Trump abala meio século de leis comerciais: 'Virou de cabeça para baixo'
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A nova política comercial de Donald Trump abala meio século de regras de exportação e importação que vigoraram pelo mundo e obriga governos pelo mundo a se reorganizarem.
Enquanto o presidente anunciava ontem suas tarifas, embaixadores e ministros de todo o mundo acompanhavam pelas televisões um pronunciamento que foi de fato considerado como histórico. "Foi um terremoto", admitiu um experiente negociador.
Trump, numa só tacada, violou todos seus compromissos tarifários na OMC (Organização Mundial do Comércio), ignorou a situação de desenvolvimento dos países e ainda quebrou todos os protocolos, anunciando as tarifas num evento sem qualquer informação prévia aos demais países.
O americano estabeleceu um patamar mínimo de 10% de tarifas para todos os produtos que entram no país. Quanto mais uma economia cobra dos bens americanos para entrar em seus mercados, maior foi a taxa recíproca estabelecida por Trump contra aquele parceiro. Assim, países como a China passaram a sofrer tarifas de 34%. Foram 20% para a União Europeia, 17% para Israel e 10% para Brasil, Argentina ou Bolívia.
Um dos elementos que chama a atenção de negociadores é que a lógica adotada por Trump desmonta um princípio fundamental do sistema comercial: a divisão dos países em dois grupos, desenvolvidos e em desenvolvimento.
Pelas normas, países em desenvolvimento têm o direito de ter tarifas de importação superiores aos países ricos, justamente para permitir que possam desenvolver suas indústrias e setor produtivo. Eles também são beneficiados por um período mais longo para adotar acordos internacionais que estipulem a abertura de mercados.
Para Rubens Ricupero, embaixador brasileiro e negociador de diferentes rodadas comerciais, Trump "desconsidera tudo isso".
De fato, países como Bangladesh foram taxados em 37%, contra 44% para Sri Lanka, 47% para Madagascar, 48% ao Laos e 32% de tarifas sobre Angola. Todas essas barreiras ficaram acima dos impostos adotados sobre europeus, australianos ou outros países ricos.
A lei não se aplica ao Brasil. Jair Bolsonaro, em seu primeiro ano de governo, abriu mão de forma unilateral dessa condição de país em desenvolvimento na tentativa de agradar a Trump. Mas a regra é considerada crítica para dezenas de países mais pobres. Com as tarifas de Trump, a diferenciação acabou.
Outra violação se refere aos compromissos americanos na OMC. Ao anunciar suas novas tarifas, o governo Trump desrespeita o teto das taxas de importação que prometeu aplicar contra bens importados. No setor agrícola, a tarifa americana média era de 9,2%, contra apenas 4% no setor industrial. Tudo isso, agora, é letra morta.
"Trump coloca o sistema do comércio de cabeça para baixo", admitiu Ricupero.
Para ele, há um sentimento de que os EUA estão "saindo da competição" ao constatar que não podem mais ganhar o jogo adotando as regras que eles mesmos forjaram há décadas para o sistema comercial.
Ricupero, que foi peça central nas negociações da Rodada Uruguai nos anos 80, lembrou ainda como os países em desenvolvimento foram fustigados pelos americanos naquele momento, justamente por manterem seus mercados relativamente fechados. "Você não sabe o que eu ouvi de desaforo dos EUA", relembra. "O que nós fazíamos [ao manter barreiras] era uma abominação para eles", disse.
Hoje, porém, são os americanos que recorrem ao protecionismo, ao constatar que não podem mais competir.
Reorganização do comércio
Outro impacto do terremoto causado por Trump tem sido a busca de governos por forjar alianças comerciais que não incluam os EUA. Nesta semana, China, Japão e Coreia do Sul ensaiaram uma aproximação inédita.
A decisão de promover uma negociação ocorreu depois que três países realizaram seu primeiro diálogo econômico em cinco anos.
O Japão e a Coreia do Sul estão buscando importar matérias-primas de semicondutores da China, e a China também está interessada em comprar chips do Japão e da Coreia do Sul.
Houve ainda um acordo de que todos tentarão fortalecer a cooperação da cadeia de suprimentos e dialogar mais sobre os controles de exportação.
Durante a reunião, os ministros do comércio dos países concordaram em acelerar as negociações sobre um acordo de livre comércio entre Coreia do Sul, Japão e China para promover o "comércio regional e global".
5 comentários
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Eri Antonio Babbini
TrumpE abala meio século de leis comerciais , que eles mesmos ( os EUA ) criaram , PQ tinham a hegemonia economia pós 2ª Guerra e ditavam o comercio mundial ( que eles detinham mas de 50% ), com sua imposições e subsídios... 60 anos depois, o mundo se adaptou a isso é os superou ( hoje tem menos de 20% da economia mundial, os BRICS ( com 10 países ) já são mas de 50% )... Mas como todo Império prepotente, decadente , vai tentar mudar as regras para manter sua hegemonia, mas esta fracassando miseravelmente... E isso não tem preço.
Horacio Avelino Lourenco Rodrigues
Independente de ser o certo ou errado, Uma coisa é óbvia, fez porque pode, quem não pode ou não saber poder só resta abaixar a cabeça e ficar de mimimi...