Jamil Chade

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Ataques ganham dimensão regional e conflito ameaça sair de controle

A decisão do Irã de iniciar uma retaliação contra Israel deixa a diplomacia mundial em alerta total e governos temem que o conflito saia de controle. Além dos drones lançados por Teerã, o Hezbollah passou a atacar o sul de Israel e as Colinas de Golã. Parte da ofensiva ainda foi realizada a partir do Iêmen, com a participação dos Houthis —aliados dos iranianos.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, condenou "veementemente a grave escalada representada pelo ataque". "Peço a cessação imediata dessas hostilidades", disse.

Mas é a consequência dos ataques que inquieta o chefe da diplomacia da ONU.

"Estou profundamente alarmado com o perigo muito real de uma escalada devastadora em toda a região. Peço a todas as partes que exerçam o máximo de moderação para evitar qualquer ação que possa levar a grandes confrontos militares em várias frentes no Oriente Médio", pediu. "Nem a região nem o mundo podem se permitir outra guerra", insistiu Guterres.

Na ONU, a diplomacia iraniana justificou o ataque como sendo de "legítima defesa" e que, ao realizar a retaliação ao bombardeio de Israel contra seu consulado em Damasco no começo de abril, o caso agora "poderia" ser dado como "concluído" e que novos ataques não seriam realizados.

Mas também alertou aos EUA contra qualquer envolvimento de Washington e condicionou o fim da ação: caso Israel responda, a retaliação será "ainda mais severa".

A exigência iraniana não surgiu efeito. Membros do governo de Benjamin Netanyahu avisaram que a resposta de Israel será "significativa" e "sem precedentes".

O cenário obrigou os governos da região a fechar seus espaços aéreos e colocar de prontidão seus sistemas de defesa. Fontes israelenses ainda indicaram que alguns mísseis e drones foram abatidos por forças dos EUA e Reino Unido ao sobrevoar a fronteira entre o Iraque e Síria.

Irã ameaça Jordânia e quem cooperar com Israel

Segundo o ministro de Defesa do Irã, Mohammad Reza Ashtiani, haverá uma "firme" resposta por parte de seu governo a qualquer país da região que "abra seus espaços aéreos para ataques contra o Irã".

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O recado era direcionado especificamente contra a Jordânia, país com estreita relação com os EUA. Segundo os iranianos, se Amã der algum tipo de assistência aos israelenses, o país será "o próximo" a enfrentar ataques.

Horas depois do anúncio dos ataques, militares jordanianos confirmaram que as forças do país agiram para abater drones iranianos que se dirigiam contra Israel.

O temor, desde o início do confronto em outubro entre o Hamas e Israel, era de que a tensão transbordasse as fronteiras e tomasse toda a região.

Não por acaso, nos últimos dias, governos europeus, dos EUA, Turquia e do Golfo fizeram uma ofensiva diplomática para tentar convencer os iranianos a não atacar. Para o regime de Teerã, porém, deixar o ataque contra seu consulado em Damasco por parte de Israel sem uma resposta não seria uma opção.

Nos bastidores, diplomatas de algumas das principais potências e a alta cúpula da ONU confirmaram ao UOL que a maior preocupação neste momento é de que não haja como conter uma escalada da tensão.

Ainda em outubro, conversas confidenciais foram estabelecidas para que houvesse um limite para a guerra. O Hamas esperava contar com pleno apoio dos iranianos diante da ofensiva israelense.

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O "acordo" foi mantido, diante dos alertas das potências de que o Irã não seria poupado se optasse por entrar declaradamente na guerra.

Mas o ataque contra seu consulado na Síria no início do mês mudou todo o cenário, abrindo inclusive uma crise entre Israel e governos ocidentais.

Agora, a nova dimensão da guerra amplia ainda a pressão para que o Ocidente saia ao apoio de Israel, num momento em que o governo de Benjamin Netanyahu vivia um crescente isolamento diante de sua ação em Gaza.

Um sinal claro do impacto regional já foi sentido minutos depois do lançamento da ofensiva. Os ataques obrigaram governos em todo o Oriente Médio a declarar estado de emergência. A Jordânia afirmou que está pronto para abater qualquer drone, enquanto o Iraque fechou seu espaço aéreo. Parte dos drones teriam ainda partido do Iêmen, ampliando o temor de que a crise ganharia proporções sem precedentes.

Confirmando o caráter regional da crise, diplomatas dizem que os ataques partiram de "múltiplos países" e que o Hezbollah - apoiado pelo Irã - também aderiu.

Na Síria, o governo de Bashar Al Assad informou parceiros que considera como possível o ataque de mísseis israelenses e que o sistema de defesa criado em aliança com os russos será acionado.

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Nos últimos dias, os governos dos EUA, Rússia e França retiraram parte de seus funcionários da região ou pediram para que seus nacionais não viajassem para alguns dos principais países no Oriente Médio.

Israel fechou escolas e mesmo os protestos contra Netanyahu foram encerrados, com os manifestantes sendo ordenados a "ir para casa e se preparar".

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