Jamil Chade

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Reportagem

Macron diz a líder europeia enviada ao Mercosul que acordo é 'inaceitável'

Diante da iminência do anúncio de acordo entre o Mercosul e União Europeia, o presidente da França, Emmanuel Macron, afirmou nesta quinta-feira que mandou um recado para a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, de que seu país não aceitará o pacto da forma que está sendo proposto.

Von der Leyen desembarcou no Uruguai para a cúpula do Mercosul, uma viagem considerada como um sinal de que o acordo negociado durante 25 anos estaria próximo.

Mas a França insiste que não está disposto a ceder, ainda que quem negocie o tratado seja a Comissão Europeia. O acordo não depende dos franceses. Paris, mesmo assim, acredita que poderia criar uma aliança para barrar a ratificação do texto no Conselho da Europa.

"Continuaremos a defender incansavelmente nossa soberania agrícola", disse a presidência francesa nas redes sociais, diante da notícia de que a chefe do bloco havia viajado para o Uruguai.

O acordo prevê a maior parceria comercial e de investimentos do mundo. O pacto, porém, terá enormes dificuldades para ser ratificado do lado europeu, diante do protecionismo da França e da fragilidade de alguns de seus principais cabos eleitorais, como a Alemanha.

Pelo pacto, o Brasil conseguiu eliminar tarifas para bens como etanol, açúcar e carnes no mercado europeu, ainda que tenha de respeitar uma cota modesta. Do lado europeu, o pacto permite um maior acesso ao Mercosul para seus bens industriais e automóveis - uma ambição da Alemanha - assim como itens específicos como o vinho e facilidades para investimentos.

França entende que o acordo comercial é "inaceitável"

Segundo o Palácio do Eliseu, Macron "reiterou" a Von der Leyen que o projeto de acordo comercial entre a União Europeia e os países do Mercosul era "inaceitável como está".

Sua viagem também foi atacada por diferentes forças políticas na França. "A presença no Uruguai de Ursula von der Leyen, que se vangloria de acelerar a finalização do acordo com o Mercosul, é uma verdadeira provocação", escreveu Jordan Bardella, presidente do Rassemblement National, partido de extrema direita. Para ele, Macron precisa "anunciar o não firme e definitivo da França a esse acordo perigoso".

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A esquerda também é contra o pacto. "A França deve dizer claramente que jamais aceitará esse acordo", disse o coordenador do La France insoumise, Manuel Bompard.

Diplomatas consultados pelo UOL confirmaram que Von der Leyen havia avisado que apenas embarcaria se a chance de um entendimento fosse praticamente certa. Sua viagem, portanto, eleva a perspectiva de que um anúncio seja feito nas próximas horas.

Nas redes sociais, elas confirmou que já havia desembarcado na manhã desta quinta-feira. "A linha de chegada do acordo UE-Mercosul está próxima. Vamos trabalhar e cruzá-la", disse. "Temos de criar um mercado de 700 milhões de pessoas", afirmou. Segundo ela, trata-se da "maior parceria de comércio e investimento que o mundo já viu".

Do lado do Mercosul, os quatro países fundadores do bloco já chegaram a um entendimento e aceitam o texto do acordo comercial com a União Europeia, numa rara posição comum adotada tanto por Luiz Inácio Lula da Silva como Javier Milei.

O palco para o anúncio do acordo está montado: a cúpula do bloco que começa nesta quinta-feira, em Montevidéu. Von der Leyen tem previsto uma reunião com o presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou, ainda hoje.

Entre os diplomatas, o colapso de negociações ao longo dos anos levou governos a adotar um tom de cautela desta vez. "Já estivemos muito próximos em outras ocasiões", afirmou um experiente embaixador. Negociadores, porém, admitem que nunca o pacto esteve tão próximo como agora.

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