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José Luiz Portella

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Bruno, Dom, Lula, Bolsonaro, Tebet, STF, tudo junto e misturado e cínico

O jornalista inglês Dom Phillips, colaborador do jornal The Guardian, e o indigenista brasileiro Bruno Araújo Pereira  - Foto@domphillips no Twitter e Bruno Jorge/ Funai
O jornalista inglês Dom Phillips, colaborador do jornal The Guardian, e o indigenista brasileiro Bruno Araújo Pereira Imagem: Foto@domphillips no Twitter e Bruno Jorge/ Funai

Colunista do UOL

13/06/2022 09h18

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Infelizmente o pior parece que aconteceu. Ainda há uma tênue esperança, enquanto não se confirma o encontro dos corpos.

O caso de Bruno e Dom, além da tragédia humana, desenreda a peça que vivemos. Depois de Genivaldo, outra execução, que será aceita pela sociedade, com a mesma servidão.

A culpa é da hipocrisia, que permitimos existir e se impor entre nós, na nossa sociedade. O Brasil é um país afetivo, cálido e cínico.

Vejamos o que aceitamos:

1- Por trás da falsa argumentação da liberdade e da autodefesa Bolsonaro imprime um clima que estimula a violência, a hostilidade e o comportamento primitivo animalesco contra o adversário.

Isso desemboca no que aconteceu com Bruno e Dom, passando por Genivaldo e o orgulho da polícia repressora.

2- Lula nos conta uma história sobre as barbaridades de Bolsonaro, a volta à civilização, até pediu desculpas, de passagem, enquanto isolado pelo Covid, mas, procura se desviar das condutas do PT, que quando acusado por Fux, reage dizendo que a Justiça está quebrando a parcialidade, que o PT contestou em Moro. Parcial contra, não pode, mas se o juiz, indicado pelo PT, aponta o crime de corrupção, que existiu, ele é ruim.

3- Tebet explica que é possível harmonizar os interesses da Petrobras Social, que não deve ser privatizada, e a Petrobras liberal, agindo nos preços. Não diz como.

Termina as entrevistas com aquela fala fácil e genérica. Ela diz ser liberal na economia, conservadora nos costumes e com visão social. Não esclarece como convivem atributos antagônicos, onde a forma de articulação e o equilíbrio são o ponto-chave.

4- Ciro, entre várias pregações positivas, apresenta lorotas como os estados estão todos quebrados, SP quebrado, com caixa de 53 bilhões para gastar. Utiliza a locução "dentro das melhores práticas internacionais", ou "usando a melhor literatura", para impor um programa autoritário, feito vaidosamente, por ele mesmo, que se considera um gênio da raça.

5- Moro e Doria foram farsas, que colheram o que plantaram, e se esvaíram nas próprias mentiras que assacaram para nós.

6- O STF fala em parcialidade de Moro, com orgulho de magistrado, mas não aborda a própria parcialidade, quando do próprio interesse.

Fux falou corretamente sobre a corrupção havida, assumida e com dinheiro devolvido pelos delatores, que estão em casa tomando uísque e jogando tênis, mas não esclarece algo bem complexo , como a versão corrente de que para ser escolhido teria dito ao PT: "mato no peito", referindo-se ao mensalão e outras acusações. Ele silencia, Outros ministros fazem o mesmo, no sentido de aparecerem como mocinhos da fita, quando a causa é popular, e não explicam interpretações privadas desviadas baseadas em crenças, nem o manicômio partidário ao qual nos relegaram.

7- Os empresários e as respectivas vaidades de produtores e empregadores na sociedade, vão buscar privilégios na legislação e no financiamento. Aplaudem Bolsonaro, quando se porta bizarramente, em teatro público eleitoral, empresários e mercado financeiro, se comportam a defender um interesse de classe e de enriquecimento patrocinado pelo Estado, na mesma linha dos empresários alemães que apoiaram Adolf Hitler, enquanto recebiam vantagens da indústria bélica, que estava sendo montada para aniquilar milhões de vida.

Lembrar que a Alemanha, um dos países mais cultos, com filósofos colossais clássicos, teve reitores, quase todos, e a Academia, permitindo as barbaridades de Hitler e calando diante do holocausto, Quem é mais culpado, Hitler ou a intelligentsia covarde?

8- O Poder Legislativo, com a mandraca de Arthur Lira, que aparece como um ínclito senhor em New York, opera o Orçamento Secreto, age em Alagoas como coronel, e o Rodrigo Pacheco, o óbvio, não agiliza nada e está sempre a busca de arranjo, que não se estabelece.

9- O Poder Judiciário atua com veemência aparente em busca de Justiça, e sai a defender privilégios inomináveis, como auxílio-moradia, combinado com dois apartamentos próprios no Leblon e férias de 60 dias.

A PF, a Marinha, o Exército, com seus vetores, como disse o Comandante Militar da Amazônia, se embrenham na procura por Bruno e Dom, sem encontrar, por ora, enquanto o governo estimula o comportamento violento dos garimpeiros e homens do agronegócio.

!0- O Agro é Pop, o Agro é Tech, o agro é Tudo, inclusive Violento, Reacionário e Armamentista, com escassas e honrosas exceções.

Todos atuam cinicamente. Se fazem assim, e se conservam no Poder, não são os únicos vilões e culpados, é preciso que a sociedade, eu, você, nós, suscitemos as possibilidades, para serem hipócritas assim.

Ninguém dos políticos criticados colheria votos se a sociedade, não lhes desse guarida. A moeda do político é o voto.

Não é possível saudar Bolsonaro, só porque Lula é ruim e Dilma um desastre, criado por Lula.

Não é possível saudar Lula, só porque Bolsonaro é uma hecatombe. Criada pelo PT.

Não é possível saudar a terceira via, só porque os dois são pecadores.

Precisamos mudar de atitude.

E parar de colocar a culpa só nos outros.

Pobreza não dá clique, no Brasil varonil, indignado com os políticos.

Pobreza aqui é tão estrutural quanto o racismo.

É um racismo contra os pobres.