Biden promete transição ordenada e dá recado a Trump: eleição é 'honesta'
Joe Biden, presidente dos EUA, afirmou nesta quinta-feira (7) que a vontade do povo prevaleceu, pediu que a tensão no país seja reduzida e prometeu uma "transição pacífica e ordenada" de poder. Ele ainda tentou consolar sua base que vive um momento de troca de acusações e mandou recados a Donald Trump de que o sistema eleitoral americano funciona.
"Conversei com o presidente eleito [Donald] Trump para parabenizá-lo por sua vitória e garanti a ele que direcionaria todo o meu governo para trabalhar com sua equipe a fim de garantir uma transição pacífica e ordenada. É isso que o povo americano merece", afirmou Biden.
Em sua primeira declaração aos americanos após a eleição que deu a vitória a seu rival e depois de uma campanha eleitoral marcada por violência e até tentativa de assassinato, Biden pediu que a "temperatura seja reduzida" e que apoiadores possam ver os demais como americanos, e não adversários.
Biden superou Trump na eleição de 2020 e, até meados do ano, era o candidato dos democratas para mais um mandato. Mas sua condição de saúde e seu péssimo resultado nos debates levou o partido a pressioná-lo para deixar a corrida.
Entre os democratas, a derrota avassaladora de Kamala Harris também abriu uma onda de críticas contra Biden, argumentando que ele deveria ter deixado a campanha mais cedo e dado mais tempo para que a vice-presidente pudesse viajar o país. Ainda que a contagem de votos esteja ocorrendo, até a tarde desta quinta-feira (7) Kamala soma 13 milhões de votos a menos do que Biden conquistou em 2020.
O presidente confirmou que telefonou para Trump e o convidou para visitar a Casa Branca. Trata-se de um protocolo que, na prática, inicia o processo de transição.
A postura de Biden se contrasta com o comportamento de seu rival. Em 2020, o republicano se recusou a reconhecer sua derrota, dificultou a transição e sequer esteve na posse de Biden.
Agora, o presidente insistiu que o povo americano merece essa "transição pacífica e ordenada". "Por mais de 200 anos, os Estados Unidos realizaram o maior experimento de autogoverno da história do mundo", disse Biden.
Isso não é uma hipérbole. Isso é um fato. Onde as pessoas votam e escolhem seus próprios líderes, e fazem isso pacificamente. E estamos em uma democracia. A vontade do povo sempre prevalece
Joe Biden
Biden, que viajará no final do mês para a cúpula do G20 no Brasil, também defendeu seu legado e indicou que os efeitos de suas políticas só agora começarão a surtir efeito para a maioria dos americanos.
Ataques velados a Trump
Biden ainda usou a alocução para mandar recados a Trump, que passou meses questionando o sistema eleitoral. No próprio dia do voto, na terça-feira (5), o então candidato denunciou supostas "trapaças" no voto, sem qualquer prova. Elon Musk, dono da plataforma X, difundiu para uma audiência de 2 bilhões de visualizações, teorias conspiratórias sobre a eleição.
Em seu discurso, o presidente Biden garantiu a "integridade do sistema eleitoral americano". "É honesto, é justo e é transparente. E podemos confiar nele, ganhando ou perdendo", disse.
Democrata ainda agradeceu aos funcionários eleitorais que "correram riscos". "Podemos restaurar o respeito por todos os nossos funcionários eleitorais que se esforçaram e correram riscos desde o início. Deveríamos agradecê-los, agradecê-los por ocupar os locais de votação, contar os votos, proteger a própria integridade da eleição", disse.
"Muitos deles são voluntários que fazem isso simplesmente por amor ao seu país e, como eles fizeram, como cumpriram seu dever como cidadãos, eu cumprirei meu dever como presidente", disse Biden.
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Quero receberCampanha de ódio de Trump: 'não pode amar país só quando vence'
Biden também usou o discurso para fazer uma crítica velada ao tom usado por Trump na eleição. "Você não pode amar seu país apenas quando você ganha", disse Biden. A frase foi interpretada como um recado ao grupo de apoiadores do republicano que lideraram uma campanha de ódio contra parte do país.
Presidente disse entender que haverá sentimentos diferentes sobre o resultado das eleições de ontem, mas é importante "aceitar a escolha que o país fez".
Sei que para algumas pessoas este é um momento de vitória, para dizer o óbvio. Para outras, é um momento de perda. As campanhas são competições, de visões concorrentes. O país escolhe uma ou outra, nós aceitamos a escolha que o país fez
Joe Biden, em discurso no Rose Garden
"Você não pode amar seu país apenas quando ganha", acrescentou. "Não se pode amar o próximo apenas quando se concorda. Algo que eu acho que vocês podem fazer, independentemente de em quem votaram, é ver uns aos outros não como adversários, mas como compatriotas americanos."
Defesa de legado
Tentando salvar seu legado e insistindo que a economia vive um momento de força, Biden afirmou que "grande parte do trabalho que fizemos já está sendo sentida pelo povo americano". Mas a grande maioria não será sentida - será sentida nos próximos 10 anos. Temos uma legislação que aprovamos que só agora está realmente fazendo efeito", afirmou Biden.
Segundo ele, mais de um trilhão de dólares em obras de infraestrutura foram feitos durante seu governo. Isso "mudará a vida das pessoas em comunidades rurais e comunidades que estão em dificuldades reais".
Analistas e pesquisas de opinião apontam que a economia foi o grande responsável pela derrota dos democratas.
Consolando a base: 'não deixem de lutar'
Biden, que elogiou o "caráter" de Kamala Harris e sua campanha, ainda fez um apelo para que seus aliados e democratas não desistam de lutar. "Os contratempos são inevitáveis, mas desistir é inesquecível", disse o presidente. "Todos nós somos derrubados, mas a medida de nosso caráter, como diria meu pai, é a rapidez com que nos levantamos", insistiu Biden, que pediu o "engajamento" de todos.
"Lembrem-se: uma derrota não significa que estamos derrotados. Perdemos essa batalha. O país dos seus sonhos está pedindo que vocês se levantem. O espírito americano perdura", completou.
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