Sem Lula, China e Rússia pressionarão por entrada da Venezuela no Brics
A ausência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na cúpula do Brics coloca um desafio para a delegação brasileira no evento em Kasan, na Rússia: como garantir que, mesmo sem seu líder que por anos costurou relações com os demais presidentes, o Brasil consiga manter sua influência no destino do bloco.
O Itamaraty recebeu instruções para vetar a adesão da Venezuela ao grupo de membros associados do Brics, que será criado durante a reunião do bloco em Kasan.
O principal motivo é o fato de o governo brasileiro não reconhecer o governo de Nicolás Maduro. No entanto, os próprios diplomatas brasileiros admitem que essa decisão estará sujeita a intensa negociação política dentro do bloco. A recente visita de Celso Amorim, assessor de Lula, na China, também é considerada como potencialmente decisiva na definição do futuro do Brics.
Após o acidente doméstico de Lula Inácio Lula da Silva neste sábado (19), o Brasil terá sua delegação comandada pelo chanceler Mauro Vieira. Mas o presidente participará dos debates por vídeoconferência.
Se a diplomacia não acredita que o Brasil saia enfraquecido pela ausência de Lula, negociadores admitem que ele tem uma capacidade única de convencer em conversas bilaterais.
A proposta do Brics é criar uma nova categoria de membros associados, que não teriam poder de decisão sobre o futuro do bloco, mas participariam das discussões e consultas. Atualmente, cerca de 30 países demonstraram interesse em integrar essa categoria, mas apenas 10 serão selecionados.
O Brasil inicialmente apostava na inclusão da Colômbia e de Angola. Contudo, ambos os países não manifestaram interesse. O principal desafio para o Brasil agora é a pressão da China, do Irã e da Rússia, que apoiam a entrada da Venezuela como membro associado.
Diante desse cenário, o Brasil defende dois pontos fundamentais. O primeiro é que todas as decisões sejam tomadas por consenso, ou seja, com a aprovação de todos os países membros do Brics.
O segundo é que o Brasil acredita que, ao avaliar a candidatura de um país sul-americano, sua posição deve ser considerada de maneira diferenciada.
Por esses motivos, o Brasil insiste em ser ouvido sobre a escolha dos países que integrarão a nova categoria de membros associados. Oficialmente, o Itamaraty afirma que a principal prioridade do Brasil é estabelecer critérios claros para a adesão de novos membros.
Segundo essa posição, os novos integrantes do grupo deverão ser aceitos com base nesses critérios.
Diante desse cenário, há a possibilidade de que, devido à influência do Brasil e à aplicação dos critérios propostos, países como Bolívia e Cuba sejam aceitos como representantes da América Latina na categoria de membros associados.
Brasil e África do Sul apostavam em influência de ex-sindicalistas
No ano passado, durante a expansão do Brics, foi decidido que os governos deveriam chegar a um acordo antes da cúpula realizada na África do Sul. A reunião apenas chancelaria o que negociadores acertaram.
No entanto, Brasil e África do Sul adotaram uma estratégia diferente, postergando a decisão de expansão para o próprio encontro de cúpula. Essa manobra visava aumentar as chances de negociação direta entre os líderes.
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JAMIL CHADE
Todo sábado, Jamil escreve sobre temas sociais para uma personalidade com base em sua carreira de correspondente.
Quero receberO motivo por trás dessa escolha está no perfil dos presidentes Lula e Cyril Ramaphosa, ambos ex-sindicalistas com vasta experiência em negociações. A aposta de Brasil e África do Sul era de que, com a presença dos líderes no encontro, haveria maior margem para barganhas e influências.
Por outro lado, a China, sob a liderança de Xi Jinping, resistia a essa abordagem. Conhecido por preferir formalizar decisões já acordadas, Xi Jinping é conhecido por raramente entrar em negociações. Portanto, os chineses defendiam que as decisões fossem definidas previamente, enquanto Brasil e África do Sul buscavam maior flexibilidade e poder de negociação na cúpula.
Além do Brasil, a reunião do Brics contará com líderes do Egito, Índia, Irã, China, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, África do Sul, Azerbaijão, Armênia, Belarus, Bolívia, Cazaquistão, Quirguistão, República Democrática do Congo, Cuba, Laos, Mauritânia, Palestina, Tajiquistão, Turquia, Uzbequistão e Turcomenistão.
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