Jamil Chade

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Governo Lula veta transferência de diplomata que estava em reunião golpista

A Presidência da República vetou a transferência de um diplomata que estava na reunião de julho de 2022, na qual o então presidente Jair Bolsonaro e seus aliados falaram sobre a possibilidade de uma ruptura democrática.

O conselheiro Comarci Nunes Filho, que atualmente está na Assessoria de Comunicação do Itamaraty, seria transferido para trabalhar na equipe de comunicação do G20, presidida pelo Brasil em 2024.

O ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Paulo Pimenta, afirmou ao UOL que a transferência não chegou a ser efetivada e que mandou suspender qualquer medida neste sentido.

O conselheiro trabalhava, naquele momento, com o embaixador Fernando Simas, que representava o Itamaraty na reunião, na condição de secretário-geral da chancelaria. O titular da pasta, que deveria estar no encontro, era Carlos França. Mas o então ministro estava viajando.

Mal-estar no Itamaraty

A coluna revelou ontem como a presença de embaixadores brasileiros na reunião com Jair Bolsonaro, investigada pela Polícia Federal e alvo do STF (Supremo Tribunal Federal), abriu um mal-estar no Itamaraty, com uma ala dos diplomatas exigindo que a instituição tome distância de qualquer ato ou trama golpista.

Parte dos funcionários da instituição ainda questionam o motivo pelo qual os embaixadores, servidores de Estado, não denunciaram o conteúdo antidemocrático do encontro.

A reunião aconteceu no dia 5 de julho de 2022. O vídeo do encontro estava no computador do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro. Agora, seu conteúdo faz parte das investigações sobre a tentativa de golpe de Estado. Em vários momentos do encontro, Bolsonaro pede a seus ministros que atuem para impedir a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

No encontro ainda estava presente o embaixador André Chermont de Lima, chefe do cerimonial da presidência.

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Fernando Simas acabou sendo transferido e hoje é o representante do Brasil em Haia, inclusive para os debates e processos no Tribunal Penal Internacional. Chermont é, hoje, cônsul-geral em Tóquio.

Numa nota publicada nesta semana, a Associação e Sindicato dos Diplomatas Brasileiros afirmou seu "repúdio a movimentos destinados a subverter a ordem democrática e os princípios do Estado de Direitos".

A associação diz estar acompanhando a investigação e a apuração de "possível utilização de estruturas de estado para o planejamento de atos antidemocráticos, em cumprimento aos precedentes constitucionais e observado o devido processo legal".

Entre os diplomatas, foi iniciado ainda um movimento para reforçar um código de ética para que esse tipo de situação não seja mais aceita dentro da instituição.

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