Brasil ameniza texto na ONU para evitar veto; Rússia exige citar hospital
Num esforço para evitar um novo fracasso na ONU e um veto dos EUA, o governo brasileiro apresentou nesta manhã um novo projeto de resolução no Conselho de Segurança que ameniza em alguns aspectos. A esperança é de que, com isso, não haja o veto nem dos EUA e nem dos russos.
Enquanto isso, o governo de Vladimir Putin apresentou uma emenda ao projeto de resolução do Brasil no Conselho de Segurança da ONU e quer que o novo texto faça uma referência explícita aos ataques contra o hospital Al Ahly, em Gaza. O documento do Kremlin não cita a autoria dos atentados. Mas será alvo de intensas negociações.
Depois de dois adiamentos, o governo brasileiro indicou que colocará seu projeto de resolução para a votação nesta quarta-feira. A reunião do Conselho está marcada para ocorrer às 10 horas de Nova York, 11 horas de Brasília.
O texto original pedia a "imediata rescisão da ordem de evacuação de civis e funcionários da ONU de todas as áreas de Gaza ao norte de Wadi Gaza".
Na nova versão, a palavra "imediata" é retirada, num esforço para atender aos americanos.
Outra mudança no texto foi a inclusão de um parágrafo que diz que o Conselho chega a um acordo para:
Incentivar os esforços visando à cessação das hostilidades que ajudariam a garantir a proteção de civis tanto em Israel quanto no território palestino ocupado, incluindo Jerusalém Oriental;
O trecho, porém, não está na parte operativa do texto, o que reduz seu peso.
Inicialmente, o Brasil propunha um "cessar-fogo humanitário". Mas o termo foi alvo de resistência por parte dos americanos.
Desde segunda-feira, a nova versão do Itamaraty falava apenas em uma "pausa humanitária" e o acesso de ajuda ao território de Gaza.
A delegação russa, porém, alertou que o projeto brasileiro estava sendo "esvaziado" por parte das potências ocidentais, mensagem recebida como um alerta de que Moscou e Pequim poderiam não aceitar a resolução.
Kremlin pressiona
A diplomacia de Vladimir Putin ainda apresentou duas emendas ao texto e espera que sejam votadas. Ambas iriam contra os interesses dos americanos, ao recolocar o termo "cessar-fogo".
Os russos, em sua emenda, ainda pedem que o seguinte trecho seja incluído na resolução brasileira:
O Conselho de Segurança também condena inequivocamente os ataques indiscriminados contra civis e contra objetos civis na Faixa de Gaza, resultando em vítimas civis, em particular o ataque hediondo contra o hospital Al Ahli, e condena e rejeita as ações para impor o bloqueio da Faixa de Gaza, privando a população civil dos meios indispensáveis para sua sobrevivência, em violação ao direito internacional humanitário.
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JAMIL CHADE
Todo sábado, Jamil escreve sobre temas sociais para uma personalidade com base em sua carreira de correspondente.
Quero receberO temor dos negociadores, porém, é de que o texto seja rejeitado por americanos e europeus, já que seus termos poderiam significar uma pressão sobre Israel que nem a Casa Branca e nem aliados de Tel Aviv estariam dispostos a citar.
O que mais diz a resolução do Brasil:
Condena os atos terrorista do Hamas
Pede a libertação dos reféns israelenses
Cobra de ambos os lados a proteção à população civil
O novo encontro ocorre num momento em que o Conselho está sob forte pressão. O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, cobrou do órgão uma definição e uma condenação dos atos de Israel. Enquanto isso, a Liga Árabe insistiu que a reunião precisa estabelecer um cessar-fogo imediato.
O Itamaraty havia optado por adiar de terça-feira para quarta-feira a votação depois que ficou claro o risco de que o texto seria vetado pelos russos.
Na segunda-feira, uma resolução apresentada pela Rússia e apoiada pelas autoridades palestinas e países árabes foi vetada pelos governos ocidentais que fazem parte do Conselho de Segurança da ONU. EUA, Reino Unido e França, além do Japão, votaram contra, derrubando qualquer chance de o projeto russo prosperar.
O texto pedia o estabelecimento de um cessar-fogo imediato. Entretanto, não condenava explicitamente o Hamas pelos atos terroristas de 7 de outubro, em Israel.
A decisão dos diplomatas brasileiros, portanto, foi a de iniciar um novo processo de consultas e negociações para ampliar a base de apoio ao texto e impedir um veto.
O Itamaraty tentou agradar os ocidentais, condenando o Hamas pelo ato e pedindo a libertação imediata dos reféns israelenses.
O UOL apurou que o projeto brasileiro é considerado até mesmo pelo secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, como fundamental para salvar a credibilidade da instituição diante da crise.
Mas, para isso, o Brasil tenta encontrar uma fórmula que:
não isole Israel;
atenda aos desejos das potências ocidentais;
seja suficiente para que os governos árabes se sintam considerados;
resulte em ação para proteger os palestinos;
não haja uma sensação por parte de russos e chineses de que foram derrotados.
O temor é que um novo fracasso do Conselho de Segurança coloque o órgão numa situação de completo descrédito, diante de uma das semanas mais violentas em décadas no conflito no Oriente Médio.
Um impasse ainda mandaria um sinal às partes beligerantes de que poderiam manter suas estratégias de guerra.
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