Pressionado, Conselho da ONU se reúne amanhã e vota projeto do Brasil
Diante da crise política e humanitária estabelecida com o ataque contra o hospital e uma escola em Gaza, o governo da Rússia anunciou que solicitou ao Brasil que convoque uma reunião de emergência do Conselho de Segurança para a quarta-feira. O encontro foi confirmado e servirá para que os 15 membros do órgão sejam informados sobre a situação no Oriente Médio. Mas o Brasil também aproveitará para pedir que sua resolução seja votada.
O Itamaraty preside o órgão da ONU durante o mês de outubro e cabe ao governo brasileiro convocar reuniões de emergência.
Num comunicado, diplomatas russos indicaram que a convocação foi feita também pelo governo dos Emirados Árabes Unidos e que o encontro ocorrerá às 10h de Nova York (11h de Brasília).
"Vamos ver como reagem nossos colegas ocidentais", afirmou o embaixador russo Dmitry Polyanskiy.
Desde o começo da crise, o Conselho de Segurança já se reuniu em três ocasiões e não chegou sequer a um acordo para denunciar a violência no Oriente Médio. O impasse ocorre principalmente diante do enfrentamento entre russos e potências ocidentais. Há sete anos o Conselho não chega a um acordo para aprovar uma resolução sobre a questão palestina.
Voto de projeto brasileiro
O novo encontro ocorre num momento em que o Conselho está sob forte pressão. O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, cobrou do órgão uma definição e uma condenação dos atos de Israel. Enquanto isso, a Liga Árabe insistiu que a reunião precisa estabelecer um cessar-fogo imediato.
O encontro ainda servirá para que os governos votem o projeto governo brasileiro de criar uma pausa humanitária. O Itamaraty havia optado por adiar de terça-feira para quarta-feira a votação depois que ficou claro o risco de que o texto seria vetado pelos russos.
O Itamaraty acredita que pode conseguir um acordo para aprovar o texto. Mas, por enquanto, não convenceu os russos a apoiar a resolução. Com as mortes que se acumulam em Gaza devido ao ataque contra um hospital, o debate político ganhou uma dimensão ainda mais tensa e, segundo diplomatas europeus, também atrapalhou as negociações.
Ontem, uma resolução apresentada pela Rússia e apoiada pelas autoridades palestinas e países árabes foi vetada pelos governos ocidentais que fazem parte do Conselho de Segurança da ONU. EUA, Reino Unido e França, além do Japão, votaram contra, derrubando qualquer chance de o projeto russo prosperar.
O texto pedia o estabelecimento de um cessar-fogo imediato. Entretanto, não condenava explicitamente o Hamas pelos atos terroristas de 7 de outubro, em Israel.
O texto proposto pelo Brasil
O Itamaraty tentou agradar os ocidentais, condenando o Hamas pelo ato e pedindo a libertação imediata dos reféns israelenses.
Inicialmente, o Brasil propunha um "cessar-fogo humanitário". Mas o termo foi alvo de resistência por parte dos americanos. A nova versão do Itamaraty falava apenas em uma "pausa humanitária" e o acesso de ajuda ao território de Gaza.
O projeto também incluiu uma referência crítica contra o ultimato dado por Israel para que os palestinos deixem o norte da Faixa de Gaza, na esperança de agradar russos e chineses.
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JAMIL CHADE
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Quero receberRússia quer emendar projeto brasileiro
A delegação russa, porém, alertou que o projeto brasileiro estava sendo "esvaziado" por parte das potências ocidentais, mensagem recebida como um alerta de que Moscou e Pequim poderiam não aceitar a resolução.
O Kremlin ainda apresentou duas emendas ao texto e espera que sejam votadas. Ambas iriam contra os interesses dos americanos, ao recolocar o termo "cessar-fogo" e pedir uma condenação contra Israel por seus ataques sobre Gaza.
A decisão dos diplomatas brasileiros, portanto, foi a de iniciar um novo processo de consultas e negociações para ampliar a base de apoio ao texto e impedir um veto.
O UOL apurou que o projeto brasileiro é considerado até mesmo pelo secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, como fundamental para salvar a credibilidade da instituição diante da crise.
Mas, para isso, o Brasil tenta encontrar uma fórmula que:
não isole Israel;
atenda aos desejos das potências ocidentais;
seja suficiente para que os governos árabes se sintam considerados;
resulte em ação para proteger os palestinos;
não haja uma sensação por parte de russos e chineses de que foram derrotados.
A esperança do Itamaraty é de que, nas próximas horas, um novo projeto possa ser desenhado e submetido ao voto.
O temor é que um novo fracasso do Conselho de Segurança coloque o órgão numa situação de completo descrédito, diante de uma das semanas mais violentas em décadas no conflito no Oriente Médio.
Um impasse ainda mandaria um sinal às partes beligerantes de que poderiam manter suas estratégias de guerra.
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