Eleição de Trump abala cenário externo, e mundo se prepara para turbulência
A vitória de Donald Trump abre uma nova etapa na política internacional e um fortalecimento do movimento de extrema direita global. Pelo mundo, e nos corredores da ONU, diplomatas, conselheiros e analistas se preparam para enfrentar meses de turbulência.
Em uma era marcada pela transformação do eixo de poder, Trump baseou sua campanha na promessa de que lutará por manter a hegemonia dos EUA. Inclusive com sanções contra aqueles que abandonarem o dólar.
De acordo com os planos construídos ao longo dos últimos anos, a Casa Branca ainda passará a ser o centro nevrálgico de uma operação globalizada da extrema direita mundial. O objetivo é ambicioso e os recursos são vastos: transformar a agenda internacional e impor um novo mundo.
A base seria um plano ultraconservador, com redefinição de direitos humanos e alimentando grupos de extrema direita em locais estratégicos para abalar os movimentos progressistas. Trump deve retomar alianças com governos reacionários, na esperança de frear qualquer ampliação de direitos para grupos LGBTQI+, mulheres e populações vulneráveis.
Essa batalha por uma nova hegemonia americana, porém, tem tudo para ser repleta de tensão.
Trump, por exemplo, promete subir tarifas de importação contra produtos estrangeiros. Se o foco é frear a ofensiva da China pela hegemonia comercial, o americano não descarta aplicar medidas protecionistas contra antigos aliados. Na Alemanha, em crise existencial com os abalos na Volkswagen, pode ser uma das vítimas.
Estudos realizados pelo German Economic Institute indicam que o maior país da Europa poderia sofrer perdas de 180 bilhões de euros nos quatro anos de Trump, caso ele aplique seu plano de governo, com uma queda de 1,5% no PIB alemão. Na UE, a contração seria de 1,3% da economia.
Os europeus ainda terão de arcar com a Otan, aceitar uma negociação com os russos por conta da Ucrânia e admitir que a aliança transatlântica - que perdurou durante todo o século 20 - está ameaçada. Por meses, a relação entre Trump e Vladimir Putin tem preocupado as principais capitais europeias.
Há poucos dias, o primeiro-ministro húngaro e aliado de Trump, Viktor Orbán, admitiu que a vitória do republicano obrigaria a Europa a se "adaptar" a uma nova realidade na Ucrânia.
Em Israel, a vitória de Trump foi amplamente comemorada por um governo formado por ministros de extrema direita. Para analistas, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu não sofrerá mais qualquer questionamento por parte da Casa Branca para "terminar o trabalho" com relação ao Hamas em Gaza e ao Hezbollah no Líbano.
Em diferentes capitais sul-americanas, o temor é outro: um foco na Venezuela e uma operação para tentar desestabilizar Nicolas Maduro. Tanto na Colômbia como no Brasil, diplomatas o risco é de que um fluxo ainda maior de refugiados seja gerado, além de uma guerra civil nas fronteiras brasileiras.
Na ONU e em outras organizações internacionais, a vitória de Trump foi ainda recebida com lágrimas e o temor de que seu mandato fragilize ainda mais uma entidade que luta pela sobrevivência. Em 2016, o republicano cortou recursos e abandonou instituições.
Agora, a ofensiva pode ser ainda maior.
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