Jamil Chade

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Em manobra diplomática, Brasil abre mão de vaga permanente em órgão global

O governo brasileiro está disposto a abrir mão de um assento permanente em um órgão internacional, como forma de demonstrar que o país quer uma reforma das instituições globais e que, para isso, buscaria uma coerência em sua postura.

A questão envolve o Conselho da OIT (Organização Internacional do Trabalho), uma espécie de diretório central da entidade com dez países que, de forma permanente, fazem parte da estrutura de poder.

O Brasil é um dos dez. Mas, da mesma forma que luta por reformar o Conselho de Segurança da ONU, a direção do FMI e acabar com o privilégio das potências, o governo decidiu que também vai propor o fim da diferenciação entre os países no órgão onde ele é considerado uma potência.

A reforma de fato já foi negociada há décadas. O acordo foi estabelecido em 1986, criando uma emenda à Constituição da OIT. Mas, sem ratificações, ela nunca entrou em vigor.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva mencionou a reforma em seu discurso na entidade, em Genebra, na semana passada e indicou que o governo vai trabalhar pela ratificação da emenda no país.

"Não faz sentido apelar aos países em desenvolvimento para que contribuam para a resolução das crises que o mundo enfrenta hoje sem que eles estejam adequadamente representados nos principais órgãos de governança global", disse.

"Nossas decisões só terão legitimidade e eficácia se tomadas e implementadas democraticamente", defendeu. Para Lula, "esse é o melhor caminho a seguir para garantir o desenvolvimento sustentável, os direitos dos mais vulneráveis e a proteção do planeta".

Foi nos bastidores que a costura começou a ser feita de fato. Ao longo da semana, o ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, se reuniu com os dez países que fazem parte do Conselho de Administração de forma permanente para discutir a aceleração da ratificação da Emenda de 1986 à Constituição da OIT, que altera o sistema de governança da entidade.

Além do Brasil, contam com assentos permanentes os governo de Alemanha, China, EUA, Federação Russa, França, Índia, Itália, Japão e Reino Unido.

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A ideia do governo brasileiro é que, com o fim do assento permanente, o órgão passe a ter uma nova composição, privilegiando os países em desenvolvimento e com mais vagas para a América Latina.

O cálculo é de que, em votações, o Brasil tem condições de manter o cargo em grande parte dos pleitos. Mas daria uma sinalização concreta de que adotará uma postura de coerência ao pedir o fim de privilégios aos mais ricos em outros órgãos.

Esforço histórico para fazer parte do Conselho de Segurança da ONU

A busca do Brasil por uma reforma da ONU que permita aos emergentes ter uma voz mais determinante nas decisões permeou todo o período democrático no país, com especial ênfase a partir dos anos 1990.

O governo brasileiro defende um projeto de reforma do Conselho de Segurança que amplie o órgão para que tenha um total de 25 ou 26 membros, onze a mais que o formato atual. O veto, hoje usado para impedir decisões, não seria usado por um período de 15 anos pelos novos membros.

O Brasil é um dos candidatos para a expansão, mas a proposta não fala nos nomes de quem estaria no novo órgão. A escolha seria feita por eleição.

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Atualmente, o órgão criado em 1945 tem 15 membros, dos quais apenas cinco são permanentes (EUA, França, Reino Unido, China e Rússia) e têm poder de veto.

A proposta prevê seis novos membros permanentes, que devem ser eleitos pela Assembleia Geral da ONU.

A composição da expansão incluiria:

  • 2 países da África
  • 2 países da Ásia
  • 1 país latino-americano
  • 1 país do Grupo Ocidental

O projeto ainda prevê quatro ou cinco novos membros não permanentes. Isso inclui:

  • 1 ou 2 países africanos
  • 1 país asiático
  • 1 país do Leste Europeu
  • 1 país latino-americano

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