No Japão, Lula critica Trump e protecionismo: 'Prisioneiros da ignorância'
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva usou um discurso no Japão hoje para lançar um alerta velado contra o governo de Donald Trump e pedir que países se unam para defender a democracia, o livre-comércio e o multilateralismo.
Sem citar o nome do presidente americano, Lula comentou sobre as principais ameaças geradas pela nova administração americana e pelo movimento de extrema direita no mundo. Diante do primeiro-ministro Shigeru Ishiba, Lula alertou para três "preocupações" que devem nortear "todos os presidentes, todos os primeiros-ministros e todos os povos democráticos do mundo".
Nós temos que primeiro brigar muito pela democracia. A democracia corre risco no planeta, com eleição de uma extrema direita negacionista que não reconhece sequer vacina, não reconhece sequer a instabilidade climática e não reconhece sequer partidos políticos, sindicatos e outras coisas.
"E a negação da política não trará nenhum benefício para a humanidade. Inclusive, os negacionistas não querem sequer atender o cumprimento do Protocolo de Kyoto", afirmou.
Livre-comércio
Lula ainda atacou as barreiras comerciais, também num recado ao governo americano, um dos maiores aliados do Japão. "A segunda coisa que nós precisamos defender muito bem e com muita força é a questão do livre-comércio", disse.
Sua fala ocorre às vésperas de Trump iniciar a adoção de um amplo pacote protecionista, a partir do dia 2 de abril. O governo brasileiro, assim como a Câmara de Comércio Brasil-EUA, enviaram para a Representação de Comércio dos EUA (USTR, sigla em inglês) documentos já no dia 11 de março alertando sobre o impacto negativo que teria uma tarifa americana sobre os produtos nacionais.
Desde então, negociações têm ocorrido entre os dois governos. Lula, porém, foi enfático na crítica ao protecionismo.
Nós não podemos voltar a defender o protecionismo. Nós não queremos uma segunda Guerra Fria. O que nós queremos é comércio livre para que a gente possa definitivamente fazer com que nossos países se estabeleçam no movimento da democracia, no crescimento econômico e na distribuição de riqueza.
Por fim, Lula insistiu na "manutenção do multilateralismo", em meio ao colapso dos organismos internacionais e aos ataques de Trump contra os tratados.
"É muito importante a relação entre os países. É muito importante a relação política. É muito importante a relação entre universidades. É muito importante a troca de experiências científica e tecnológica. É muito importante a relação entre os sindicatos. É muito importante a relação entre os partidos políticos."
"E, sobretudo, é muito importante a relação entre os povos. Porque nós não queremos mais muros. Nós não queremos mais Guerra Fria. Nós não queremos mais ser prisioneiros da ignorância. Nós queremos ser livres e prisioneiros da liberdade", completou.
Acordos comerciais
Lula assinou hoje dez acordos comerciais do Brasil com o Japão. Os documentos preveem cooperação entre os dois países nas áreas de meio ambiente, indústria e educação.
Em fala após o encontro, o primeiro-ministro Shigeru Ishiba citou o desejo de ampliar os investimentos no Brasil de empresas japonesas e pontuou a intenção de elevar o patamar da relação entre o país e o Mercosul.
O presidente brasileiro disse que tem a meta de elevar o comércio bilateral entre as nações dos atuais US$ 11 bilhões para US$ 17 bilhões, valor registrado em 2011. Para Lula, o atual patamar das transações entre os países "não corresponde ao tamanho das nossas economias".
Ele também reforçou o interesse em fechar acordo comercial do Japão com o Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia). "Espero lançar negociações de um acordo com o Japão durante a presidência brasileira do Mercosul no próximo semestre", disse.
Crise climática e guerra Israel-Gaza
Lula lamentou o rompimento do cessar-fogo entre Israel e a Faixa de Gaza e a morte de um brasileiro de 17 anos dentro de uma prisão israelense. "Estamos vendo com muita seriedade o fim do cessar-fogo na Faixa de Gaza, onde muitas pessoas já foram mortas e essa semana nós tivemos a tristeza de ver um brasileiro que foi preso na prisão em Israel."
O presidente brasileiro também mencionou a Guerra na Ucrânia para falar sobre a escalada de conflitos no mundo e apontou que países que antes "simbolizavam a ação democrática" estão sofrendo riscos de desestabilização.
"Nós estamos vendo os países que simbolizavam a ação democrática sofrendo riscos de desestabilização pela função e participação da extrema-direita, nós vimos o que está acontecendo na Europa, que era uma parte do mundo que só vivia em termos de tranquilidade. E hoje, depois da guerra da Ucrânia, o que nós estamos assistindo é a Europa voltar a se preparar para comprar armas, para investimento em seu armamento."
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