Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
A estranha ascensão de Moro
Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
Moro está assombrando a Bolsonaro, Lula e a todos nós.
Ele conseguiu uma posição incrível : mesmo diante de tantas explicações que tem a dar sobre sua atuação no Telegram, Lava Jato e movimento político na ida para o ministério, depois de ter ajudado claramente a Bolsonaro, ele encontrou uma blindagem que o faz captar votos, independentemente do que fez.
Por quê?
Porque Bolsonaro causou tal rejeição, tal arrependimento dos antigos antilulistas, que Moro virou um estuário convidativo. E por Lula não mostrar nenhum arrependimento pelos erros, nenhuma autocrítica e se comportar com certa presunção diante dos equívocos. Ou seja, o espírito da época, o Zeitgeist, é algo no sentido excludente, vota-se contra o que mais se rejeita.
Isso não seria novidade, acontece frequentemente, a novidade é ser tão forte, que quaisquer vícios da alternativa, no caso, Moro, não afeta o desejo de votar nele.
Ocorreu com Bolsonaro semanas antes do primeiro turno em 2018, todas as insanidades que ele falara no passado, não foram levadas em conta, tal a rejeição ao PT. Este, teria que fazer uma revisão, em quatro anos, com tantos absurdos de Bolsonaro, melhorou sua posição, mas não logrou evitar a continuidade de tal repulsa, no eleitorado de centro.
Quanto mais Bolsonaro e Lula falarem mal, criticarem Moro, mais eles estarão propiciando adesões a ele. É exatamente, na eleição, o efeito reverso, quando a crítica ao antagonista feita por determinado candidato tem o efeito de o elevar em vez de subtrair votos. Quer dizer, Bolsonaro e Lula se transformam em cabos eleitorais de Moro. Paradoxal, contudo real. Aí reside a a posição incrível.
Sérgio Moro não mostrou até agora conteúdo para ser presidente. É certo que seria bem menos letal do que Bolsonaro, porém o vazio de propostas para um Plano de Desenvolvimento do Brasil, a superficialidade do que apresenta e o desconhecimento da gestão pública são sinais graves para o futuro, se não melhorar.
Pedro Fernando Nery, um atilado observador da coisa pública, em sua coluna de hoje, terça-feira no Estadão, Moronomics, perscruta bem o livro de Moro, e mostra como esses defeitos: superficialidade, falta de proposta mais elaborada e desconhecimento básico da Economia, como Bolsonaro, aparecem na publicação e no discurso do candidato.
Em outro lado, na UOL, aparecem juristas afirmando que a Corte Anticorrupção proposta por Moro em sua área de atuação, seria inconstitucional.
Moro revela um certo gosto por atalhos que atropelariam o caminho legal, que ele deveria respeitar antes de tudo.
Todavia, é importante também observar porque chegamos a mais esta jabuticaba política.
Os quatro anos de desventuras de Bolsonaro não realizaram o surgimento de opções para o Nem-Nem.
Nem Ciro, a quem não faltam propostas, nem conhecimento da máquina pública, porém sobram presunção e forma de comportamento semelhante ao de Collor, agressivo, com ofensas pessoais descabidas e palavras chulas que não se harmonizam com um presidente, sobretudo depois da distopia bolsonariana.
Como o Brasil não conseguiu produzir uma alternativa?
É caso para refletirmos muito. A interação de todos nós, e não a culpa de um ou dois setores da sociedade, é que produz isso. Somos todos culpados de alguma forma. Somos culpados independentemente de culpa como alude certa área do Direito. Não é possível que algo assim aconteça sem a participação de contingente amplo da sociedade, incluindo certas vozes de mercado, hoje estarrecidas, mas que apoiaram com vigor e olhos blindados a Bolsonaro, em atitude semelhante a atual que sustenta o apoio a Moro.
O Brasil tem muitos "coitados" e poucos responsáveis, na hora H todo mundo sai pela tangente como se não tivesse nada com o assunto.
Moro assombra a todos e por enquanto, apesar dos defeitos, está se mexendo bem na conquista de apoios e votos, surpreendendo aos políticos mais antigos e experientes, que tiveram oportunidade de ocupar esse espaço que hoje Moro ocupa.
Assombração, sabe para quem aparece.
O Brasil não quer aprender.
.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.