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Jeferson Tenório

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Discurso de Deltan tenta ocultar projeto de poder ultradireitista

Deltan Dallagnol, em entrevista ao Roda Viva - Reprodução de vídeo
Deltan Dallagnol, em entrevista ao Roda Viva Imagem: Reprodução de vídeo

Colunista do UOL

30/05/2023 14h07

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Com respostas decoradas e ensaiadas, o deputado cassado Deltan Dallagnol (Podemos-PR) assumiu nesta segunda feira, durante entrevista no programa Roda Vida, uma posição ultradireitista disfarçada de direitista, trazendo argumentos religiosos e conservadores para justificar a corrupção bolsonarista, criticar o TSE e ignorar o descaso do governo Bolsonaro na pandemia, além de manifestar contrariedade ao Projeto de Lei 1085/23, do Poder Executivo, que equipara salários de homens e mulheres em cargos com a mesma função ou de igual valor.

Os malabarismos argumentativos de Deltan são frutos de uma ideologia que mistura política, crenças religiosas e distorções de leis para afirmar uma posição ultradireitista que tem ganhado força já há bastante tempo no Brasil. Deltan, assim como o ex-ministro e ex-juiz da Lava Jato Sérgio Moro de fato parecem acreditar no que dizem, e se colocam como vitimas de um sistema e também como "salvadores" escolhidos por Deus para mudar o destino do Brasil. Um discurso messiânico muitas vezes utilizado por Bolsonaro.

Respostas enviesadas ou distorcidas da realidade -constrangedoras, até- parecem fazer parte da estratégia: tratou a Vaza Jato, um dos maiores escândalos do Judiciário brasileiro, como mera fofoca. Poupou Bolsonaro das acusações de corrupção em seu governo. Ignorou a má gestão do ex-presidente durante a pandemia sem entrar no trágico resultado das mais de 600 mil mortes e ainda defendeu Moro com o argumento de vingança dos corruptos.

Aliás, sempre que questionado pelos indícios de corrupção entre seus aliados, Deltan optava por trazer argumentos econômicos, segundo ele, positivos, para justificar, por exemplo, sua escolha no segundo turno por Bolsonaro. "Em relação ao Bolsonaro, não concordo com tudo que ele diz, com tudo que ele fez. Não vou ficar aqui dividindo a direita. Minha posição não é dividir a direita". Ao mesmo tempo em que prefere se afastar da família do ex-presidente dizendo defender causas, e não pessoas.

Ao ser perguntado sobre por que votou contra o projeto de lei de equiparação de salários entre homens e mulheres, Deltan mais uma vez tergiversou, alegando que igualar o valor salarial poderia causar um "efeito rebote". O argumento esdrúxulo, segundo o ex-procurador, consiste em "proteger" as mulheres porque ele teme que, com a lei aprovada, as empresas passem a não contratá-las por medo de serem multadas. O discurso é até mais que esdrúxulo porque reforça a desigualdade de gênero, é um discurso que propõe que mulheres continuem ganhando menos que os homens.

Com críticas ao TSE, Deltan se coloca como alguém que foi punido por combater a corrupção no Brasil, mas não vê problemas em ter lucrado com a Lava Jato, nem ter feito um conluio altamente parcial com o ex-juiz Sergio Moro para julgar réus. De fato, a entrevista no Roda Viva demonstra que o discurso conservador de Deltan é apenas uma capa para ocultar um projeto de poder ultradireitista no Brasil.