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José Luiz Portella

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Lula e Alckmin: Uma chapa decisiva

Geraldo Alckmin e Lula em inauguracao da fábrica em Palmital (SP), em 2014 - Zanone Fraissat/FOLHAPRESS
Geraldo Alckmin e Lula em inauguracao da fábrica em Palmital (SP), em 2014 Imagem: Zanone Fraissat/FOLHAPRESS

Colunista do UOL

05/11/2021 18h30Atualizada em 05/11/2021 21h59

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Lula/Alckmin é uma chapa difícil de construir, um tanto surpreendente pelo passado de ambos, mas que pode se constituir.

E a novidade é que, diferente do se pensa, amigos bem próximos de Alckmin detectaram que Alckmin está muito entusiasmado, muito interessado por temas nacionais que o desafiam desde que os estudou com afinco, quando candidato à presidência.

Alckmin foi o cidadão que mais governou São Paulo, e isso é uma honra, porém cria uma rotina menos desafiadora do que enveredar pelos problemas nacionais, ainda mais no momento grave em que vivemos.

Enfrentar as questões econômicas, a provocação de prover infraestrutura para o escoamento agrícola, a renda nacional focalizada para retirar brasileiros da extrema pobreza, mudar os rumos da política educacional, retomar o Brasil pós-covid, tudo isso instiga a Alckmin. Claro que ele se sentiria honrado de governar São Paulo novamente, mas a questão nacional é um atrativo, que ficou mais aguçado com a candidatura de 2018. As pessoas são tentadas por aquilo que ainda não conquistaram.

Então, se depender disso, a chapa pode acontecer, sobretudo se Lula der a Alckmin uma função executiva e deixar em aberto a possibilidade de Alckmin ser candidato em 2026 à presidência. O problema nesse quesito é acreditar no PT. Porém, se Alckmin for bem como vice e ganhar musculatura nacional, ele pode ser candidato independentemente do PT. Acho que Alckmin, pela sua conduta, deixaria isso claro: a possibilidade de ser candidato adiante, sem que isso seja visto como traição. Alckmin não é assim.

Por parte do PT, tanto de pessoas ligadas a Lula, como a Haddad, tal aliança é vista como positiva. Lula já está engolindo casos piores do que Alckmin, que confrontou o PT duramente, mas em campanha. Alckmin não passou para o outro lado, ajudando a derrubar Dilma como outros com que Lula está conversando sem cerimônia.

Lula realizou reuniões e acordos com políticos que trabalharam assiduamente para a queda de Dilma. Lula é pragmático.

Ele sabe que uma terceira via, apoiada por Alckmin em São Paulo, pode crescer e colaborar para superá-lo no segundo turno. Lula não vai cobrar de ninguém embates anteriores, porque entende que não governará sem fazer alianças, inclusive com parte do Centrão. Não se espere que Lula vá excluir o Centrão de sua base de apoio e, muito menos, olhar o passado, começando por Kassab, que Lula fará tudo para ter junto. Kassab já conversou com Lula e nunca deixaria fechada a porteira de uma aliança após o primeiro turno. Talvez antes, Rodrigo Pacheco não chegue até lá. Por falta de intenção de voto.

O problema é que Alckmin sabe que em São Paulo ele é favorito e tem 90% de probabilidade de ganhar a eleição. Trocar o certo pelo duvidoso não é uma tarefa fácil para um político que se transformou na noiva mais desejada. Pelos partidos em São Paulo e, agora, para uma composição em nível federal. A União Brasil, vergastada por Kassab com as defecções Rodrigo Pacheco e José Luiz Datena, não exclui a possibilidade de lançar Alckmin a presidente. Isso está na mesa, por enquanto, e pode atrapalhar o lance de Lula, mas não o alegado desejo de governar São Paulo, pela quinta vez.

Alckmin também deixaria em São Paulo uma ampla avenida para Haddad, o que poderia lhe ser cobrado pelos amigos do PSDB. Isso sim é um problema, que pode levá-lo a não aceitar uma composição com Lula.

E no fundo, pode abrir a possibilidade de Rodrigo Garcia ou João Doria, um dos dois ir para o segundo turno no Estado. Caso Doria perca as prévias. Márcio França enrosca esse jogo, pois sente com condições de ir para o segundo turno com Haddad, quando teria o viés de ser contra a esquerda. Ele crê que foi a pecha de Márcio Cuba que lhe tirou a eleição.

Alckmin não tem nada pessoal contra Haddad, mas o PSDB tem.

E Alckmin tem carinho e consideração muito grandes pelos fiéis companheiros do PSDB.

Alckmin virou agora um fator decisivo. Se aceitar a composição, o que, reiteremos, não é construção fácil, ele forma uma chapa "matadora" com Lula. E Lula sabe disso. É sagaz.

No momento, a formação dessa chapa, que começou com um balão de ensaio, é a questão mais importante da eleição.

Lula tem o Nordeste, o Norte, mas em São Paulo há uma resistência ao PT. Alckmin, no interior, não terá facilidade para explicar, mas se conversar bastante, como costuma fazer, consegue arrastar para a chapa muitos votos que o PT não tem. O antilulismo vai ficar muito bravo. Mas Alckmin consegue.

Alckmin pode amanhã dizer que não quer, está pensando profundamente, mas, se atravessar o Rubicão, pode decidir a eleição. Ele também sabe disso.

O Brasil não é para amadores, e a situação criada por Bolsonaro abre novas justificativas e novas perspectivas. Alckmin gostaria de ajudar a conduzir o Brasil. A ver.