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José Luiz Portella

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Arthur Lira vai abandonar Bolsonaro, parte do Centrão também

Arthur Lira e Jair Bolsonaro - Paulo Jacob/Agência O Globo
Arthur Lira e Jair Bolsonaro Imagem: Paulo Jacob/Agência O Globo

Colunista do UOL

03/01/2022 11h00

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Arthur Lira quer se reeleger na presidência da Câmara. Para se reeleger, ele não pode se tornar um ícone do governo Bolsonaro.

Hoje ele é e tem a chave do cofre feito para parlamentares. Verbas, emendas, atendimentos, tudo passa por ele.

Ele sabe e por isso não rompeu com Bolsonaro. O Centrão colocou Bolsonaro num cercadinho, o cercadinho do impeachment. Ocorre que a fila do poder anda. Bolsonaro não vai se reeleger.

Arthur Lira terá que, junto com parte do Centrão, que não é Bolsonaro raiz, ir cuidadosamente escorregando para fora da pista atual.

Normalmente, o Centrão faz tal transição com a mudança de nomes, e os velhos, depois assinam um ato de confissão de culpa: Mudei, porque errei. E tudo volta ao normal.

Seja qual for o presidente eleito, inclusive Lula, no presidencialismo de coalizão, desastre que não se corrige com a reforma política, irá compor com o Centrão, Alguém duvida?

Mesmo parlamentares acusados de participarem do "golpe" contra Dilma serão aceitos na base governista de Lula, se ele for eleito.

Arthur Lira não vai comprometer seu futuro, depois de ter experimentado as delícias de ser presidente da Câmara, com direito a ser recebido com tapete vermelho na Faria Lima, e ser chamado intima e carinhosamente de Arthur por André Esteves, ele não pretende voltar a ser um parlamentar do baixo clero ajudante de Eduardo Cunha. Apreciou a promoção. Todo mundo aprecia.

Para tentar se reeleger, ele precisa estar pelo menos num polo neutro, e para isso, precisa deslizar de onde se encontra rumo ao novo Poder.

Ele e o Centrão podem ser tudo menos ingênuos, e sabem que as pesquisas não estão fraudadas, e que os parlamentares nordestinos vão sofrer para sustentar o nome de Bolsonaro.

O que vão fazer?

Aproveitar até o último sumo da laranja, e em vez de jogar o bagaço fora rapidamente, vão com cuidado encontrar um lugar para depositá-lo. E isso tem que acontecer antes das eleições.

Não dá para perder junto, e após, negar o candidato. Isso vai ao encontro de Lula, sobretudo no Nordeste, e Arthur Lira sabe disso. O Centrão também.

Tal deslizamento pode criar outras condições no cenário eleitoral assim como outros fatos supervenientes.

É cedo para se cravar resultados. O mercado, que tem um exército de pesquisadores e informantes, errou todas as previsões de dólar, bolsa e inflação para 2021. O mercado político deveria ser mais cauteloso. Hoje o quadro é totalmente favorável a Lula. Bolsonaro não vai ganhar, mas o surgimento de uma terceira via capaz, ainda não está fora de cogitação.

As articulações para composição da chapa presidencial e as alianças estaduais, que não obedecem qualquer lógica e sim a composição de poder nos Estados, oferecerão oportunidades de mudanças inesperadas.

Arhtur Lira e sua turma são elementos-base dessas possíveis reconfigurações. É preciso acertar a tempestividade, o "timing".

O Centrão lembra Gal Costa na música Folhetim:

E se tiveres renda.

aceito uma prenda ou qualquer coisa assim,

E eu te farei as vontades,

direi meias verdades,

E te farei, vaidoso, supor

Que és o maior e que me possuis,

Mas na manhã seguinte,

Não conta até vinte, te afasta de mim

Pois já não vales nada, és página virada

Descartada do meu folhetim.

A vida é assim. Dura!

Arthur quer continuar ligando para André Esteves e cancelar Bolsonaro, futuramente.