Jamil Chade

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Brasil e países tropicais se unem para confrontar agenda climática de ricos

Os países da Amazônia, governos africanos e autoridades da Indonésia assinarão uma declaração no dia 9 de agosto em Belém estabelecendo uma aliança informal com o objetivo de coordenar posições para as negociações climáticas internacionais.

O texto da declaração já foi negociado e, segundo o UOL apurou, aguarda apenas uma chancela final dos países envolvidos para ser considerado como concluído. Fazem parte da iniciativa o Brasil, os demais países da bacia amazônica, a República Democrática do Congo e Indonésia. Juntos, esses territórios representam a maior parcela das florestas tropicais do planeta.

De acordo com diplomatas envolvidos no processo, a nova aliança que será anunciada durante a Cúpula da Amazônia é, acima de tudo, uma iniciativa política, com o objetivo explícito de não permitir que os emergentes e países com vastas florestas tropicais fiquem reféns da agenda e da pressão dos países ricos durante a Conferência das Nações Unidas para o Clima.

A próxima reunião da COP ocorre no final do ano nos Emirados Árabes Unidos e a esperança é de que, com a coalizão, os emergentes possam iniciar um processo de diálogo que permita que cheguem em uma posição de força aos grandes encontros internacionais.

Em uma nota, o Itamaraty apenas indicou que "na ocasião, serão exploradas convergências, de forma a iniciar um processo de construção de posições coordenadas, a serem levadas às negociações multilaterais em temáticas ambientais, a começar pela COP-28 do Clima e pela COP-16 de Biodiversidade".

Ao longo de anos, a falta de um posicionamento comum entre os países em desenvolvimento permitiu que Europa e EUA exercessem pressões no mundo dos acordos na conferência da ONU, minando os interesses dos emergentes ou simplesmente impossibilitando um avanço.

Com o acordo, o trabalho será o de realizar reuniões a partir de agora para aproximar as posições dos governos em cada um dos temas que serão discutidos na COP.

Pelos cálculos do governo brasileiro, não haverá como realizar uma pressão maior sobre os países ricos ou cobrar que os interesses dos emergentes sejam considerados se não houver uma coalizão mais ampla.

Além disso, a meta brasileira é de que o tema da preservação das florestas seja fortemente influenciado por aquelas regiões do mundo onde a cobertura florestal ainda é importante, e não por países que já desmataram amplas parcelas de suas florestas.

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A meta, porém, é mais ampla e não termina apenas nos Emirados Árabes. Segundo diplomatas, o trabalho entre os países continuará até a conferência da ONU, organizada para ser realizada em Belém, em 2025.

"A ideia é de começar uma construção em Belém, nesta semana, que nos leve a uma posição clara para a COP de 2025, uma vez mais em Belém", explicou ao UOL um diplomata, na condição de anonimato.

A tentativa de formar uma aliança para influenciar a agenda internacional já havia sido feita no início do primeiro mandato do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, quando o país montou uma aliança de produtos agrícolas - conhecidos como G20 - e que bloquearam o protagonismo de europeus e americanos na definição das regras mundiais do comércio.

Agora, Lula insiste que uma nova governança é necessária para lidar com a questão climática e, em discurso nos fóruns internacionais, tem insistido que os países ricos não cumpriram suas promessas de ajudar financeiramente os emergentes e nem atingir as metas do Acordo de Paris.

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