Em Copa 'mundial', Fifa abandona limites, fronteiras, futebol e torcedores
A decisão da Fifa de realizar uma Copa do Mundo em seis países, em 2030, revela uma instituição que abandonou qualquer tipo de limites ou fronteiras. Mas que também não enxerga mais os torcedores das respectivas seleções como atores a serem considerados.
A escolha por seis sedes, ainda que três delas sejam apenas prêmios de consolação, é a saída política que a Fifa encontrou para seu evento e para atender a interesses de cartolas.
A Conmebol havia dado seu apoio para a eleição de Gianni Infantino, na condição de que a candidatura da região para 2030 fosse considerada. Agora, Infantino cumpre sua promessa de campanha.
Ao mesmo tempo, o cartola máximo do futebol afaga e tenta estabelecer a paz com os europeus, levando o torneio de volta para o Velho Continente. Para completar a manobra política, atende aos africanos, incluindo Marrocos.
O futebol, de fato, não parece fazer parte das considerações.
Quando a decisão de passar de 32 seleções para 48 times na Copa ocorreu, há uns anos, um estudo interno da Fifa revelou que a qualidade do torneio iria sofrer. Equipes mais fracas seriam qualificadas e os jogos teriam um desempenho técnico nem sempre atrativo. Mas, em compensação, o estudo revelava que a entidade poderia ampliar sua renda em US$ 1 bilhão.
Já sabemos qual foi a escolha.
Outro problema era onde colocar uma Copa dessa dimensão. De fato, em 2026, já serão três sedes — EUA, Canadá e México. Agora, em sua edição seguinte, seis países em três continentes diferentes: Argentina, Uruguai, Paraguai, Marrocos, Espanha e Portugal.
Ao fazer a Copa viajar por três continentes, a Fifa garante um aumento inédito de renda e resolve suas questões políticas, mais uma vez. Mas abandona torcedores que, tradicionalmente, viajam acompanhando suas seleções pelos jogos. Agora, terão não apenas de cruzar fronteiras. Mas um oceano.
A decisão ainda leva a Fifa a não ter de abrir uma concorrência real sobre quem deve sediar o Mundial, consolidando o que há décadas era a realidade: as escolhas eram, acima de tudo, políticas e financeiras.
Negociada em total sigilo, a nova Copa pegou cartolas de diferentes partes do mundo de surpresa. Ao UOL um deles chegou a chamar a proposta de "absurda". "A Fifa surtou", criticou outro.
Com a Fifa mais rica do que nunca e num esporte que conhece seu apogeu financeiro, a decisão desta quarta-feira muda para sempre a história das Copas. Mas confirma uma tendência que ninguém tem mais qualquer constrangimento em esconder: o torcedor e o futebol não são prioridades.
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