Jamil Chade

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Reportagem

Próximo a Francisco, Lula espera que novo papa mantenha agenda progressista

Com o conclave mais internacional da história do Vaticano, a esperança do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é de que a agenda e doutrina social adotada por Francisco sejam mantidas pelo futuro papa.

Nesta semana, Lula viaja com uma delegação para o funeral do pontífice, que será realizado no sábado em Roma. Ainda que nenhuma reunião esteja sendo programada, a aposta do governo é de que o papa argentino tenha criado condições para que um novo nome progressista possa ser eleito. Com sete cardeais com direito a voto e considerado o maior país católico do mundo, o Brasil espera manter seu peso num futuro papado.

Para o Brasil, a agenda de Francisco não apenas coincidia com as diretrizes da política externa de Lula, como permitia que alguns de seus principais elementos ganhassem uma chancela fundamental de uma instituição presente nos rincões mais distantes do planeta, assim como nos centros do poder.

Perder esse apoio significaria o enfraquecimento de algumas das principais apostas de Lula na agenda internacional.

Já a vitória de um conservador no conclave não somente ameaçaria frear parte dos avanços da agenda progressista, como daria base moral para políticas adotadas por grupos de extrema direita, principalmente no governo de Donald Trump.

A avaliação no Palácio do Planalto é que o papa Francisco marcou a melhor fase da relação entre o Brasil e a Santa Sé desde o fim da ditadura.

Em novembro de 2023, num encontro com a diplomacia brasileira, Francisco pediu que fosse mandada uma mensagem de "apreço" ao presidente Lula e um desejo de êxito em sua "tarefa hercúlea".

No mesmo contato, Francisco também destacou o governo de Dilma Rousseff e, ao comentar sobre a ex-presidente, disse que ela seria "uma mulher honesta".

Ao longo dos dois anos, a troca de cartas entre os dois governos foi intensa. Lula esteve com Francisco em duas ocasiões.

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A primeira ocorreu em meados de 2023. Naquela ocasião, o papa pediu a ajuda do Brasil para garantir a liberação do bispo Rolando Alvarez, detido na Nicarágua. Apesar das tratativas do Itamaraty, a relação entre o regime de Daniel Ortega e a Santa Sé apenas se deteriorou nos meses seguintes.

Fontes destacam que uma prova da convergência entre os dois líderes ocorreu em janeiro de 2024. Naquele mês, o Brasil começava a preparar sua agenda na presidência do G20. Ainda que os temas não tivessem sido anunciados publicamente, havia uma decisão de que o Itamaraty usaria a ocasião para promover a ideia de uma aliança contra a fome e a pobreza.

No dia 8 de janeiro daquele ano, num encontro com o corpo diplomático estrangeiro, o papa Francisco fez exatamente a mesma proposta: a criação de um fundo internacional para lidar com a fome e a pobreza no mundo.

Mas a relação não se limitou aos encontros entre os dois líderes. Num raro gesto, Francisco recebeu o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. O encontro, segundo fontes na Santa Sé e que estiveram na sala, o brasileiro foi chamado de "ministro humanista" por parte do pontífice.

As consultas políticas também passaram a ser regulares entre o Brasil e a Santa Sé. O cardeal Pietro Parolin, o secretário de Estado e um dos nomes cotados para substituir Francisco, esteve em duas ocasiões no Brasil nos últimos dois anos.

Numa delas, em abril de 2024, foi recebido por Lula e esteve no STF. Num jantar na residência no Núncio Apostólico em Brasília, ele ainda esteve com o chanceler Mauro Vieira, Haddad e o assessor internacional do Planalto, Celso Amorim.

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Ainda em 2023, em outubro, fontes na Santa Sé sugerem que foi a ação da Igreja que garantiu a vida de 28 pessoas que tinham se refugiado na Igreja do Santo Rosário, em Gaza, quando os ataques de Israel começaram.

Sabendo da relação entre a Igreja e Israel, o governo brasileiro entrou em contato com a Santa Sé, explicando a situação das 28 pessoas que haviam encontrado abrigo. Naquele momento, relação entre o Brasil e Israel já não era das melhores.

A diplomacia da Santa Sé jamais explicou o que fez. Mas a Igreja, enquanto os brasileiros estavam escondidos, jamais foi bombardeada.

Na guerra na Ucrânia, mais uma vez os dois governos coincidiram ao agir, nos bastidores, pela defesa das crianças que tinham sido levadas pelos russos.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

3 comentários

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Caio Marcelo Picolo

Era mesmo.. o Papa tinha um olhar especial por presidiários 

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Roberto Nogueira Giosa

Pode esquecer. Quem decide o que é melhor para os católicos é o Espírito Santo. 

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Usitecnica

Será que a turma do lula fez algum desconto ilegal na aposentadoria do papa, por eles não perdoaram nem os velhinhos doentes que recebe um salário mínimo.

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