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José Luiz Portella

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Boulos vai ser ministro, aumentará a bancada do PSOL e consolida Haddad

Guilherme Boulos - Ana Paula Paiva/Valor
Guilherme Boulos Imagem: Ana Paula Paiva/Valor

Colunista do UOL

21/03/2022 12h20

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Ouvindo fontes ligadas aos envolvidos, Lula realizou mais uma boa costura para Haddad e PT. E para si. Lula não dá ponto sem nó.

Boulos dividiria votos da esquerda em SP, podendo criar o risco de Haddad não ir para o segundo turno, se Boulos crescesse muito. Difícil, mas possível.

Haddad, agora, mais do que nunca, se coloca como o candidato que aguardará a disputa entre Rodrigo Garcia e Tarcísio, para saber o adversário do combate decisivo no turno final.

Além disso, vai propiciar ao PSOL uma bancada inédita em tamanho, que consagrará o partido na Câmara Federal e ajudará Lula na formação de base aliada independente do Centrão. Boulos vai estimular o resto do PSOL no país.

Boulos também foi esperto e guardou o ego para a eleição municipal em SP, onde virá avassalador, com a obrigação do PT o apoiar e com o trabalho que fizer como ministro.

Boulos agora depende de Boulos para a prefeitura. Até agora não exerceu cargos, vai precisar mostrar desempenho no ministério. Se for ministro da Cidadania, irá ser cruel com o mercado e a direita.

Ou seja, Lula fez jogada de xadrez, que implicará repercussões em várias jogadas adiante.

O movimento de Boulos também empurra Márcio França para definição, e ele está sendo empurrado para a vice, embora possa escolher o Senado. Porém, no Senado, como não é favorito, arrisca ficar sem cargo, sentado à beira do caminho. Transformar-se em assessor de Alckmin no Jaburu. Provavelmente, no caso, a cuidar de admirar o crepúsculo espetacular de Brasília.

França, vice, terá possibilidade de escalar novamente caminho para ser candidato a governador, se ganhar. Também há risco, mas menor, e ele senta numa cadeira segura.

Boulos agora vai trabalhar para uma votação formidável na capital, preparando terreno, sobretudo entre os jovens de faculdade de orientação à esquerda.

Como tudo tem os dois lados, a decisão de recuo de Boulos, a exibir humildade, por consequência lhe propicia maior autoridade para pressionar Lula por uma agenda mais à esquerda, com o reforço ao desejo de rever reforma trabalhista, ter o MST e o MTST se tornando agentes políticos importantes no governo. Má notícia para o mercado, que sempre sonha abduzir o presidente eleito, via sua força natural na economia.

Ficará bem mais complexo. Isso também deverá se refletir, se depender de Boulos, no travamento de processo mais amplo de reforma administrativa. E impulsão da taxação dos mais ricos, tanto pelos dividendos, como pelo IR. Além de reforma tributária menos pró mercado. Reconhecer não é torcer.

Em síntese: foi uma ação com mais impacto do que a maioria imagina. Não foi questão isolada ao Estado de SP.

Vai suscitar também um encolhimento do papel de Alckmin, pela união de Boulos e dos resistentes do PT.

Alckmin, creio, não pensou nisso. Supôs só o lado açucarado do cargo, do doce, esqueceu que ele engorda.

Com a definição de Boulos, ocorrerá outro fenômeno na disputa em São Paulo: Haddad ficará mais confortável pra trabalhar o eleitorado do centro para a esquerda. Garcia e Tarcísio disputarão agudamente do centro para a direita. Terão que dedicar mais tempo a isso.

O que altera a dinâmica da eleição. O adversário a ser derrotado por Garcia é Tarcísio e vice-versa, os ataques irão nessa direção, revivendo um Doria x Bolsonaro, mutatis mutandis.

Não era o melhor para Rodrigo Garcia. Ele terá que ter como alvo principal o eleitorado mais conservador, e depois pensar no eleitorado do centro à esquerda, que poderia destacá-lo de Tarcísio mais celeremente, construindo sua ascensão.

Ele até pode efetuar campanha nesse público, mas necessitará priorizar o mais conservador , senão Tarcísio toma conta e se apresenta como a real chance de derrotar o PT. Por esta grande marca, por este conceito de ser o campeão para derrotar o PT, que ambos concorrerão. São Paulo, no todo, não acolhe o PT.

Pelos históricos de São Paulo e de Haddad, quem incorporar a "persona" de derrotar o PT, deverá ser o favorito no segundo turno.

A jogada de Lula no xadrez político foi de Grande Mestre para ele, PT e Haddad. um agregado que se confunde. Lula é o centro dessa estrutura de Poder.

Se Haddad vier a ganhar, precisa erguer dois bustos em sua casa: de Lula e de Boulos.

Boulos deu um salto na política, porque fez o que não é comum, retirou seu ego da decisão.

É ótima lição para os candidatos da terceira via. Se Tebet, Doria e Moro fizeram isso e se unirem, vão dar trabalho. Se não, vão deambular entre o traço e 5%.

Um bom psicanalista seria o assessor mais importante para eles.

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