Jamil Chade

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Reportagem

4 anos depois, ataque ao Capitólio vive 'apagamento' e vira alerta global

Há quatro anos, um personagem marcou história. Vestido como um Viking, Jacob Chansley fez parte da ofensiva contra o Capitólio, num abalo à democracia americana. Durante a invasão, ele deixou um bilhete com ameaças ao então vice-presidente Mike Pence. Ele seria condenado a 41 meses de prisão.

Hoje, em declarações ao jornal New York Times, insiste que "experimentou a tirania em primeira mão". Segundo ele, o dia 6 de janeiro de 2021 foi "uma armação".

Ele não está sozinho em sua afirmação e o presidente eleito Donald Trump costura uma ofensiva para dar um novo significado para a data e transformá-la num gesto de resistência. O republicano, durante a campanha eleitoral, chegou a qualificar o 6 de janeiro como "um dia do amor".

Hoje, ele volta ao poder numa posição ainda mais predominante e será confirmado nesta segunda-feira pelo Congresso americano. Trump, agora, promete "agir muito rapidamente" para perdoar os autores dos ataques de 6 de janeiro.

Para diplomatas estrangeiros na capital americana ouvidos pelo UOL, o esforço de apagamento do que ocorreu naquele dia deve servir como um alerta ao mundo da operação da extrema direita. "O mundo acompanha com preocupação o que ocorre na democracia que se apresenta como modelo a todos", afirmou um embaixador de um país europeu, na condição de anonimato.

"Se aquelas cenas não são suficientes, o que será?", questionou outro diplomata.

Desde 2021, mais de 1.580 réus foram acusados e cerca de 1.270 foram condenados em uma investigação extensa que resultou em mais de 660 sentenças de prisão. Esses julgamentos resultaram em sentenças de até 22 anos de cadeia, como no caso do ex-presidente dos Proud Boys, Enrique Tarro.

Cerca de 200 dos réus foram acusados de porte de arma e 153 foram acusados de destruição de propriedade do governo.

"Nos últimos quatro anos, nossos promotores, agentes do FBI, investigadores e analistas conduziram uma das investigações mais complexas e com maior uso de recursos da história do Departamento de Justiça", disse o procurador-geral dos EUA, Merrick Garland, em um comunicado na segunda-feira.

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"Eles analisaram grandes quantidades de dados físicos e digitais, identificaram e prenderam centenas de pessoas que participaram de condutas ilegais naquele dia, iniciaram processos e obtiveram condenações em uma ampla gama de condutas criminosas. Já acusamos mais de 1.500 indivíduos por crimes ocorridos em 6 de janeiro, bem como nos dias e semanas que antecederam o ataque", continuou ele.

"Os servidores públicos do Departamento de Justiça têm procurado responsabilizar os criminosos pelo ataque de 6 de janeiro à nossa democracia com integridade inabalável. Eles se comportaram de uma maneira que adere ao estado de direito e honra nossa obrigação de proteger os direitos e as liberdades civis de todos neste país", acrescentou Garland.

Esforço para apagar e democracia não garantida

Mas tudo isso deve ser anulado a partir da volta de Trump ao poder. Numa coluna publicada no Washington Post, nesta segunda-feira, o presidente Joe Biden alerta que existe uma ofensiva para tentar "apagar" o que ocorreu em 6 de janeiro de 2021.

"Quatro anos depois, ao deixar o cargo, estou determinado a fazer tudo o que puder para respeitar a transferência pacífica de poder e restaurar as tradições que há muito respeitamos nos Estados Unidos", escreveu Biden. "A eleição será certificada pacificamente. Convidei o novo presidente para a Casa Branca na manhã de 20 de janeiro e estarei presente em sua posse naquela tarde", disse.

"Não podemos aceitar uma repetição do que ocorreu há quatro anos", escreveu Biden.

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"Milhares de manifestantes atravessaram o National Mall e escalaram as paredes do Capitólio, quebrando janelas e chutando portas", escreveu ele. "A apenas alguns quarteirões de distância, uma bomba foi encontrada perto do local onde se encontrava a nova vice-presidente, ameaçando sua vida. Agentes da lei foram espancados, arrastados, deixados inconscientes e pisoteados. Alguns policiais acabaram morrendo em decorrência disso", relatou.

"Como presidente eleito naquele dia, falei ao país e pedi paz e que a certificação fosse retomada", disse Biden sobre suas declarações em 6 de janeiro. "Mas neste dia, não podemos nos esquecer", escreveu ele. "Isso é o que devemos àqueles que fundaram esta nação, àqueles que lutaram e morreram por ela."

"E devemos nos comprometer a lembrar o dia 6 de janeiro de 2021 todos os anos", continuou o presidente. "Lembrar esse dia como um dia em que nossa democracia foi posta à prova e prevaleceu. Lembrar que a democracia - mesmo nos Estados Unidos - nunca é garantida", completou.

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