Venezuela racha Conselho de Segurança; Rússia e China travam discussão
A portas fechadas e em sigilo, o Conselho de Segurança da ONU se reuniu pela primeira vez para tratar da crise na Venezuela. Nesta quinta-feira (5), o órgão máximo das Nações Unidas tratou da situação que é considerada uma ameaça à estabilidade regional. Mas o que se viu foi um profundo racha entre os membros permanentes do órgão.
Oficialmente, o pedido para que o encontro fosse realizado foi feito pela delegação do Equador. Mas governos como o da China e da Rússia consideram que, por trás da iniciativa de Quito, está uma pressão por parte do governo dos EUA.
José Javier De la Gasca Lopez Domínguez, embaixador do Equador no Conselho de Segurança, afirmou que o regime está "silenciando" vozes de venezuelanos e insistiu que as atas das eleições precisam ser apresentadas. Para ele, o Conselho precisa tratar do tema, pois ele tem "implicações para a estabilidade regional".
Fontes que estiveram no encontro confirmaram que delegações de Pequim e de Moscou insistiram que aquele não era o local apropriado para tratar da crise.
Entre os cinco membros permanentes no Conselho, esses dois são aliados do regime venezuelano e reconhecem até mesmo a suposta vitória de Nicolás Maduro nas eleições de julho.
Diante do racha explícito, não há, por enquanto, uma proposta de resolução a ser debatida e nem a ideia de uma condenação generalizada. Mas incluir a Venezuela na agenda do Conselho é considerado, por negociadores, como uma manobra para ampliar a pressão sobre Maduro.
Durante o encontro fechado, os governos ainda ouviram um informe por parte da secretaria da ONU, que alertou sobre o aumento da repressão por parte de ditador venezuelano.
Questionada pelo UOL, a delegação do Equador insistiu que só poderia haver diálogo no momento em que as "condições estejam estabelecidas" para que a oposição possa também ter liberdade para se posicionar.
A pressão na ONU ocorre num momento em que o governo da Colômbia articula com Brasil e México uma forma de tentar salvar o processo de mediação na crise venezuelana.
A pressa por um processo político ganhou força depois de o regime venezuelano decretar a prisão de Edmundo González, candidato presidencial de oposição que alega ter vencido o pleito. Em julho, a eleição era a esperança da comunidade internacional de que a crise política na Venezuela seria superada. Mas, sem apresentar provas, anunciou que venceu.
Na terça-feira (3), Brasil e Colômbia publicaram um comunicado demonstrando preocupação diante do que uma prisão do opositor pode significar para o processo de mediação. Mas, ao contrário da ONU, EUA e outros governos, Lula e Petro evitaram condenar Maduro pelo ato.
A manobra foi um esforço de manter aberto o possível canal de diálogo com o regime em Caracas.
Fontes na ONU em Nova York confirmaram ao UOL que a esperança é que esses três países sirvam de interlocutores em uma crise que preocupa a comunidade internacional.
Maduro, nas últimas semanas, criticou o comportamento de Lula e de Petro, que sugeriram a convocação de novas eleições. Os colombianos ainda apresentaram um projeto mais amplo, com etapas para superar a crise.
Ele envolveria a formação de um governo de aliança nacional, a suspensão das sanções contra Maduro, uma anistia a todos os atores políticos no país e, finalmente, uma eleição com observadores internacionais.
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