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A bolha dos prefeitos, quando acordarem será tarde
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O belicoso quadro nacional, sobretudo causado por Bolsonaro, toma conta da mídia quase integralmente.
As eleições para governador, a seguir, em escala de relevância, ocupam o que resta do espaço para o clique.
Mais adiante ainda sobrará algum pouco espaço para os senadores, senhores importantes. O Senado Federal renovará um terço das cadeiras.
Resultado: os prefeitos estão enclausurados em uma bolha, que os retira da mídia. Aparecem só em grandes catástrofes, com imagem chamuscada ou arrasada.
Prefeitos não dão clique, atualmente. Assuntos sobre prefeituras, excluindo desgraças, não despontam. A mídia é minimalista.
Para alguns prefeitos, isso aparenta alívio. Em parte é, só que a moeda tem dois lados.
Quando acordarem, no alvorecer da luz da mídia, provavelmente a partir de março de 2023, após formação do novo ministério e das eleições das Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, estarão há 18 meses do pleito municipal, sem condições de recuperarem o tempo perdido.
Poucos prefeitos estão observando isso, e seguem como um barco que se arrasta sobre as ondas, puxado por um navio maior.
Como dizia Montoro, o ser humano mora no município. Estado e União são figuras jurídicas.
As cidades nunca tiveram tanto dinheiro, dadas as circunstâncias do Covid, aumento da arrecadação pela inflação e outras ações do governo federal.
Os alcaides podem escolher o que fazer, nas cidades grandes que estão com caixa repleto. Caso de São Paulo.
A pressão para gastos vem dos vereadores, como é natural, de uma forma não estruturada, bem Brasil, fragmentada, cada um lutando por si, sem olhar o todo.
Embebidos nessa onda, muitos prefeitos estão descurando das prioridades e atendendo o que lhes encanta e o que os vereadores que aprovam seus projetos desejam.
Não há grandes bandeiras, o combate à pobreza inexiste, e não há marca nem síntese nos projetos da administração.
Quase tudo é feito como um retalho que formará uma colcha, sem harmonização. As cidades não têm foco, nem estrutura gerencial montada para dar a devida conta de seus problemas.
Não basta saber quais são os problemas, e até avançar na elaboração de projetos para atacá-los, é necessário que a equipe da prefeitura tenha treinamento suficiente para tocar os projetos do elenco.
Outra coisa: não basta listar projetos, como alguém que faz um rol de lugares, que gostaria de conhecer em viagens. É preciso que os projetos, somados, tenham uma síntese, que supere um grande problema.
Como JK, que estabeleceu a industrialização pesada no Brasil. Como a eliminação da extrema pobreza, a solução do transporte público, ou um nível de educação e saúde que alcance patamar notável, para a cidade.
Mas, os prefeitos dormem numa bolha protetora, como uma cabana no Ártico, que um dia o vento vai levar. E, o frio chegar.
Falta a muitos deles discernimento para isso, para entender o contexto em que estão submetidos, há também um traço de falta de capacidade cognitiva para entender os movimentos das respectivas cidades no sentido das aspirações de momento. Ignorância das necessidades ou de como compor ação conjunta para enfrentá-las.
Sempre há um conjunto de questões políticas, econômicas e sociais que diferenciam cada município de grande porte, sem embargo de todos viverem ambientes comuns. Todavia, nunca, um está totalmente alinhado com o outro.
Um bom exercício seria os prefeitos confrontarem suas agendas com as metas e verificarem se estão, de fato, dedicando-se ao que se propunham. Há muitos desvios. Perda de tempo.
São as escolhas feitas dos respectivos tempos, que indicam o que de fato priorizam. As metas da gestão.
Outra coisa, seria confrontar as horas produtivas.
Prefeitos , como governadores e presidente, gastam muito tempo com solenidades e reuniões infrutíferas, para constar na agenda.
Quantas horas, eles ocuparam com o problema X e como este está se encaminhando. Este controle gerencial, raramente existe. Cada um vai fazendo o que deseja, sem noção do produto que está erigindo.
Administrar não é só dar ordens e comparecer a eventos festivos. O Prefeito tem que mensurar o que está fazendo.
A bolha em que estão metidos proporciona uma falsa sensação de segurança e distância dos problemas.
Quando eles chegarem, pode ser tarde e frustrante.
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