Jamil Chade

Jamil Chade

Siga nas redes
Reportagem

Relatores da ONU citam 'genocídio em formação' em Gaza

Em declaração emitida nesta quinta-feira (16), mais de duas dezenas de relatores de direitos humanos da ONU afirmam que as graves violações cometidas por Israel contra os palestinos após 7 de outubro, especialmente em Gaza, "apontam para um genocídio em formação".

Eles citaram o que seriam evidências do aumento do "incitamento genocida", da intenção evidente de "destruir o povo palestino sob ocupação", dos apelos em voz alta por uma "segunda Nakba" em Gaza e no restante do território palestino ocupado e do uso de armamentos poderosos com impactos inerentemente indiscriminados, resultando em um número colossal de mortes e na destruição da infraestrutura de sustentação da vida.

"Muitos de nós já alertamos sobre o risco de genocídio em Gaza", disseram os especialistas.

Estamos profundamente perturbados pelo fato de os governos não terem atendido ao nosso apelo e não terem conseguido um cessar-fogo imediato. Também estamos profundamente preocupados com o apoio de certos governos à estratégia de guerra de Israel contra a população sitiada de Gaza e com o fracasso do sistema internacional em se mobilizar para evitar o genocídio.

Entre os relatores estão nomes como Francesca Albanese, Margaret Satterthwaite, Dorothy Estrada Tanck, Claudia Flores, Ivana Krsti, Haina Lu, Mary Lawlor e Irene Khan.

"Estamos profundamente angustiados com o fracasso de Israel em concordar com um cessar-fogo imediato — e com a falta de vontade da comunidade internacional em pressionar de forma mais decisiva por ele", afirmam. "Se não for implementado um cessar-fogo com urgência, a situação poderá se transformar em um genocídio conduzido com meios e métodos de guerra do século 21."

Eles também falaram em "retórica genocida" e "desumanizadora" de altos funcionários do governo israelense, bem como de alguns grupos profissionais e figuras públicas, que pedem a "destruição total" e o "apagamento" de Gaza, a necessidade de "acabar com todos eles" e forçar os palestinos da Cisjordânia e do leste de Jerusalém a irem para a Jordânia.

Os especialistas afirmaram que Israel demonstrou ter a capacidade militar para implementar tais intenções criminosas. "É por isso que nosso alerta antecipado não deve ser ignorado", disseram.

Eles pediram uma ação imediata dos Estados membros da ONU e do sistema da ONU como um todo.

Continua após a publicidade

A comunidade internacional, incluindo não apenas os Estados, mas também os atores não estatais, como as empresas, deve fazer tudo o que puder para acabar imediatamente com o risco de genocídio contra o povo palestino e, em última instância, acabar com o apartheid israelense e a ocupação do território palestino.

Dados

Segundo os especialistas, o bombardeio e o cerco a Gaza supostamente mataram mais de 11 mil pessoas, feriram mais de 27 mil e deslocaram 1,6 milhão de pessoas desde 7 de outubro — enquanto milhares ainda estão sob os escombros.

"Dos mortos, cerca de 41% são crianças e 25% são mulheres. Em média, uma criança é morta e duas são feridas a cada 10 minutos durante a guerra, transformando Gaza em um 'cemitério de crianças'", de acordo com o secretário-geral da ONU.

Quase 200 médicos, 102 funcionários da ONU, 41 jornalistas, defensores da linha de frente e dos direitos humanos também foram mortos, enquanto dezenas de famílias de cinco gerações foram dizimadas, de acordo com a entidade.

"Isso ocorre em meio ao endurecimento do bloqueio ilegal de Gaza por Israel, que já dura 16 anos e impede que as pessoas fujam e as deixa sem comida, água, remédios e combustível há semanas, apesar dos apelos internacionais para que seja fornecido acesso à ajuda humanitária essencial. Como dissemos anteriormente, a fome intencional equivale a um crime de guerra", disseram os especialistas.

Continua após a publicidade

Eles observaram que metade da infraestrutura civil em Gaza foi destruída, incluindo mais de 40 mil unidades habitacionais, bem como hospitais, escolas, mesquitas, padarias, tubulações de água, redes de esgoto e eletricidade, de uma forma que ameaça tornar impossível a continuidade da vida palestina na região.

Essas violações flagrantes não podem ser justificadas em nome da autodefesa após os ataques do Hamas em 7 de outubro, que condenamos da forma mais veemente possível.

"Para ser legítima, a resposta de Israel deve estar estritamente dentro da estrutura da lei humanitária internacional", disseram os especialistas da ONU.

Segundo eles, a presença de túneis subterrâneos em partes de Gaza não elimina o status civil de indivíduos e infraestruturas que não podem ser alvos diretos nem sofrer desproporcionalmente.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.