Brasil e China contrariam Trump e pedem Rússia e Ucrânia negociando guerra
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Em um recado ao governo de Donald Trump, o Brasil, China e aliados emergentes afirmaram que qualquer saída para a guerra no Leste Europeu precisa envolver e ser aceita tanto pela Ucrânia como pela Rússia.
Numa declaração lida nesta quinta-feira na ONU, o Brasil e o grupo que defende a negociação de paz na Ucrânia apontaram para a necessidade de que a soberania dos países, integridade territorial e a Carta das Nações Unidas sejam respeitadas, uma fala interpretada como um sinal de que uma partilha do território ucraniano - conforme sugerido por Trump - pode não ser um caminho sustentável.
Em setembro, Brasil e China costuraram a criação de um grupo de países favoráveis a uma negociação diplomática para encerrar a guerra na Ucrânia. Naquele momento, o bloco insistia sobre a necessidade de envolver os russos nas conversas, algo que era rejeitado pela Europa.
A iniciativa foi vista com desconfiança por parte dos europeus, criticada por Kiev e EUA.
Mas, com a chegada de Donald Trump ao poder, a situação mudou de forma radical. A Casa Branca passou a negociar com Vladimir Putin, deixando europeus irritados com a marginalização da Ucrânia no processo.
Nas últimas semanas, presidentes como Emmanuel Macron foram procurar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para pedir que o Brasil apoiasse a ideia de que todos deveriam estar envolvidos no processo negociador. Desta vez, o que os europeus queriam era o apoio para a participação da Ucrânia.
Nesta quinta-feira, Sérgio Danese, embaixador do Brasil na ONU, leu uma declaração em nome dos 17 países do "grupo da paz". Ele destacou como a guerra pode estar chegando a um "ponto de inflexão" e aplaudiu o que parece ser o início de um processo negociador. Para ele, trata-se de uma "oportunidade" para acabar a crise.
Lendo um texto em nome do grupo, o embaixador fez um apelo para que "todos abracem essa oportunidade" e negociem de forma "construtivo".
Para Danese, qualquer acordo deve ser negociado "diretamente entre eles (Ucrânia e Rússia) e aceito por eles".
O Brasil e o grupo de emergentes ainda defenderam que a ONU seja a base para a negociação.
"Desenvolvimentos recentes sugerem que o conflito pode estar se aproximando de um ponto de inflexão, com o foco mudando do campo de batalha para a mesa de negociações", disse. "Acolhemos essa possível mudança e a vemos como uma oportunidade de gerar um novo impulso para acabar com o conflito. Isso poderia marcar uma etapa crítica em direção à paz e abrir caminho para um progresso significativo e sustentável", afirmoiu Danese.
"Pedimos a todas as partes e interessados que aproveitem essa oportunidade e se envolvam de forma construtiva nas negociações de paz. O objetivo compartilhado deve ser o de encontrar uma solução justa e duradoura, que atenda às preocupações mútuas das partes em conflito e leve a um acordo de paz negociado diretamente por elas e aceitável para elas", afirmou.
"Acreditamos que a ONU pode desempenhar um papel na promoção de tais esforços diplomáticos e na implementação de qualquer acordo de paz", insistiu.
Danese destacou que a posição do grupo precisa ser ouvida. "Questões como segurança alimentar e energética, bem como assistência humanitária, devem ser parte integrante do processo de paz, e as vozes do Sul Global devem ser ouvidas e consideradas no apoio à paz na região", disse.
"Como a situação continua a evoluir rapidamente, nós, como membros do Grupo de Amigos para a Paz, estamos comprometidos em manter um estreito envolvimento uns com os outros e com todas as partes relevantes", disse. "Nós nos esforçaremos para aprofundar nossa compreensão das diversas perspectivas, promover pontos em comum e desempenhar um papel construtivo no apoio a todos os esforços em prol da paz. Juntos, estamos prontos para contribuir para uma resolução pacífica do conflito e um futuro melhor para todos", completou.
Além de Brasil e China, o grupo é formado ainda por Colômbia, Egito, México, África do Sul, Turquia e outros países emergentes. Participaram como observadores embaixadores europeus de países como a França e Suíça.
Pedido de cessar-fogo
Um outro trecho da declaração conjunta foi lida pelo embaixador da China na ONU, Fu Cong. Ele insistiu sobre a necessidade de um compromisso "com o respeito à soberania e à integridade territorial de qualquer Estado e a solução pacífica de controvérsias".
"Reconhecendo que não pode haver solução apenas por meios militares e que esses meios aumentam o sofrimento humano, desde o início, defendemos consistentemente uma solução pacífica rápida e a necessidade de observar os princípios de redução da escalada e a importância de não expandir o campo de batalha e não intensificar os combates", disse.
"Acreditamos firmemente que somente uma solução política negociada, incluindo diplomacia inclusiva e meios políticos baseados na Carta das Nações Unidas, pode pôr fim a esse conflito", afirmou Cong.
"Profundamente preocupados com as hostilidades prolongadas e os imensos impactos negativos que elas causaram, estivemos entre os primeiros a pedir um cessar-fogo imediato e completo - um pedido que reiteramos com firmeza hoje", completou.
2 comentários
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Luiz Amado Garcia Pereira Dias
China e Brasil estão corretos, esse Trump só pensa em conquistar vantagens e se apoderar dos depósitos de terras raras da Ucrânia.
Marcos Benassi
Ah, meu caro Jamil, se essa "oportunidade" civilizatória pudesse ser aproveitada... Pouco interessa ao TrAmp, que poderá minerar terras raras no território invadido e tomado pela Russia, evidente, e continuar cobrando da Ucrânia aquilo que *não estava combinado*. Todavia, se dermos sorte, algo melhor do que esse final imperialista pode surgir. Torçamos, pois.