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José Luiz Portella

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Moro, Ciro, Doria e a corrida pela terceira via

Os dois são pré-candidatos à Presidência da República - Pedro Ladeira/Folhapress e Marcos Oliveira/Agência Senado
Os dois são pré-candidatos à Presidência da República Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress e Marcos Oliveira/Agência Senado

Colunista do UOL

09/01/2022 12h16

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Neste momento, a questão mais importante é se haverá terceira via. Se não houver, Lula ganha a eleição, goste-se ou não. Foi uma construção de Bolsonaro.

Apurando os bastidores dos movimentos dos candidatos que podem se transformar em terceira via, a situação não é alvissareira, todavia não se pode descartá-la, por ora.

Abril será o mês em que isso vai ter inflexão decisiva. Os candidatos têm quatro meses para a sustentação (ou não) das respectivas candidaturas.

Quais são as estratégias?

Moro entregou de bom grado toda a articulação política a Renata Abreu.

Ela vem se desincumbindo bem. Está procurando com habilidade os bolsonaristas arrependidos, que é o melhor filão a agregar, e o voto de centro-direita, que deseja fugir de Lula. São coisas diferentes, embora próximas. Uma, apoiou Bolsonaro com convicção ideológica, outro votou para rejeitar o PT.

Renata cuida também das alianças partidárias com ênfase para o conúbio com União Brasil de Bivar. Se conseguir, efetua um grande avanço. Renata gosta de mostrar a intimidade que adquiriu com Moro, tratando-o por Sérgio, nome que só a mulher dele usa. Moro está se movimentando como pode, indicando gana política, com os escorregões naturais de quem é neófito.

Ele busca os 15% em abril, que o colocaria em patamar destacado dos demais, praticamente soterrando-os. Ele lida com uma rejeição que não é pequena e com o não-esclarecimento das mensagens do Telegram, o Lavajatismo espetaculoso e a forma como sumiu politicamente após deixar o governo. Aposta que o descontentamento com a polarização atual, e o enfraquecimento das outras candidaturas trarão também, alguns pontos de outros candidatos, para si. Espera que Doria possa se juntar como vice e anabolizar a campanha. A ver, em abril.

Doria vai fazer seu lance para crescer nas inaugurações de obras de grande porte que pretende entregar até abril. E vai procurar mais base partidária, escudado na ampla aliança que Rodrigo Garcia montou em SP. É difícil a jornada de Doria.

Se depois de três anos como governador do maior estado da federação e com bom posicionamento com relação à vacina, ostenta números em torno de 2%, é complexo escalar em 4 meses o tempo perdido. Imagem não se muda tão facilmente. Doria está num dilema hamletiano, ser ou não ser, pois se não se elege, volta a ser um cidadão sem mandato, e que pode perder o governo de SP. A candidatura de Tarcísio em SP não deve ganhar, mas tira votos conservadores de Rodrigo Garcia. Doria terá, em conjunto com o PSDB, uma reflexão complicada em abril.

Ciro aposta em João Santana para dar uma virada em sua imagem de modo a torná-lo mais aceitável.

O PDT está jogando tudo na aliança com Alckmin e o PSB, explorando a mania do PT de não ceder espaço para os aliados.

O ocorrido com Márcio França, ao contrário do que aventaram, que o tiraria do mapa, tornou-se uma barreira pra o PSB: se o fizer, estará coonestando as acusações e culpando-o.

O PDT está investindo muito nisso agora, para tirar Alckmin de Lula, fazê-lo candidato a governador, colocar França como vice, que seria o desenho antes de Alckmin se aproximar de Lula.

A vantagem é ganhar um grande palanque em SP para Ciro, a desvantagem é que não tem muito a oferecer em troca.

A aposta de Ciro em Santana tem a controvérsia de aderir ao modelo "marqueteiro" de Lula com Duda Mendonça e que Santana completou, com as grosserias a Marina. O PDT quer Marina. Santana pedirá desculpas?

Ciro não consegue alterar sua forma de ser. Reforça a imagem de descontrole e de comportamento inadequado para um presidente. Fato exaltado pelas barbaridades de Bolsonaro, mas também pelas lembranças de Collor, Dilma e Jânio.

Ciro quer debates. De fato, se destacaria. Mas, o candidato com mais conteúdo coerente, não pode falar. Tem verborragia inadequada.

Ele "mata" a vantagem. A candidatura prima pelo suicídio. Adornada por forte arrogância , que não atrai eleitores.

Rodrigo Pacheco e Simone Tebet são importantes se forem compor, adiante, com os citados candidatos.

Salvo uma agenda sensacional e surpreendente, é quase impossível que despontem como alternativa de terceira via. A inapetência de Pacheco posterga mineiramente, ele assumir a campanha. O apressado queima a boca, porém o atrasado come frio.

Moro é o que tem mais chance de evolução, goste-se ou não, porque há um desejo bastante forte de parte do eleitorado em repelir Lula e Bolsonaro. Suficiente para alçar alguém na disputa.

A terceira via está difícil, não impossível, mas se vier será avassaladora.

O voto é uma energia no ar, que se desloca com velocidade imensa, a depender de uma faísca.

A faísca é o que está faltando. Não será desconsiderando as observações contrárias, desqualificando os críticos como Bolsonaro faz, que irão conseguir.

Carecem de sustentar um sonho, uma utopia possível, uma mudança confiável. Falta coração! Falta alma!

Precisam de conteúdo crível, além das generalidades óbvias.

Até agora, não souberam fazer.