Jamil Chade

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Reportagem

De futebol a defesa, sauditas chegam ao Brasil para ampliar investimentos

Numa missão inédita composta por fundos de investimentos, empresas estatais e quase 200 empresários, a Arábia Saudita desembarca no Brasil com o objetivo de fechar pelo menos 20 acordos e contratos. A partir do dia 30 de julho, eventos em São Paulo marcarão um esforço de aproximação entre os dois países.

Os encontros serão abertos pelo vice-presidente, Geraldo Alckmin. Do lado saudita, a missão é liderada por um dos principais nomes do reino: Khalid Al-Falih, ministro de Investimentos, ex-CEO da Aramco e um dos principais aliados do príncipe herdeiro Mohamed Bin Salman.

Segundo fontes envolvidas na organização da missão, os acordos que serão anunciados devem se referir a setores como o de:

  • Defesa;
  • Farmacêuticos;
  • Futebol, com a presença de um representante da federação saudita.

Outro setor que ainda vive uma expectativa de aproximação é o de fertilizantes. Hoje, o Brasil importa quase todo seu consumo anual do insumo considerado como estratégico para a produção agrícola nacional. Um terço vem da Rússia, país em guerra.

Uma das possibilidades é de que a missão sirva como ponta de lança para que se negocie um acordo de joint-venture para a produção de fertilizantes no Brasil, envolvendo empresas sauditas e brasileiras.

O tema também faz parte da agenda do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, que chega neste fim de semana ao reino saudita com empresários brasileiros.

Para o embaixador do Brasil em Riad, Sérgio Bath, trata-se de um "evento histórico". Segundo ele, nunca na história diplomática dos dois países uma missão foi organizada com tal dimensão.

Em Brasília, a missão e o envolvimento do vice-presidente marcam o fim de qualquer tensão que possa ter surgido com a decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de cancelar um jantar em Paris, no mês passado, com o príncipe herdeiro. Bin Salman é acusado de envolvimento na morte de um jornalista e frequentemente denunciado por grupos de direitos humanos.

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Durante uma visita de Jair Bolsonaro para Riad, ainda em seu mandato, o então-presidente chegou a dizer que tinha "certa afinidade" com Bin Salman, o que gerou críticas por parte de ativistas. Naquele momento, o brasileiro ainda disse que "todo mundo gostaria de passar uma tarde com um príncipe, principalmente vocês, mulheres".

Os contatos entre o saudita e a família Bolsonaro foram marcadas ainda pelas joias entregues pelo príncipe ao casal presidencial.

Agora, não se descarta que os sauditas anunciem a abertura de um escritório de investimentos no Brasil, que serviria de base para a expansão dos interesses de Riad em toda a América Latina.

Abastecimento agrícola

A garantia de fornecimento de fertilizantes para a agricultura brasileira é também de interesse dos sauditas.

Hoje, 80% do volume de alimentos que os sauditas consomem vem do exterior. O Brasil é o maior fornecedor e ocupa 10% desse mercado.

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Os sauditas não escondem que querem agora olhar para a produção de grãos no Brasil, após realizar pesados investimentos no setor de carnes.

O Brasil, porém, quer equilibrar a balança comercial, que vive um déficit de US$ 2,4 bilhões. Apesar de ser um dos principais fornecedores de alimentos, a importação de petróleo saudita pelo Brasil dificulta qualquer possibilidade de um equilíbrio nas contas.

Em 2022, o Brasil exportou US$ 2,9 bilhões ao mercado saudita e importou US$ 5,3 bilhões.

Os investimentos brasileiros também têm aumentado de forma importante. No final de 2022, a Vale investiu US$ 1 bilhão no beneficiamento de minérios. Empresas como BTG Pactual e Embraer também estão presentes em Raid.

Promessa para Bolsonaro não vingou

Outra esperança é de que o dinheiro prometido para investir no Brasil possa encontrar um destino. Numa viagem do ex-presidente Jair Bolsonaro a Riad, os sauditas anunciaram que destinariam ao Brasil US$ 10 bilhões de seu fundo soberano para investimentos.

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Mas o dinheiro jamais chegou, diante de uma decisão do governo brasileiro de dar prioridade para áreas que não eram de interesse dos sauditas e modelos de parcerias que não atendiam aos critérios estabelecidos pelo fundo, em Riad.

Contudo, os US$ 10 bilhões continuam reservados para o Brasil e a tentativa de ambos os lados é a de encontrar possíveis áreas de convergência. Uma delas pode ser justamente o setor de fertilizantes.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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