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José Luiz Portella

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Saiba quem é o novo interlocutor de Lula para a área econômica

Gabriel Galípolo, presidente do Banco Fator - Reprodução / Reinaldo Canato/Folhapress
Gabriel Galípolo, presidente do Banco Fator Imagem: Reprodução / Reinaldo Canato/Folhapress

Colunista do UOL

06/04/2022 07h29

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O saldo dos encontros de Gleisi Hoffmann, em nome do PT e avalizada por Lula, com empresários resume-se em: resistência, abertura de diálogo e nascimento de um novo canal de interlocução.

A conversa foi sempre franca, direta, onde as convergências e antagonismos não foram implícitos.

A bancada do PT nas conversas —Gleisi e o economista Gabriel Galípolo— sentiu que há muitos empresários que ainda restam alinhados com Bolsonaro, mas, tantos esses como os descolados de Bolsonaro, elogiaram a abertura do diálogo. Empresário sempre vai conversar com o governo, seja qual for. O poder conversa com o poder.

Por isso, Gleisi também esteve lá, ciente de que alguma construção de pontes cabe ser feita.

Gleisi foi descrita como uma leoa pelos empresários. Embora abrisse canais de comunicação, nunca deixou de dizer a quem representava e como o faria.

Em todas as considerações após o evento, os empresários, mesmo os mais recalcitrantes, apreciaram o novo interlocutor na área econômica: Gabriel Galípolo.

Não só por ter sido CEO do banco Fator e conhecer a linguagem do mercado financeiro, entendendo o papel deste na economia, mas, também, por representar algo novo, diferente dos representantes anteriores, a inaugurar a nova fase que Lula enunciou: quero governar com gente nova.

Galípolo é membro de dois conselhos na Fiesp, onde já debate com empresários. Ele defendeu uma atualização da Lei Trabalhista em contraposição a uma revisão só antagônica, havendo uma forma de trabalhadores e empresários construírem algo em comum, dentro do possível. O mundo trabalhista mudou, defende Galípolo, os CLTs estão em declínio. Existe trabalho em geral, não carteira assinada com fartura.

Galípolo entende que a função de um "trader" do mercado é buscar resultado positivo para as respectiva instituição e que fazer negócio não é anátema de uma sociedade que busca também diminuir a desigualdade.

Galípolo não é banqueiro tradicional, entrou para o Fator em 2016, transformou-se em CEO em 2017, pela determinação e inquietude em busca de resultados.

Estreou no serviço público ainda muito jovem como meu assessor, quando fui Secretário da Secretaria de Transportes Metropolitanos, tendo seguido para a vida privada com a modelagem econômica de sistemas de transporte por sua empresa, a linha 6-laranja foi uma delas, época em que teve bastante contato com Geraldo Alckmin.

Começou com um mestrado em economia e aulas na PUC-SP. É palmeirense verde-roxo. Não tira o pé de divididas, é filho de uruguaio charrua.

Gabriel é falante, tem boa articulação e conteúdo econômico, que tende para o heterodoxo, sem ser fundamentalista. Tem uma grande parceria literária com Luiz Gonzaga Belluzzo, outro palmeirense fanático, com quem escreveu vários livros e artigos, inclusive para o jornal Folha de S.Paulo, onde realizou intenso debate com o economista Alexandre Schwartsman, que mais adiante pode se reproduzir.

Schwartsman discorda de Galípolo nas questões de inflação, âncora fiscal e visão do papel do estado. Alexandre defendeu tese sobre o 2º Plano Nacional de Desenvolvimento.

Ascensão e queda do Leviatã

Ambos podem propiciar um debate bastante esclarecedor de caminhos, por canais opostos, para o crescimento do país. Oferecendo alternativas diversas.

Gleisi fez o papel de uma militante e mulher, com forte opinião e personalidade.

Lula é atraído por isso, sua mãe, dona Lindu, Eurídice Ferreira de Melo, era mulher forte e tenaz na educação dos filhos. Lula diz que nasceu para a Presidência da República, quando ela o pegou pela mão e fez longo percurso a pé para matriculá-lo no Senai.

Dona Marisa, que Lula conheceu no sindicato, também era mulher de forte personalidade, assim como sua assessora Rose, e Dilma chamou a atenção de Lula pela firmeza e assertividade, além da lealdade.

Conta que Lula, nos tempos de sindicato, a princípio distante da política sindical, era um líder da turma do futebol, e em eleição apertada, o seu irmão Frei Chico, este politizado desde o início, chamou Lula para trazer os "alienados do futebol" para votarem e, com isso, decidiu a eleição.

Começava a carreira sindical de Lula, através do departamento que cuidava das viúvas, onde Lula teria conhecido dona Marisa, considerada uma "galega brava".

FHC, que o conheceu nas greves de São Bernardo, sempre sustentou que Lula nunca foi comunista ou socialista.

Apreciem ou não os velhos economistas da Unicamp, que servem ao PT, Galípolo é uma estrela ascendente, com possibilidade de ser importante auxiliar de Lula na área econômica.

É tudo o que Lula curte no momento: ter jovens inteligentes, bons de conversa, capazes de atrair os interlocutores e gente nova com passagem por e visão de mercado.

Galípolo não é um "banqueiro", um executivo de banco de carreira, como se aludiu, começou em 2016, mas como economista que estuda há tempos a economia brasileira, pegou rápido.

Certamente terá oposição interna, pois o PT é pródigo em dissidências, embates dentro do partido e cissiparidade interna.

Contudo, é óbvio que nasce uma estrela, que tem boa relação com Gleisi e Haddad. Galípolo vai submergir por um tempo, para preservar Lula.

Creio, pelo que acompanho, que Lula não vai deixar Haddad tomar Galípolo, se Haddad vencer as eleições em São Paulo.

Não basta ter talento, é preciso estar no lugar certo, na hora certa, como um bom centroavante.

Galípolo está na área.