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José Roberto de Toledo

REPORTAGEM

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Piso de votos de Lula cresce e fica oito pontos acima do teto de Bolsonaro

Lula amplia vantagem sobre Bolsonaro - Ipec -                                 RICARDO STUCKERT E ISAC NóBREGA/PR
Lula amplia vantagem sobre Bolsonaro - Ipec Imagem: RICARDO STUCKERT E ISAC NóBREGA/PR

Colunista do UOL

13/09/2022 02h47

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O quadro pintado pela pesquisa Ipec a 20 dias da votação do 1º turno é um soco no fígado da campanha de Bolsonaro à reeleição. O presidente bateu no teto e ainda viu Lula oscilar para cima. Praticamente todos os números são negativos para o presidente:

  • Lula voltou a ter 51% dos votos válidos, o que lhe dá chances reais de ser eleito já no 1º turno. Ele tinha 49,5% dos válidos há uma semana.
    • Votos válidos são aqueles dados a candidatos. Para se eleger, um candidato precisa de 50% dos válidos mais um voto.
  • A reversão da tendência de queda de Lula nos votos válidos ocorreu porque o petista oscilou para cima e a soma das intenções de voto de seus adversários oscilou para baixo.
  • Nos votos totais, que incluem brancos e nulos, Lula foi de 44% para 46%.
    • Já a soma de Bolsonaro, Ciro Gomes, Simone Tebet e demais rivais de Lula oscilou de 45% para 44%.
    • Isso mostra que passou o efeito debate que havia inflado as taxas de Ciro e Tebet após o encontro promovido por UOL, Band, Folha e TV Cultura duas semanas atrás: agora, Ciro oscilou de 8% para 7%, e Tebet ficou com 4%.

Não são apenas os números que são ruins para os bolsonaristas. O impacto político da pesquisa também é. Bolsonaro ficou com a mesma taxa, 31%, que tinha antes do seu maior evento de campanha até aqui, as comemorações do Sete de Setembro.

  • Isso indica que sua estratégia de campanha não está funcionando. Bolsonaro continua pregando apenas para convertidos e não consegue avançar sobre eleitores de Lula nem sobre eleitores indecisos.
  • Ao mesmo tempo, Lula consolidou seu eleitorado. O petista cresceu 4 pontos na espontânea em duas semanas, de 40% para 42% e, agora, para 44%.
    • Metade do crescimento de Lula na espontânea veio dos indecisos, e a outra metade, de quem dizia votar em branco ou anular.
    • Eleitores espontâneos não precisam ver o nome do candidato na cartela para escolhê-lo, ao contrário: 44% têm o nome de Lula na ponta da língua. É mais difícil eles mudarem de opinião do que os outros 2% que só passam a declarar voto no petista após verem seu nome na cartela.

Mesmo que a eleição vá para o 2º turno, as chances de vitória de Bolsonaro parecem limitadas por um teto de votação muito baixo e que não cresce há semanas:

  • Menos eleitores aprovam seu governo hoje (35%) do que uma semana atrás (38%).
  • A taxa de rejeição a Bolsonaro cresceu quatro pontos, de 46% para 50% no último mês, enquanto a de Lula oscilou de 33% para 35%.
  • Na simulação de 2º turno, Bolsonaro oscilou de 37% para 36% nas últimas semanas, ao mesmo tempo em que Lula foi de 50% para 53%.
  • Bolsonaro está entalado entre seus 30% de eleitores convictos (espontânea) e os 36% que poderiam votar nele contra Lula (taxa da simulação de 2º turno).

A conclusão é que a estratégia de Bolsonaro falhou duplamente até agora: não conseguiu aumentar seu estreito potencial de voto nem alcançou diminuir o teto de Lula.

  • Mesmo baixando preços controlados pelo governo, aumentando o valor do Auxílio Brasil e distribuindo bolsas e subsídios para segmentos específicos como caminhoneiros, Bolsonaro não estendeu seu eleitorado para além de quem já votava nele um mês atrás.
  • A campanha negativa contra Lula também teve efeito limitado:
    • A rejeição ao petista cresceu de 33% para 36% num primeiro momento, mas parou por aí e oscilou negativamente para 35% na última semana.
    • Na simulação de 2º turno, Lula foi de 50% para 52% na semana passada e chegou a 53% agora.
    • Ou seja, o teto de Lula cresceu (tem 46% e pode chegar a 53%), enquanto o de Bolsonaro continua apertado (tem 31% e pode chegar a 36%).

O saldo da desastrada estratégia bolsonarista é que o piso de votos de Lula está oito pontos mais alto do que o teto de Bolsonaro. O limite inferior de votos do petista é 44% (taxa na espontânea de 1º turno) enquanto o limite superior do presidente é 36% (estimulada do 2º turno). Duas semanas antes a diferença era de três pontos (40% a 37%).

A agenda de Bolsonaro para os próximos dias é mais do mesmo: falar a entrevistadores amigos em canais assistidos por seus eleitores cativos. É a receita da derrota.