SP: crise em material escolar está 'superada', mas resistência 'surpreende'
O governo de Tarcísio de Freitas insiste que a crise aberta diante da revelação do UOL de que o material didático de sua administração traziam erros foi "superada" e que tais problemas eram apenas "pontuais". Mas admite que a resistência diante da mudança de planos na educação do estado "surpreendeu".
A afirmação é de Felício Ramuth, vice-governador de São Paulo, que está em Milão para um evento com empresários promovido pela empresa de João Doria, a Lide.
"É uma questão superada em relação aos materiais didáticos", disse. "Foi apresentada uma nova metodologia, uma padronização das aulas. Houve questionamentos, erros, os responsáveis estão fora do governo e agora, corrigindo esse rumo, no sentido de preparar esse material."
Minimizando o acontecimento, o vice-governador apontou que "correções são naturais no meio do caminho" e que os erros eram "pontuais".
Entre os problemas identificados no material estão afirmações de que a capital de São Paulo tem praia, e que Dom Pedro 2º assinou a Lei Áurea — e não sua filha, Princesa Isabel. Erros de português em diversos trechos do material e outros problemas considerados como graves foram também identificados.
Após reportagem do UOL revelar o caso, a Secretaria de Educação informou ter revisado "mais de 25 mil páginas" de conteúdos de "diferentes disciplinas". Segundo a secretaria, o material vai estar disponível para download a partir de segunda-feira (11).
De acordo com o governo, a Coped (Coordenadoria Pedagógica) montou uma força-tarefa para reavaliar todo o conteúdo do terceiro bimestre do ano. O governo ainda exonerou o coordenador pedagógico da Secretaria Estadual da Educação do estado, Renato Dias.
A situação colocou pressão sobre o secretário de Educação, Renato Feder, que chegou a defender que o material digital fosse o único utilizado pelas escolas e, em seguida, acabou desistindo da ideia.
Resistência surpreendeu
Ramuth insistiu que o "objetivo (da política educacional) continua o mesmo, que é criar uma metodologia para que as escolas tenham aulas padronizadas e, ainda assim, respeitando a individualidade do professor que pode acrescentar materiais nas aulas fornecidas". "Na nossa opinião, é um bom caminho, com o apoio dos materiais didáticos, respeitando currículo paulista e base nacional", disse.
Mas ele também admitiu que o governo se surpreendeu com a resistência diante do plano proposto. Mas que está "convicto" de que o plano é positivo, inclusive com uma nova abordagem em 2024 para o ensino profissionalizante.
"As primeiras resistências estão além do que imaginávamos", disse. "Pode servir de aprendizado para que haja mais dialogo entre pasta e atores, as associações, grupos de professores. Pode haver sim uma aproximação e um compartilhamento para que tenhamos mais pessoas compartilhando essas ideias. Até criticando previamente. Ou com transparência, com mais gente concordando", afirmou.
Ele, porém, deixou claro que a mudança vai acontecer na estratégia educacional em relação aos governos anteriores. "Fomos eleito para fazer diferente. O que não queremos é que a educação permaneça patinando e parada", insistiu o vice-governador. "Uma constatação temos de fazer: o estado de São Paulo patinou na educação nos últimos anos", disse.
De acordo com ele, Feder levou a um "avanço" na educação no estado do Paraná, onde era secretário.
Segundo ele, o fato de os responsáveis terem sido afastados é um "sinal de que erros não serão tolerados". "Resolvido isso, uma nova checagem em todo o material, isso não muda o plano estratégico e ter aulas padronizadas e corretas, com conteúdos que sejam relevantes para nossos jovens", disse.
Felício Ramuth disse ainda que Tarcisio acompanhou toda a questão envolvendo Feder e que "mostrou a importância de ter um material entregue da forma correta". "Mas ele reconhece o trabalho exitoso do secretário no Paraná e a certeza de que conseguimos avançar muito ao longo dos próximos anos na educação. Ele sabe como fazer. Eventualmente, o que tiver de ser corrigido será feito ao longo do tempo", explicou.
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JAMIL CHADE
Todo sábado, Jamil escreve sobre temas sociais para uma personalidade com base em sua carreira de correspondente.
Quero receberO vice-governador alertou que, nos últimos 20 anos, erros foram cometidos na política de educação do estado e que, mesmo nas medidas corretas, a operacionalização falhou. "Faltavam professores e fizemos o maior concurso para os professores nos últimos 20 anos. Uma quantidade bastante expressiva de professores e vamos colher frutos desse trabalho que está sendo estruturado", disse.
Polêmicas e empresa com contrato com governo estadual
A polêmica sobre os erros no material didático se soma à pressão que Feder recebeu para desistir da ideia de modificar a distribuição de livros nas escolas e substituir por uma digitalização.
"A digitalização é um caminho sem volta", justificou o vice-governador. "Para todas as coisas que fazemos. Inclusive não se faz a imprensa da mesma forma que se fazia", disse.
Questionado se isso teria uma relação com o fato de o secretário estar envolvido diretamente com uma empresa do setor, o representante do governo de São Paulo garantiu que "isso era conhecido antes do convite" para que Feder assumisse a pasta e que se afastou das operações da empresa.
"Conectar isso à atividade anterior ao secretário não me parece ser 100% correto", disse. "A transparência é mais importante que isso. Assim ele era também no Paraná, sem problema algum. E trouxe resultado para os nossos jovens. Ele não forneceu nada la", afirmou.
De acordo com o vice-governador, a empresa de Feder tinha contratos anteriores do o governo do estado de São Paulo. Mas garantiu que novas vendas não iriam ocorrer.
"O que aconteceu é que, antes disso, havia fornecimentos. Foi um contrato fechado anteriormente e que hoje a empresa ligada ao secretário está entregando", justificou. "É de conhecimento de todos".
"Querer fazer uma conexão e interesses econômicos, eu também posso dizer que o PNLD envolve grandes interesses econômicos, de autores. Sempre pode haver um questionamento a grupos econômicos daqui ou de lá. Se eu quisesse desqualificar a colocação de muitas pessoas em relação ao fornecimento ao PNLD, eu poderia faze-lo do mesmo jeito. Mostrando os interesses econômicos de editores, autores. Não é por ai. O objetivo é entregar ensino de qualidade", completou.
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