Macron reafirmará apoio à entrada do Brasil no Conselho de Segurança da ONU

O presidente da França, Emmanuel Macron, vai apoiar a entrada do Brasil no Conselho de Segurança da ONU e sinalizar que chancela a ideia do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de reforma das instituições internacionais. O tema estará na agenda dos encontros da próxima semana, durante a viagem de Macron pelo Brasil.
Diplomatas que trabalham sobre o texto da declaração final do encontro indicam ao UOL que o francês já sinalizou que aceitará que o documento traga uma referência ao apoio do Brasil à reforma do Conselho e favorável à participação do país no órgão central da ONU.
Essa não será a primeira vez que a França declarará seu apoio para a entrada do Brasil no Conselho. Contudo, a reafirmação da vontade de Macron é fundamental num momento em que a diplomacia brasileira busca um novo espaço no mundo, depois de quatro anos de uma relação descrita por Paris como "eclipsada" pelo comportamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e pelo mal-estar entre os dois países durante esse período.
Novo plano de ação para parceria estratégica
A viagem de Macron ao Brasil ainda será marcada pelo restabelecimento da parceria estratégica entre os dois países, em especial no setor militar.
O UOL apurou que os governos do Brasil e França vão anunciar um novo plano de ação que incluirá a criação de um mecanismo para monitorar a parceria no setor de defesa. Um dos objetivos será o de permitir que as vendas de equipamentos e produtos ocorram também a partir de empresas brasileiras para os franceses, além de identificar possibilidades de transferências de tecnologia.
Macron visitará no dia 27 de março o estaleiro e base naval de Itaguaí, a 60 km do Rio de Janeiro, que serve de base para a construção de submarinos projetados, a partir de uma parceria entre os dois países. A visita será marcada pela saída ao mar do terceiro submarino construído no estaleiro.
Em estreita cooperação com a França, o Programa de Desenvolvimento de Submarinos foi criado em 2008, no segundo mandato de Lula. Mas, segundo o governo francês, a relação política entre os dois países foi "praticamente congelada" durante a gestão de Jair Bolsonaro e os contatos viveram um "eclipse" de quatro anos.
O UOL apurou que, entre 2021 e 2022, a diplomacia francesa determinou que os contatos até mesmo com a embaixada do Brasil em Paris fossem reduzidos. O relançamento da parceira estratégica voltou a ganhar ritmo entre os dois países em 2023.
França também apoia Alemanha, Índia e Japão
Em documentos oficiais da chancelaria francesa, Paris indica que também apoia a adesão da Alemanha, Japão e Índia, além de uma posição de maior destaque para os africanos e a chancela ao Brasil.
No começo de março, o grupo formado por esses quatro países apresentou um projeto de reforma do Conselho de Segurança, ampliando o atual órgão para que tenha um total de 25 ou 26 membros, onze a mais que o atual formato.
O veto, hoje instrumento para impedir decisões, não seria usado por um período de 15 anos pelos novos membros.
O governo russo, porém, avisou que é contra a proposta e alertou que a expansão sugerida pelo grupo tornaria o Conselho ainda menos eficiente e até "paralisar por completo". Para o Kremlin, nenhuma expansão pode ter mais de 20 países. "Não podemos apoiar uma expansão para 25 ou 26 países", disse.
Os russos admitem que podem aceitar a entrada do Brasil e Índia. Mas que não daria o sinal verde para mais uma vaga para uma potência ocidental, num recado para a Alemanha.
O governo da China também deixou claro que não apoia o modelo apresentado. Pequim diz que a ideia é "completamente mal-orientada" e que apenas vai ampliar o desequilíbrio entre as grandes potências e o resto do mundo.
Segundo os chineses, o Conselho da ONU não pode ser um "clube dos grandes países" e deve haver espaço para países médios e pequenos. Pequim, porém, não mencionou o fato de que seu objetivo é o de evitar a entrada da Índia e do Japão - seus principais rivais regionais - no Conselho.
Se o Brasil e os demais aliados são candidatos para a expansão, a proposta não fala nos nomes de quem estariam no novo órgão. A escolha seria feita por uma eleição na Assembleia Geral da ONU.
Atualmente, o órgão criado em 1945 conta com 15 membros, dos quais apenas cinco são permanentes (EUA, França, Reino Unido, China e Rússia) e têm o poder de veto.
A nova proposta prevê:
Seis novos membros permanentes, que devem ser eleitos pela Assembleia Geral da ONU.
A composição da expansão incluiria:
- 2 países da África
- 2 países da Ásia
- 1 país latino-americano
- 1 país do Grupo Ocidental
O projeto ainda prevê 4 ou 5 novos membros não permanentes. Isso inclui:
- 1 ou 2 países africanos
- 1 país asiático
- 1 país do Leste Europeu
- 1 país latino-americano
Quanto ao veto, o grupo formado pelo Brasil defende que não haja seu uso por parte dos novos membros, um compromisso de não uso. A proposta é de que isso seria revisto em 15 anos, quando uma conferência internacional deve ser convocada para examinar o impacto da reforma já realizada e da suspensão do veto.
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