Jamil Chade

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Israel barra entrada de funcionários da ONU, e Brasil convoca nova votação

Numa decisão que deixou funcionários e diplomatas da ONU indignados, o governo de Israel anunciou que não concederá vistos para os funcionários humanitários da entidade. A medida seria uma resposta à crescente crise entre as Nações Unidas e o governo de Benjamin Netanyahu.

O anúncio ocorre ainda no momento em que o Brasil, como presidente do Conselho de Segurança, convoca para esta quarta-feira a votação de uma resolução americana sobre a situação em Israel e na Faixa de Gaza. Nas últimas horas, por insistência do Itamaraty, o governo de Joe Biden modificou a proposta para incluir um chamado específico para a criação de uma pausa humanitária. Mas o texto continua excluindo a possibilidade de um cessar-fogo, uma exigência de árabes e russos.

Moscou, por sua vez, prometeu apresentar uma nova resolução. Mas sem fazer referência ao direito de defesa de Israel, o texto deve ser vetado pelos EUA. A guerra, assim, tem colocado a ONU e Israel em um confronto declarado e paralisado os trabalhos, enquanto os estoques de alimentos, combustível e água se esgotam em Gaza.

O que aconteceu?

Ontem, o secretário-geral da ONU, António Guterres, havia afirmado em um discurso no Conselho de Segurança que os ataques do Hamas deveriam ser entendidos dentro de um contexto mais amplo e que eles "não ocorreram no vácuo". A declaração ainda destacou que os palestinos vivem 56 anos de uma "ocupação sufocante".

Essa não foi a primeira vez que Guterres fez a declaração. Mas o governo de Israel usou a ocasião para dizer que tal comportamento era inaceitável, "imoral" e que pedia a renúncia do chefe da ONU.

Agora, numa entrevista a uma rádio, o embaixador de Israel na ONU, Gilad Erdan, anunciou que seu governo recusou dar visto para o chefe de operações humanitárias da ONU, Martin Griffiths, e que outros representantes serão barrados de entrar no país. O gesto seria uma resposta ao discurso de Guterres, que também denunciou Israel por violações do direito humanitário internacional.

"Diante de sua declaração, vamos recusar vistos para os representantes da ONU", disse Erdan. "Já recusamos para Martin Griffiths. O tempo chegou para dar uma lição a eles", insistiu.

O UOL, há duas semanas, revelou que a crise já havia eclodido nos bastidores, numa carta enviada pelo governo de Israel criticando o chefe de direitos humanos da ONU, Volker Turk. Os israelenses insistem que o austríaco deveria se concentrar em condenar o Hamas, sem qualquer comentário sobre as operações das forças israelenses na Faixa de Gaza.

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O UOL também obteve informações de que, nos últimos dias, a diplomacia de Netanyahu tem enviado cartas aos diferentes órgãos da ONU, cobrando uma posição de crítica ao Hamas. As cartas, segundo pessoas que tiveram acesso a elas, soaram como ameaças à instituição.

Relatores da ONU, por sua vez, já declararam a operação de Israel em Gaza como um "crime contra a humanidade" e que existe o "risco de genocídio".

A crise diplomática se soma à paralisia vivida pela ONU diante da guerra. Com sucessivos vetos e impasses, o Conselho de Segurança tem sido incapaz de dar uma resposta à violência.

Brasil apoia Guterres

O governo brasileiro demonstrou, nesta quarta-feira, seu apoio ao secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, diante dos ataques que ele vem sofrendo por parte do governo de Israel.

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Nas redes sociais, o Itamaraty afirmou:

Pouco antes da abertura da sessão de hoje do Conselho de Segurança da ONU, o ministro Mauro Vieira expressou ao secretário-geral da ONU, António Guterres, o reconhecimento do governo brasileiro pelo trabalho liderado por ele ao longo da atual crise em Israel e Gaza.


O próprio Guterres optou por se pronunciar nesta quarta-feira, diante da repercussão do caso na opinião pública de Israel. "Estou chocado com as interpretações erradas feitas sobre minha declaração ao Conselho de Segurança, como se eu estivesse justificando os atos de terror do Hamas", disse.

"Isso é falso. Foi exatamente o contrário", garantiu o secretário. Ele lembrou que, em seu discurso, afirmou que condenou "inequivocamente os horríveis e sem precedentes atos de terror de 7 de outubro do Hamas em Israel".

"Nada pode justificar a morte deliberada, os ferimentos e o rapto de civis - ou o lançamento de mísseis contra alvos civi", disse.

"Na verdade, falei das queixas do povo palestiniano e, ao fazê-lo, também afirmei claramente, e passo a citar: as queixas do povo palestiniano não podem justificar os terríveis ataques do Hamas.", esclareceu.

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"Penso que era necessário esclarecer as coisas, nomeadamente por respeito às vítimas e às suas famílias", completou.

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