, Paquistão, Índia e Coreia do Norte gastaram US$ 82,9 bilhões, 3% a mais do que em 2021. Isso representa US$ 157.664 gastos por minuto em armas nucleares em 2022.

Para a entidade, os riscos são "significativos" e podem "colocar um fim à civilização tal qual a conhecemos".

Os dados estão sendo publicados num momento de tensão na guerra da Ucrânia, permeada por ameaças por parte dos russos sobre a possibilidade do uso de armas nucleares. "Pela primeira vez em décadas, o público geral está sendo confrontado com a ameaça real de um ataque nuclear em 2022", disse.

A Ican é uma coalizão de organizações de cerca de cem países que promove a adesão e a implementação do tratado de proibição de armas nucleares das Nações Unidas. Em 2017, ela venceu o prêmio Nobel. Mas, desde então, os investimentos apenas têm aumentado.

Segundo ela, o volume destinado ao setor poderia ter bancado a vacinação de dois bilhões de pessoas contra a covid-19 ou fornecido água potável e saneamento básico a 1,275 bilhão de pessoas por um ano.

Eis os gastos por país:

  1. EUA: US$ 43,7 bilhões, US$ 83.143/ minuto
  2. China: US$ 11,7 bilhões, US$ 22.219/ minuto
  3. Rússia: US$ 9,6 bilhões, US$ 18.228/ minuto
  4. Reino Unido: US$ 6,8 bilhões, US$ 12.975/ minuto
  5. França: US$ 5,6 bilhões, US$ 10.603/ minuto
  6. Índia: US$ 2,7 bilhões, US$ 5.181/ minuto
  7. Israel: US$ 1,2 bilhão, US$ 2.226/ minuto
  8. Paquistão: US$ 1 bilhão, US$ 1.967/minuto
  9. Coreia do Norte: US$ 589 milhões, US$ 1.221/ minuto

Gasto total:

  • Em 2022 - $82,9 bilhões ou $157.664 por minuto
  • Em 2021 - $82,4 bilhões ou $156.841 por minuto
  • Em 2020 - $72,6 bilhões ou $137.666 por minuto

EUA gastam mais que todos os demais países juntos

Os maiores gastos continuam sendo realizados pelos EUA, com US$ 43,7 bilhões. "Embora esse valor tenha sido um pouco menor do que em 2021, os EUA continuam gastando mais do que todos os outros países com armas nucleares juntos", constata a Ican.

De acordo com o levantamento, a China gastou um quarto do total dos EUA, US$ 11,7 bilhões, um aumento de pouco mais de 6%. A Rússia foi o terceiro maior gastador, com US$ 9,6 bilhões, o que representa um aumento de 5,74% em relação ao ano anterior.

Mas o país que mais aumentou seus gastos foi a Índia, com um aumento de 21,8%. O outro país que teve um aumento de dois dígitos foi o Reino Unido, que aumentou os gastos em pouco mais de 11%.

Lobby bilionário

O que chama a atenção do grupo é que a ofensiva do lobby nuclear ganha força. Segundo a Ican, as empresas de armamentos envolvidas na produção de armas nucleares receberam novos contratos no valor de US$ 16 bilhões em 2022. No mesmo ano, elas gastaram US$ 113 milhões em lobby junto a governos apenas nos EUA e na França.

"Globalmente, os países com armas nucleares têm contratos com empresas para a produção de armas nucleares no valor de pelo menos US$ 278,6 bilhões, continuando, em alguns casos, até 2040", constata.

Os fabricantes de armas nucleares e os países com armas nucleares também gastaram milhões financiando o trabalho de grupos de reflexão que, por sua vez, influenciam as políticas governamentais e as atitudes do público em relação às armas nucleares.

"É terrível que esses nove países tenham gasto US$ 82,9 bilhões em 12.500 armas nucleares", disse Susi Snyder, coordenadora do programa da Ican e coautora do relatório.

"Esses bilhões poderiam ter sido gastos na reconstrução após a devastadora pandemia e no combate às mudanças climáticas e à perda de biodiversidade", defendeu.

"O setor de armas está arrecadando cerca de 35% desse dinheiro, enquanto diz aos acionistas que fazer lobby contra o desarmamento nuclear é bom para os negócios. Mas, felizmente, cada vez mais investidores estão vendo as armas nucleares como um risco significativo e estão se desfazendo dessas empresas", alertou.

"Os estados com armas nucleares não contribuíram em nada para melhorar a segurança global, pelo contrário, estão piorando a situação", alertou Alicia Sanders-Zakre, coautora do relatório e coordenadora de políticas e pesquisas da Ican.

"A verdadeira segurança está sendo fornecida por meio do Tratado sobre a Proibição de Armas Nucleares, no qual quase metade dos Estados membros da ONU está rejeitando essas ferramentas de terror e intimidação e colaborando para acabar com o terrorismo nuclear", completou.