Jamil Chade

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Com sauditas, Lula trata de parceria na Embraer, aporte em energia e Gaza

No primeiro dia da visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Arábia Saudita, a pauta dos encontros envolveu tanto a possibilidade de investimentos sauditas no Brasil como temas da geopolítica mundial, incluindo a guerra em Gaza.

Fontes diplomáticas que estiveram nas reuniões de Lula com as autoridades sauditas classificaram os encontros como "muito positivos".

Segundo eles, muita ênfase foi dada em investimentos nos dois sentidos, incluindo novas parcerias com empresas brasileiras, como a Embraer.

Para membros do governo brasileiro, a visita confirma a "mudança qualitativa" que existe na relação entre Brasil e Arábia Saudita, já como resultado do Foro de Investimento realizado em São Paulo, em julho.

Também houve uma audiência privada entre Lula e o príncipe herdeiro, Mohamed Bin Salman. No encontro, foram discutidos temas políticos, como o conflito em Gaza.

Houve ainda a assinatura de um acordo de cooperação no setor de energia com a contraparte saudita.

Em Brasília, a missão marca o fim de qualquer tensão que possa ter surgido com a decisão de Lula de cancelar um jantar em Paris, em meados do ano, com o príncipe herdeiro. Bin Salman é acusado de envolvimento na morte de um jornalista e frequentemente denunciado por grupos de direitos humanos.

Durante uma visita de Jair Bolsonaro para Riad, ainda em seu mandato, o então presidente chegou a dizer que tinha "certa afinidade" com Bin Salman, o que gerou críticas por parte de ativistas. Naquele momento, o brasileiro ainda disse que "todo mundo gostaria de passar uma tarde com um príncipe, principalmente vocês, mulheres".

Os contatos entre o saudita e a família Bolsonaro foram marcados ainda pelas joias entregues pelo príncipe ao casal presidencial.

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Em um seminário em meados do ano, ficou evidenciado que a garantia de fornecimento de fertilizantes para a agricultura brasileira é também de interesse dos sauditas.

Hoje, 80% do volume de alimentos que os sauditas consomem vem do exterior. O Brasil é o maior fornecedor e ocupa 10% desse mercado.

Os sauditas não escondem que querem agora olhar para a produção de grãos no Brasil, após realizar pesados investimentos no setor de carnes.

O Brasil, porém, quer equilibrar a balança comercial, que vive um déficit de US$ 2,4 bilhões. Apesar de ser um dos principais fornecedores de alimentos, a importação de petróleo saudita pelo Brasil dificulta qualquer possibilidade de um equilíbrio nas contas.

Em 2022, o Brasil exportou US$ 2,9 bilhões ao mercado saudita e importou US$ 5,3 bilhões. Os investimentos brasileiros também têm aumentado de forma importante. No final de 2022, a Vale investiu US$ 1 bilhão no beneficiamento de minérios. Empresas como BTG Pactual e Embraer também estão presentes em Raid.

Promessa para Bolsonaro não vingou

Outra esperança é de que o dinheiro prometido para investir no Brasil possa encontrar um destino. Numa viagem de Bolsonaro a Riad, os sauditas anunciaram que destinariam ao Brasil US$ 10 bilhões de seu fundo soberano para investimentos.

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Mas o dinheiro jamais chegou, diante de uma decisão do governo brasileiro de dar prioridade para áreas que não eram de interesse dos sauditas e modelos de parcerias que não atendiam aos critérios estabelecidos pelo fundo, em Riad.

Contudo, os US$ 10 bilhões continuam reservados para o Brasil e a tentativa de ambos os lados é a de encontrar possíveis áreas de convergência. Uma delas pode ser justamente o setor de fertilizantes.

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