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José Luiz Portella

REPORTAGEM

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Radicalização do PT sobre reforma tributária é fogo amigo contra Galípolo

Gabriel Galípolo, presidente do Banco Fator - Reprodução / Reinaldo Canato/Folhapress
Gabriel Galípolo, presidente do Banco Fator Imagem: Reprodução / Reinaldo Canato/Folhapress

Colunista do UOL

14/04/2022 10h42

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Dirigente do PT de linha antimercado afirma em off que a radicalização quanto à reforma trabalhista, a proposta de revogar tudo, contra a hipótese de aprimoramento, que seria modificar parte dela conversando com o mercado, foi tomada também para enfrentar a influência de Gabriel Galípolo, economista que ascendeu junto a Lula exatamente por sua capacidade de conversar com o mercado.

O PT, apesar de se unir na votação a Lula, é um oceano de divergências e lutas internas. Desde ideologia à luta pelo poder.

Galípolo é visto como alguém pró-mercado e a turma mais antiga, sobretudo a ligada a Unicamp, com exceção de Belluzo e outros poucos, resiste ao encaminhamento de articulação estado e mercado, que creem, Galípolo defende. Eduardo Moreira atua na mesma linha de Galípolo e cita também Guilherme Melo, outro economista da Perseu Abramo, que já entrevistei.

Os mais antigos e antimercado sentem-se como quem levou Lula até a cadeira e não irão sentar ao lado dele. Abrindo espaço para "gente nova", que é o que Galípolo significa para Lula.

Lula não quer colidir com o mercado totalmente, deseja ter alguém que faça o meio campo, e negocie. Lula é um negociador nato, negociava com patrões em São Bernardo e a ala mais à esquerda do PT sempre reclamou disso. Mas, como Lula era a ponta de lança para todos alcançarem o poder, suportavam ora resignados, ora resmungando.

O PT enfrenta grande desafio existencial: precisa se unir para tentar vencer no primeiro turno, e não sofrer as intempéries de um violento segundo turno, sentando logo na cadeira do poder e, simultaneamente, pela aproximação real deste poder, não consegue evitar a disputa por espaços futuros, que o enfraquecem, e o remete a um segundo turno indesejado.

Galípolo tem dito em suas palestras que por não vivermos mais em uma sociedade fordista, as relações do trabalhador com o empregador mudaram e precisam ser aprimoradas, exatamente para dar "proteção social" ao trabalhador. Mas, ofertando algo novo à relação celetista. Não é fácil defender isso no âmbito de esquerda, mas é uma realidade.

Galípolo afirma nas palestras que 40% , hoje, são informais, mais os PJs e aqueles que aparecem como sócios em empresas com escassas ações , mas não sócios de verdade, o fazem para a empresa fugir de encargos, vão criar massa de cidadãos que adiante não terão aposentadoria e outros benefícios, e que isso voltar-se-á para o Estado. Seria ilusão pensar de outra forma.

Quando as coisas mudam, é preciso mudar de ideia. Galípolo defende um aprimoramento da reforma trabalhista à luz desta necessidade, parte do PT rejeita vigorosamente.

A luta parece ideológica, mas, na prática, sobretudo, é disputa pelo Poder.

PT antimercado não quer Galípolo ministro.

Ele precisará escolher entre defender o que pensa e ter muitos opositores fortes ou se calar e atuar na hora que puder.

Penso que pelo temperamento, pela personalidade combativa, herdada do pai, uruguaio simpatizante dos montoneros, não irá se encolher.

Lula vai ter que escolher.