Gaza vive expectativa de abertura; governo diz que brasileiros não saíram
A comunidade internacional, agências humanitárias e milhares de palestinos vivem a expectativa de que a passagem entre a Faixa de Gaza e o Egito possa ser aberta nesta segunda-feira, enquanto negociadores tentam costurar um acordo. Mas diplomatas brasileiros, tanto em Ramallah como do lado egípcio da fronteira, garantiram ao UOL que o ponto de cruzamento continua fechado para a saída dos estrangeiros. O Hamas também negou que haja um acordo neste sentido.
O Brasil é um dos cerca de dez países que negocia a retirada de seus nacionais da Faixa de Gaza. No caso nacional, são cerca de 30 pessoas que aguardam para ser evacuadas para o Egito, enquanto uma pequena delegação de diplomatas brasileiros espera e negocia a passagem do comboio do outro lado da fronteira, em segurança.
As primeiras notícias de uma abertura da passagem entre Gaza e o Egito, em Raffah, surgiram com uma reportagem da agência Reuters que, citando fontes na região, revelou que a fronteira seria aberta para permitir que a ajuda humanitária entre em Gaza. O acordo entre EUA, Egito e Israel teria sido fechado depois da visita do secretário de estado norte americano, Antony Blinken, ao Cairo.
A informação levou centenas de pessoas para a região de fronteira. Mas a passagem não foi aberta.
O chefe da diplomacia americano estará hoje em Tel Aviv para convencer os israelenses de que um entendimento precisa ser fechado, antes de qualquer operação militar terrestre sobre Gaza. Num primeiro momento, a abertura duraria apenas algumas horas.
Mas instantes depois da publicação da informação, foi o governo de Israel que emitiu um alerta de que não houve um acordo sobre um cessar fogo no Sul de Gaza, e desmentindo a agência Reuters. Ataques foram registrados nesta manhã, na região onde supostamente haveria um entendimento.
Um dos representantes do Hamas, ainda nesta segunda-feira, também declarou para a agência Reuters que a notícia de um acordo de abertura da fronteira não seria verdadeira.
Nos bastidores, fontes de agências humanitárias indicaram que Israel aceitou o pedido americano para que uma ajuda humanitária possa entrar em Gaza. Mas Tel Aviv quer garantias de que isso não irá ao Hamas e, portanto, combustível foi excluído da lista de produtos que poderão entrar. O temor dos israelenses é de que isso possa ser usado na resistência contra os militares enviados por terra.
Em entrevista para a rede BBC, o chefe de operações humanitárias da ONU, Martin Griffiths, confirmou que uma negociação no mais elevado escalão estava ocorrendo. Horas depois, ele indicou que esperava que "boas notícias" possam ser dadas ainda nesta segunda-feira.
Diplomatas americanos também sinalizaram que esse entendimento estaria próximo.
Já o governo do Egito resiste em promover a abertura, diante do que poderia representar o fluxo de milhares de palestinos para seu território e uma ameaça para sua soberania em regiões como o Sinai.
Além disso, o governo do Cairo acusa Israel de não estar aceitando um acordo. Segundo os egípcios, as autoridades israelenses bombardearam o lado de Gaza da fronteira, o que torna difícil a passagem de veículos.
Mas a crise tem ganhado uma dimensão inédita, com a ONU pressionando pela criação de um corredor humanitário.
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JAMIL CHADE
Todo sábado, Jamil escreve sobre temas sociais para uma personalidade com base em sua carreira de correspondente.
Quero receberBrasileiros continuam em Gaza
Tanto o embaixador do Brasil no Egito como em Ramallah indicaram ao UOL que os brasileiros não foram deslocados ainda de sua base. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem disparado telefonemas a líderes da região, apelando para que o grupo seja autorizado a deixar a Faixa de Gaza.
Na avaliação da diplomacia brasileira, a barganha para que um acordo seja estabelecido não é simples. A expectativa é de que a saída de estrangeiros poderá estar vinculada com a exigência de que o Hamas solte os mais de 100 reféns que o grupo fez, ao entrar em território de Israel, no dia 7 de outubro.
Enquanto isso, num esforço para garantir uma resposta internacional à crise no Oriente Médio, o Itamaraty negocia uma resolução no Conselho de Segurança da ONU que consiga atender tanto aos interesses de Israel, das potências Ocidentais, dos russos, chineses e palestinos.
Numa das versões, obtidas pelo UOL, a proposta condena os "ataques terroristas do Hamas", pede a libertação dos reféns, mas também faz um apelo para que Israel abandone seu ultimato para que os palestinos deixem o norte da Faixa da Gaza.
O texto pede ainda a criação de um "cessar fogo humanitário" e o acesso as agências da ONU às populações mais necessitadas.
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