Pela 1ª vez, ONU adota pacote contra desinformação
Diante do avanço da desinformação e do uso de plataformas digitais para disseminar ódio e mentiras, a ONU cria pela primeira vez uma espécie de carta global para fazer frente a esse fenômeno. O documento cobra empresas de tecnologia a reconhecer o impacto negativo que podem gerar, criar mecanismos para corrigir os danos para a sociedade, além de solicitar aos governos que criem espaços seguros para o trabalho da imprensa independente.
Nesta segunda-feira, os Princípios Globais da ONU para a Integridade de Informação foram anunciados pelo secretário-geral, António Guterres. Segundo ele, a desinformação, ódio e mentiras estão causando "graves danos ao nosso mundo". O documento é resultado de meses de consultas com especialistas, imprensa, governos, setor privado e sociedade civil.
Trata-se da primeira tentativa de iniciar uma resposta global ao impacto da desinformação que, de acordo com a entidade, está "alimentando o preconceito e a violência, exacerbando divisões e conflitos, demonizando minorias e comprometendo a integridade das eleições".
As ações estão baseadas em princípios:
- Confiança e resiliência da sociedade;
- Mídia independente, livre e pluralista;
- Incentivos saudáveis;
- Transparência e pesquisa;
- Empoderamento do público.
"As ameaças à integridade das informações não são novas, mas estão se proliferando e se expandindo com uma velocidade sem precedentes nas plataformas digitais, sobrecarregadas pelas tecnologias de IA", afirmou Guterres.
Segundo ele, a ciência, os fatos, os direitos humanos, a saúde pública e a ação climática estão sob ataque. "E quando a integridade das informações é atacada, o mesmo acontece com a democracia, que depende de uma percepção da realidade compartilhada e baseada em fatos", disse.
A constatação da ONU é que "narrativas falsas, distorções e mentiras geram cinismo, descrença e desinteresse". "Elas prejudicam a coesão social, colocando os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável ainda mais fora de alcance", alertou Guterres.
Ele também adverte que algoritmos opacos empurram as pessoas para bolhas de informações e reforçam preconceitos, incluindo racismo, misoginia e discriminação. "Vidas estão em jogo quando mentiras são espalhadas sobre vacinas e outras questões médicas", disse.
O documento vem com recados claros, cada qual destinado a um segmento da sociedade. "Algumas partes interessadas têm uma responsabilidade muito grande. Para eles, tenho uma mensagem clara: Exigimos ação", disse.
Cobranças às empresas de tecnologia
"Para as grandes empresas de tecnologia - assumam a responsabilidade", disse Guterres. "Reconheçam os danos que seus produtos estão causando às pessoas e às comunidades. Vocês têm o poder de mitigar os danos causados às pessoas e às sociedades em todo o mundo. Vocês têm o poder de mudar os modelos de negócios que lucram com a desinformação e o ódio", alertou.
Cobranças aos anunciantes
Guterres também fez um chamado aos anunciantes e o setor de relações públicas. "Parem de monetizar o conteúdo prejudicial", disse. "Fortaleça a integridade das informações, proteja sua marca e aumente seus resultados", pediu.
Segundo ele, a crise climática é um motivo de preocupação especial. "Campanhas coordenadas de desinformação estão buscando minar a ação climática", disse, num apelo para que publicitários não usem seus talentos para prejudicar o planeta. "Procurem clientes que não estejam enganando as pessoas e destruindo nosso planeta", apelou.
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JAMIL CHADE
Todo sábado, Jamil escreve sobre temas sociais para uma personalidade com base em sua carreira de correspondente.
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Guterres ainda pediu que os veículos de mídia "elevem os padrões editoriais". "Façam sua parte para proteger nosso futuro fornecendo jornalismo de qualidade baseado em fatos e na realidade. Procurem anunciantes que sejam parte da solução, não do problema", pediu.
Cobranças aos governos
A ONU ainda fez um apelo para que governos se comprometam a criar e manter um cenário de mídia livre, viável, independente e plural. "Garantir proteções sólidas para os jornalistas. Assegurar que os regulamentos respeitem os direitos humanos", defendeu.
O recado também foi contra a censura. Governos, segundo Guterres, devem evitar "medidas drásticas, incluindo o desligamento geral da Internet". "Respeitem o direito à liberdade de opinião e expressão", completou.
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