Jamil Chade

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Líder de partido alemão aliado a Bolsonaro é condenado por slogan nazista

A Justiça da Alemanha condenou Björn Höcke, uma das figuras mais radicais do partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD), pelo uso de slogans nazistas. O caso envolveu até mesmo o apoio de Elon Musk.

O alemão foi multado em 13.000 euros pelo uso deliberado do slogan "Alles für Deutschland" ("Tudo pela Alemanha") em um comício eleitoral em Merseburg em 2021.

"Tudo pela Alemanha" foi um lema usado pela SA, a formação paramilitar do partido nazista que desempenhou um papel fundamental na ascensão de Adolf Hitler ao poder. A Sturmabteilung, conhecido pela sigla SA, era responsável por atos de violência e terrorismo contra judeus e comunistas.

Em 2017, diante das declarações radicais por parte do membro do partido, membros do AfD avaliaram sua expulsão. Mas a decisão foi outra: ele seria mantido e o partido, aos poucos, caminharia para adotar sua própria retórica.

Ex-professor de história do ensino médio, Björn Höcke, 52 anos, é atualmente o líder do AfD na Turíngia. O diretório do partido na região é monitorado pelas autoridades policiais por suspeitas de envolvimento em discursos antidemocráticos.

Em sua defesa, durante o julgamento, o alemão alegou que não sabia que essa frase era um slogan nazista.

A promotoria não aceitou esse argumento. "Isso não é nem confiável nem compreensível", disse Benedikt Bernzen, promotor público em Halle.

A condenação ocorre em um momento em que a AfD está enfrentando vários escândalos. Em meados de janeiro, a participação de alguns membros da AfD em uma reunião da ultradireita para discutir um plano de expulsão em massa de estrangeiros ou pessoas de origem estrangeira da Alemanha chocou o país.

Aliados de Eduardo Bolsonaro

Enquanto o partido é alvo de polêmicas e denúncias de promoção do nazismo, ele é cortejado por Eduardo Bolsonaro. Em abril, o deputado esteve em Berlim e se reuniu com Beatrix von Storch, neta de um dos ministros mais importantes de Hitler e deputada pelo AfD.

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Em 2021, ela visitou o Brasil e foi recebida tanto pela então ministra de Direitos Humanos, Damares Alves, como por Jair Bolsonaro, que ocupava a presidência.

Nesta última visita, a deputada alemã chamou Eduardo Bolsonaro de "amigo".

Em 2018, quando Bolsonaro foi eleito presidente, o deputado do AfD Petr Bystron foi às redes sociais comemorar a vitória do brasileiro. Ele afirmou que Bolsonaro "sofreu enorme pressão do establishment". "A revolução conservadora chegou à América do Sul", disse. O deputado havia sido acusado de empregar extremistas de direita e pessoas suspeitas de ligação com movimentos neonazistas em seu gabinete.

Musk e o "fascista alemão"

O caso da condenação desta semana envolve até mesmo o empresário Elon Musk, suposto defensor da liberdade de expressão e que vem atacando as instituições brasileiras por "censurar" o conteúdo no X.

No diálogo publicado nas redes, Höcke e Musk debateram seu caso. O alemão denunciou seu seu processo criminal e Musk, então, perguntou para Hocke:

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"O que você disse?"

Um outro usuário entrou na conversa e explicou a Musk que o político havia dito "Tudo pela Alemanha".

Musk então questionou "Por que isso é ilegal?".

Höcke respondeu: "Porque todo patriota na Alemanha é difamado como nazista".

O que o alemão não contou foi que o conteúdo de suas falas e mesmo de um livro de sua autoria foram considerados como radicais pela Justiça alemã. Em uma obra de memórias, Hocke questionou o fato de Hitler ser "retratado como absolutamente maligno". Segundo ele, não se trata de uma avaliação que deva ocorrer a apenas sob a perspectiva "preto e branco".

Em 2019, um outro tribunal alemão ainda considerou que acusar Höcke de "fascista" não pode ser classificado como um ato de calúnia.

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